Seg, 08 de Outubro de 2012 15:14 por: cnbb
Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil
Arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil
No dia de hoje, nosso povo estará
saindo de casa para votar. Já há algumas semanas, os sinais das eleições
encontram-se em toda a parte: dentro de casa, via televisão, jornais e rádio;
fora de casa, diante da imensa quantidade de “outdoors”, placas, cartazes,
faixas, “santinhos” etc. Imagino seu cansaço, senhores candidatos (adianto logo
que nessa expressão incluo também as senhoras candidatas...); penso que tal
cansaço é tão grande quanto a esperança de cada um ser eleito e dos gastos que
alguns fizeram. Sei que não é fácil apresentar-se à população sem multiplicar
promessas (muitas das quais os senhores mesmos sabem que não poderão cumprir!),
sem repetir velhos chavões ou sem mostrar o sorriso confiante de quem está
certo da vitória. O pior é que enfrentam o desafio que uma revista semanal
intitulou de “credibilidade em baixa”, ou seja: entre várias instituições
apresentadas ao eleitor para que elegesse quem contribui muito e quem contribui
pouco para o bem do país, a classe política tirou um dos últimos lugares. Isso
é lastimável. Afinal, como pensar em uma sociedade justa e fraterna, sem a
política e sem políticos confiáveis?
Entrando em contato com milhares de
pessoas ao longo da campanha, os senhores devem ter notado que há um certo
cansaço em nosso povo. Um cansaço que tem crescido diante de promessas não
cumpridas e de notícias em que fica claro que, para alguns políticos, “o
importante é levar vantagem em tudo”. Claro que não são os políticos os únicos
culpados por tudo o que existe de errado em nosso país! Longe disso! No
entanto, como são os que mais criam expectativas, é natural que sejam também os
causadores das maiores decepções.
É preciso mudar esse quadro, porque é
necessário mudar a realidade. Não podemos permitir que a sociedade brasileira
continue excluindo muitos de seus cidadãos daquilo que deve ser básico na vida
de todos. É doloroso constatar que, em matéria de concentração de renda (e de
impostos!), somos superados por poucos países. Precisamos de um novo modelo de
sociedade, modelo que se baseie nas exigências éticas da sociedade humana e na
extensão da cidadania efetiva a todos os brasileiros, sem exceção. Uma
sociedade em que todos os cidadãos participem corresponsavelmente no empenho
pelo aperfeiçoamento social e na qual o Estado – isto é, a nação politicamente
organizada – assuma sua função de promover o bem comum. Em palavras mais
diretas: não é o povo que deve viver em função dos políticos, mas estes é que
devem estar a serviço do povo, possibilitando-lhes melhores condições de vida.
É uma utopia? Se fosse – e tomo, aqui,
um dos sentidos que o “Aurélio” dá a essa palavra: “projeto irrealizável;
quimera; fantasia” –, seria um atestado puro e simples de fracasso da
democracia. Ora, um rápido olhar para alguns países é suficiente para constatarmos
que neles a sociedade conta com instrumentos e mecanismos que lhe dão condições
de controlar as decisões de interesse coletivo; países que, por isso mesmo,
dispõem de meios para avançar sempre mais rumo à justiça e à efetiva
participação de todos.
Estou convicto, senhores candidatos, de
que precisamos continuar sonhando com um país justo e fraterno, pacífico e
solidário. Mas, por favor, ajudem-nos a concretizar esse sonho! Muitos
brasileiros já não têm mais esperança em seus representantes e farão dessas
eleições uma forma de protesto – ingênuo e falho, é verdade, já que, não
votando, anulando seu voto ou votando em branco estarão contribuindo para que
os medíocres consigam espaço político. Há outros que, teimosamente,
sonham com um Brasil para todos.
Por favor, candidatos que forem
eleitos, tomem consciência de sua grave responsabilidade perante o povo, a
História e Deus. O povo poderá esquecer-se dos que o prejudicarem. A História
nem sempre é objetiva em seus julgamentos. Já o Senhor do povo e da História
pedirá contas a cada pessoa de seus planos e atos – e pedirá contas
especialmente da maneira como exerceram a autoridade que receberam de Suas
mãos.
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