Sex, 22 de Fevereiro de 2013 09:16 por: cnbb
Dom Demétrio
Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
Estamos chegando ao dia e hora marcados
para a renúncia de Bento XVI. Na quinta-feira desta próxima semana, no
dia 28 de fevereiro, às vinte horas de Roma, Bento XVI deixará a cátedra de
Pedro, que ficará vacante, até que os cardeais elejam um novo papa.
Mesmo com a insistente divulgação do
acontecimento, parece que a notícia ainda estaria esperando confirmação, dada a
inusitada situação que dela decorreu. Mas aos poucos a inexorabilidade se
impõe: é verdade, Bento XVI decidiu renunciar!
A surpresa maior, porém, não é
produzida pelo inusitado da ocorrência. Mas pelas circunstâncias pessoais
do Papa, o verdadeiro protagonista deste acontecimento de tantas repercussões.
Ele revelou um grande desprendimento,
não se prendendo às vantagens pessoais que o cargo lhe garantia.
Foi sereno, demonstrou pela consciência
das repercussões do seu ato, e fez questão de asseverar que agia livremente,
depois de obtida a certeza pessoal da conveniência da decisão que tinha
amadurecido no confronto de sua consciência com as responsabilidades assumidas
ao ser eleito Papa.
Ele demonstrou, sobretudo, muita
responsabilidade. Estabeleceu um prazo, conveniente para a Igreja assimilar a
nova situação, e ele próprio levar a bom termo todas as decorrências do seu
ato.
Dando um prazo de 17 dias, desde o
anúncio até a efetivação da renúncia, com a autoridade adquirida com seu gesto,
sinalizou o ritmo razoável a ser observado em todas as providências a serem
tomadas.
Em síntese, a renúncia do Papa se
constituiu num precioso testemunho de coerência pessoal, e um exemplo carregado
de ensinamentos prudenciais, tão importantes no momento em que a humanidade vê
crescer, exponencialmente, o número de idosos, que precisam descobrir o bom
senso, com a sabedoria de perceber o momento oportuno, a hora conveniente, a
decisão acertada para sair de campo, e deixar o lugar para que outros o ocupem
com mais capacidade e eficiência.
Numa população que prolonga a vida, e
que ocupa as vagas, é urgente a escola da renúncia! Ela não está fora de
propósito.
Mas diante desta renúncia paradigmática
do Papa, vale a pena perguntar-nos quando e como uma renúncia se constitui em
decisão acertada, a ser efetivada com determinação.Ficando no contexto próximo
à renúncia do Papa, não é fora de propósito perguntar por que tantas renúncias
de bispos produzem tão pouco impacto, quase nenhum efeito.
Fica posta a questão: quando é que uma
renúncia é boa? No exemplo do Papa encontramos logo algumas
respostas: a renúncia precisa ser livre, não condicionada por determinações
externas, serena, e ser realizada em momento oportuno, tanto para o renunciante
como para os outros ligados a ele de alguma forma.
Não seria fora de propósito garantir um
espaço maior para um bispo renunciar, deixando-o com a possibilidade de
efetivar sua renúncia num contexto mais amplo e mais livre. Não impondo uma
data obrigatória de referência, de 75 anos. Poderia se deixar o espaço de cinco
anos para que ao longo deles o Bispo faça pessoalmente o discernimento do momento
adequado para a sua renúncia.
Sempre lembrando que não é preciso
esperar os 75 anos para renunciar. Pois dependendo das circunstâncias, o
testemunho do bispo que renuncia publicamente pode ser muito mais eficaz e
produzir inesperados frutos, que costumam brotar de ânimos generosos, como
mostrou Bento XVI.
Em todo o caso, a renúncia sempre
deveria comportar a possibilidade de viver com intensidade o que Jesus afirmou:
“Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário