Ter, 16 de Outubro de 2012 09:23 por: cnbb
O cardeal arcebispo de São Paulo (SP),
dom Odilo Pedro Scherer, concedeu uma entrevista ao jornal O São Paulo em que
fala sobre o andamento do Sínodo dos Bispos, que acontece no Vaticano.
Acompanhe a íntegra da entrevista com o cardeal.
A 13ª Assembleia
Geral do Sínodo dos Bispos foi aberta em Roma no dia 7 de outubro, com o tema:
“nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Como se desenvolveram os
trabalhos sinodais até agora?
Esta Assembleia é a
que, até agora, reuniu o maior número de participantes; são cerca de 280
pessoas no total, das quais, uns 200 bispos. No primeiro dia, após uma breve e
bela reflexão do Papa, o Secretário Geral do Sínodo dos Bispos e o Relator
desta Assembléia Ordinária fizeram suas colocações; logo a seguir, a palavra
foi dada aos participantes, que puderam intervir por 5 minutos, cada um,
fazendo suas observações e reflexões sobre o tema; assim continuou por toda a
semana, só havendo uma pausa no dia 11, pela manhã, para a participação na Missa
de abertura do Ano da Fé. O Sínodo é um grande exercício de
escuta e discernimento da Igreja sobre o tema em questão. Quando todos os membros da Assembleia tiverem tido a ocasião de intervir na Assembleia, haverá o trabalho de grupos, para a elaboração de propostas sobre os vários aspectos do tema; as propostas, finalmente, serão votadas em plenário e entregues ao Papa, como fruto dos trabalhos sinodais.
escuta e discernimento da Igreja sobre o tema em questão. Quando todos os membros da Assembleia tiverem tido a ocasião de intervir na Assembleia, haverá o trabalho de grupos, para a elaboração de propostas sobre os vários aspectos do tema; as propostas, finalmente, serão votadas em plenário e entregues ao Papa, como fruto dos trabalhos sinodais.
A fé católica
está em crise no mundo?
Eu não diria que a fé
católica, enquanto tal, mas a transmissão da fé está em crise. E isso tem a ver
com vários fatores: a pouca clareza e formação na fé, a superficialidade na
experiência da fé, a evangelização insuficiente... Por isso, a fé deixa de ser
praticada, testemunhada e comunicada aos outros; é como acontece com uma
lamparina que não mais recebe mais óleo: pouco a pouco, ela vai se apagando.
Para superar essa crise, é preciso reencontrar os motivos da fé, o alimento da
fé e a alegria de crer. Só no renovado encontro pessoal com Jesus Cristo, que
nos revela Deus, é que podemos reavivar a nossa fé e refazer o ardor
missionário, que leva a transmitir a fé aos outros.
Quais são as
principais questões que até agora emergiram nos trabalhos do Sínodo?
São muitas; os padres
sinodais abordam com liberdade os diversos aspectos do tema do Sínodo: da crise
cultural, que cria dificuldades para a vivência e a transmissão da fé; da
necessidade de centrar a fé no Mistério de Deus revelado em Cristo Jesus; da necessidade
de uma iniciação sólida à vida cristã e de formar bem os batizados na fé
cristã; da urgência de uma catequese aprofundada ao longo de toda a vida;
fala-se também da “conversão pastoral e missionária” de toda a Igreja, das
iniciativas e ações missionárias já em andamento, da formação mais aprimorada
das vocações, do clero, dos leigos e religiosos. O tema estimula a uma reflexão
muito ampla. Fala-se também das experiências novas e bem sucedidas de
transmissão da fé, em todo o mundo; do uso dos Meios de Comunicação para uma
evangelização eficaz... Os participantes latino-americanos fazem muitas
referências à Conferência de Aparecida, que já suscitou tantas iniciativas e
dinâmicas de nova evangelização na Igreja.
Como se dá a
transmissão da fé?
A fé é um dom de
Deus, que devemos buscar e pedir com perseverança; Deus mostra o caminho da fé
para quem a procura. E a fé nasce e se alimenta na escuta e acolhida da palavra
de Deus e São Paulo chega a dizer que “a fé nasce da pregação da Palavra de
Deus”. Mas também ajuda a despertar a fé o testemunho de vida cristã das
pessoas de grande fé, como os santos, os místicos, as testemunhas da caridade
cristã; e não podemos esquecer que a fé se alimenta na oração, na Eucaristia,
na oração e na prática do amor ao próximo.
No dia 11 de outubro,
na comemoração do 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, o Papa
abriu o Ano da Fé; que relação existe entre esta comemoração do Concílio, o Ano
da Fé e o tema da Assembleia do Sínodo dos Bispos?
Há uma relação
estreita. O primeiro objetivo do Concílio Ecumênico Vaticano II, há 50 anos,
era dar um novo impulso à vivência, ao testemunho e à transmissão da fé
católica. O Ano da Fé, proclamado e aberto pelo Papa Bento XVI, tem esses
mesmos objetivos: renovar a experiência e a profissão pessoal e pública da fé,
aprofundar o conhecimento da fé e retomar o processo de transmissão da fé no
atual contexto de crise cultural e religiosa. E o objetivo da Assembleia do
Sínodo dos Bispos é rever e aprofundar a evangelização, para propiciar a
transmissão da fé. Acho que as questões estão bastante relacionadas umas com as
outras e, se as propostas do Sínodo e do Ano da Fé forem bem acolhidas e
vividas, o fruto certamente será muito bom.
O Papa também assiste
às sessões do Sínodo?
O Papa convocou o
Sínodo para ouvir os bispos e demais membros da assembleia sinodal sobre o tema
em pauta; por isso, ele está presente quase sempre nas sessões e escuta
atentamente tudo o que se diz. No final, todo o fruto dos trabalhos sinodais
será entregue ao Papa para que faça, a partir disso, a Exortação Apostólica
Pós-Sinodal.
O que esperar da
realização do Ano da Fé na Arquidiocese de São Paulo?
Antes de tudo, espero
que possamos fazer uma bela abertura em toda a Arquidiocese no domingo, dia 4
de novembro; que a Carta Pastoral – “SENHOR, AUMENTAI A NOSSA FÉ” – que escrevi
para todo o povo da Arquidiocese, seja lida por um grande número de pessoas e
as indicações ali contidas para viver o Ano da Fé possam ser acolhidas com
proveito. Ao longo do Ano da fé, espero que haja muita catequese sobre o Creio
em Deus Pai para todos os grupos e idades, e que, se possa renovar
publicamente, e de modo solene, a fé católica em várias ocasiões e com os mais
diversos grupos. Enfim, faço votos e rezo para que este tempo de graça traga
abundantes frutos de conversão e de redescoberta da alegria de crer e de
pertencer à Igreja Católica para o povo de São Paulo.
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