Qua, 03 de Outubro de 2012 13:39 por: cnbb
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
No domingo, 7 de outubro, o papa Bento 16 vai abrir a 13ª. Assembleia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma. Até dia 28 de outubro, cerca de
170 bispos do mundo inteiro, representando as conferências episcopais, além de
outros, especialmente convocados pelo Papa, estarão refletindo sobre o tema “A
nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.
Também participarão, como convidados, representantes do clero, das
organizações dos leigos, da Vida Consagrada Religiosa e de várias instituições
da Igreja, além de peritos sobre os temas tratados. No final de três semanas de
muito ouvir, de intensa união de esforços em vista de um caminho comum da
Igreja (“sínodo” significa isso!), espera-se que a assembleia sinodal possa
apontar caminhos para uma renovação da evangelização e da transmissão da fé.
De fato, duas são as questões postas pelo tema: a evangelização e a
transmissão da fé cristã. Ambas são dependentes e relacionadas entre si. A
Igreja tem consciência de que sua missão é evangelizar, ou seja, proclamar e
testemunhar ao mundo o Evangelho do Reino de Deus. E isso, com o objetivo de
despertar nas pessoas a atenção e o interesse pelo Evangelho e de ajudá-las a
chegar ao ato de fé. Essa é a razão de ser da evangelização: ajudar a chegar à
fé cristã, transmitir esta fé aos outros, com a ajuda da graça de Deus.
Nem sempre esse objetivo é alcançado. O semeador tem a consciência de
que sua missão é lançar as sementes à terra; ele faltará para com sua tarefa se
deixar de o fazer; ele sabe de antemão que muita semente preciosa cairá em
terreno duro, entre espinhos, ou sobre as pedras; nem por isso ele não deixa de
semear. E também vai animado pela esperança que muita semente cairá em terreno
bom e acabará produzindo o fruto esperado...
Por qual motivo esse tema foi escolhido para a 13ª Assembleia Geral
Ordinária do Sínodo dos Bispos? As explicações podem ser diversas; mas é certo
que há uma séria crise na evangelização e na transmissão da fé em nossos dias,
em várias partes do mundo. Há falhas na evangelização, por ser insuficiente,
inadequada, ou desfocada; e quando a proclamação da Boa Nova não é feita bem,
os frutos não aparecem.
Talvez os evangelizadores não estejam sendo bastante convincentes, por
várias razões; ou os ouvintes não estão interessados e não conseguimos
interessá-los; talvez o momento cultural (“mudança de época”...) não está sendo
propício para o anúncio sério e frutuoso do Evangelho... Nada disso, porém,
pode justificar a cessação do processo evangelizador. É preciso continuar a
buscar uma saída, a contar com a graça de Deus, mais poderosa que nossos
discursos e métodos. A evangelização não pode parar, pois seria a falência da
missão que a Igreja recebeu de Cristo.
Além disso, a transmissão da fé está sendo fraca, ou está até mesmo
sendo interrompida em muitas situações e lugares. É bem sabida a dificuldade
que os pais, mesmo fervorosos, têm para transmitir a fé aos filhos; e quando as
novas gerações não abraçam mais a fé, deixam de receber o sacramento do
Matrimônio e de formar uma família cristã, constituída sobre as bases da fé e
da vivência cristã, quando deixam de pedir o Batismo para os filhos e de os
apresentar para a Catequese de iniciação à fé e à vida cristã, estamos diante
do fato lamentável da interrupção do processo da transmissão da fé, de geração
em geração; e os casos não são raros! Estamos diante de um “novo paganismo”,
que nasce e se desenvolve, muitas vezes, dentro dos próprios ambientes
católicos. Esta questão é muito grave e desafiadora para a missão da Igreja!Os
motivos por que isso acontece são muitos e não devem ser atribuídos
apressadamente à culpa de quem quer que seja. Não se trata de achar culpados,
mas de agir adequadamente. A análise das causas ajuda a entender o fenômeno,
que se passa debaixo de nossos olhos; mas a simples compreensão do fenômeno,
por muito que seja importante, ainda não é a solução.
Não há mistérios nem fórmulas mágicas. Passou o tempo em que a fé era
transmitida espontaneamente e vivida no ritmo da tradição e da pressão social.
A questão toda é evangelizar de novo e fazê-lo bem. Ou a Igreja retoma com
vigor a evangelização, feita de muitas maneiras; ou então, a fé deixa de ser
transmitida. É como fechar um registro: a água não passa mais...
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