Qui, 25 de Outubro de 2012
13:14 por: cnbb
Dom Demétrio
Valentini
Bispo de Jales
Bispo de Jales
Foi surpreendente
a participação no Congresso Teológico Continental, realizado nas dependências
da Unisinos, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. A expectativa era de
trezentos participantes. Mas o número chegou a 750, e não foi maior por
motivo de espaço no salão das conferências.
Foram cinco dias
intensos, com programação para cada dia, alternando grandes conferências de
manhã e de noite, com oficinas temáticas, painéis diversos, e apresentação de
trabalhos teológicos na parte da tarde. Todas as atividades sempre precedidas
de momentos de espiritualidade, que aconteciam também nas celebrações
litúrgicas em horários antecipados.
Um clima de grande
interesse, de atenção às temáticas apresentadas, e de esforço de captar bem a
caminhada feita por beneméritos teólogos e teólogas da América Latina,
sobretudo a partir do processo de renovação conciliar, que
encontrou por aqui
uma generosa acolhida, mesmo em meio a contrariedades, que acabaram
caracterizando não só a renovação eclesial, mas também uma teologia própria,
que procurou acompanhar e dar respaldo à caminhada eclesial em nosso
continente.
As datas
simbólicas que motivaram a realização deste Congresso Continental situavam bem
o processo de caminhada conjunta, entre renovação eclesial e reflexão teológica.
O Congresso se situou na marca dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II,
e dos 40 anos da publicação do livro do Pe. Gustavo Gutiérrez, Teologia da
Libertação, que acabou dando nome à teologia latino americana que procurou “dar
as razões da esperança” deste Continente.
Olhando com
serenidade este processo de busca de sintonia entre vivência eclesial e
reflexão teológica, se chega a uma constatação simples, mas profunda. Toda
caminhada eclesial necessita do respaldo de um processo de reflexão, que ofereça
referências consistentes e motivações autênticas. Toda caminhada própria de
Igreja requer uma teologia própria, que dê razões adequadas para as situações
que interpelam a fé e pedem o suporte da razão.
Assim dá para
dizer que fazia o Cristo, de acordo com os relatos do Evangelho. Com frequência
ele explicava em particular as parábolas aos seus discípulos, ou se retirava à
parte com eles, instruindo-os melhor a respeito do Reino.
Assim fizeram
Paulo e Barnabé, quando se detiveram um ano inteiro com a comunidade de
Antioquia, dando fundamento consistente à incipiente vida eclesial, que em
seguida se tornaria ponto de partida para a missão no império romano.
Assim fizeram nos
primeiros séculos da Igreja, aqueles que hoje chamamos de “santos padres”, que sentiram
a necessidade de respaldar a fé cristã, que estava tomando forma explícita, com
o suporte da razão.
Daí resultaram os
primeiros grandes tratados de teologia. É bom conhecê-los, não só porque
iluminam ainda hoje nossa fé, mas para nos incentivar a fazer como eles
fizeram: na medida em que percorremos novos caminhos, e enfrentamos novas
dificuldades, precisamos refletir, colocando em ação a capacidade humana que
Deus nos deu para pensar, e desta maneira fazer brilhar melhor a fé, que
continua iluminando também as realidades próprios de nosso continente.
A urgência de
pensar a fé, a partir de nossa realidade, à luz da Palavra de Deus, em comunhão
eclesial, foi certamente um recado precioso deste grande Congresso Teológico.
Neste contexto
soam bem as palavras de João Paulo II, em carta dirigida à CNBB, em abril de
1986, afirmando bem claramente que “a teologia da libertação é não só oportuna,
mas útil e necessária”.
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