terça-feira, 9 de outubro de 2012

Reflexão: Boa leitura após as Eleiçoes


Seg, 08 de Outubro de 2012 15:14 por: cnbb

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil

No dia de hoje, nosso povo estará saindo de casa para votar. Já há algumas semanas, os sinais das eleições encontram-se em toda a parte: dentro de casa, via televisão, jornais e rádio; fora de casa, diante da imensa quantidade de “outdoors”, placas, cartazes, faixas, “santinhos” etc. Imagino seu cansaço, senhores candidatos (adianto logo que nessa expressão incluo também as senhoras candidatas...); penso que tal cansaço é tão grande quanto a esperança de cada um ser eleito e dos gastos que alguns fizeram. Sei que não é fácil apresentar-se à população sem multiplicar promessas (muitas das quais os senhores mesmos sabem que não poderão cumprir!), sem repetir velhos chavões ou sem mostrar o sorriso confiante de quem está certo da vitória. O pior é que enfrentam o desafio que uma revista semanal intitulou de “credibilidade em baixa”, ou seja: entre várias instituições apresentadas ao eleitor para que elegesse quem contribui muito e quem contribui pouco para o bem do país, a classe política tirou um dos últimos lugares. Isso é lastimável. Afinal, como pensar em uma sociedade justa e fraterna, sem a política e sem políticos confiáveis?


Entrando em contato com milhares de pessoas ao longo da campanha, os senhores devem ter notado que há um certo cansaço em nosso povo. Um cansaço que tem crescido diante de promessas não cumpridas e de notícias em que fica claro que, para alguns políticos, “o importante é levar vantagem em tudo”. Claro que não são os políticos os únicos culpados por tudo o que existe de errado em nosso país! Longe disso! No entanto, como são os que mais criam expectativas, é natural que sejam também os causadores das maiores decepções.

É preciso mudar esse quadro, porque é necessário mudar a realidade. Não podemos permitir que a sociedade brasileira continue excluindo muitos de seus cidadãos daquilo que deve ser básico na vida de todos. É doloroso constatar que, em matéria de concentração de renda (e de impostos!), somos superados por poucos países. Precisamos de um novo modelo de sociedade, modelo que se baseie nas exigências éticas da sociedade humana e na extensão da cidadania efetiva a todos os brasileiros, sem exceção. Uma sociedade em que todos os cidadãos participem corresponsavelmente no empenho pelo aperfeiçoamento social e na qual o Estado – isto é, a nação politicamente organizada – assuma sua função de promover o bem comum. Em palavras mais diretas: não é o povo que deve viver em função dos políticos, mas estes é que devem estar a serviço do povo, possibilitando-lhes melhores condições de vida.

É uma utopia? Se fosse – e tomo, aqui, um dos sentidos que o “Aurélio” dá a essa palavra: “projeto irrealizável; quimera; fantasia” –, seria um atestado puro e simples de fracasso da democracia. Ora, um rápido olhar para alguns países é suficiente para constatarmos que neles a sociedade conta com instrumentos e mecanismos que lhe dão condições de controlar as decisões de interesse coletivo; países que, por isso mesmo, dispõem de meios para avançar sempre mais rumo à justiça e à efetiva participação de todos.

Estou convicto, senhores candidatos, de que precisamos continuar sonhando com um país justo e fraterno, pacífico e solidário. Mas, por favor, ajudem-nos a concretizar esse sonho! Muitos brasileiros já não têm mais esperança em seus representantes e farão dessas eleições uma forma de protesto – ingênuo e falho, é verdade, já que, não votando, anulando seu voto ou votando em branco estarão contribuindo para que os medíocres consigam  espaço político. Há outros que, teimosamente, sonham com um Brasil para todos.

Por favor, candidatos que forem eleitos, tomem consciência de sua grave responsabilidade perante o povo, a História e Deus. O povo poderá esquecer-se dos que o prejudicarem. A História nem sempre é objetiva em seus julgamentos. Já o Senhor do povo e da História pedirá contas a cada pessoa de seus planos e atos – e pedirá contas especialmente da maneira como exerceram a autoridade que receberam de Suas mãos.

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