Qua, 20 de Fevereiro de 2013 17:18 por: cnbb
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)
Arcebispo de Sorocaba (SP)
“O Ano da Fé nasce da percepção de que
há uma crise de fé em nosso mundo que atinge também, e fortemente, os
cristãos”. Essa crise assim vem descrita: “Enquanto, no passado, era possível
reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo
aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é
assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que
atingiu muitas pessoas”(PF, n. 2).
Elencamos alguns fatores que explicam
essa crise:
1. Os filhos, mais numerosos que hoje, viviam a maior parte no tempo sob a influência da família e todas as famílias eram mais ou menos iguais no que diz respeito à religião e aos costumes. Hoje os filhos passam a maior parte do tempo sob a influência de outras instâncias e têm contato permanente com formas de pensar e de viver diferentes daquelas de sua própria família.Tornou-se freqüente que pais cristãos se queixem de que seus filhos não os acompanham mais na prática da própria religião. Há espaços sociais e culturais que estão absolutamente fora do controle familiar onde alternativas outras, muitas vezes opostas, de como viver exercem forte influência nas novas gerações. Acrescente-se a essa mudança o espaço das redes sociais onde tudo se discute, onde se comunicam as mais variadas experiências e onde se contestam os valores tradicionais que teceram as relações sociais no regime de cristandade.
1. Os filhos, mais numerosos que hoje, viviam a maior parte no tempo sob a influência da família e todas as famílias eram mais ou menos iguais no que diz respeito à religião e aos costumes. Hoje os filhos passam a maior parte do tempo sob a influência de outras instâncias e têm contato permanente com formas de pensar e de viver diferentes daquelas de sua própria família.Tornou-se freqüente que pais cristãos se queixem de que seus filhos não os acompanham mais na prática da própria religião. Há espaços sociais e culturais que estão absolutamente fora do controle familiar onde alternativas outras, muitas vezes opostas, de como viver exercem forte influência nas novas gerações. Acrescente-se a essa mudança o espaço das redes sociais onde tudo se discute, onde se comunicam as mais variadas experiências e onde se contestam os valores tradicionais que teceram as relações sociais no regime de cristandade.
2. A industrialização, com o acelerado
e desordenado processo de urbanização, quebrou a unidade cultural religiosa que
caracterizava a sociedade de tipo rural. A migração para os centros urbanos
trouxe insegurança para a população acostumada ao ritmo lento da vida rural,
gerando também os problemas de desemprego e os bolsões de pobreza com
conseqüente desestruturação da vida familiar, propiciando o desenvolvimento do
comércio das drogas, verdadeiro flagelo social. Nesse contexto, a perda das
raízes cristãs-católicas por parte de muitos e a necessidade de encontrar
solução para as angústias emergentes de um contexto de anomia sociocultural
abriram espaço para as mais variadas propostas religiosas vistas como resposta
para as próprias aflições. Multiplicaram-se os grupos religiosos onde de certa
forma as pessoas, nessa situação, encontram abrigo, segurança e orientação para
suas vidas.
3. Uma cultura global, gestada pelo
sonho de uma felicidade fácil, a ser concretizada pelo acesso aos bens de
consumo, e um conceito de liberdade como possibilidade de satisfazer a todos os
desejos, substitui a noção de ideal que exija dedicação, espírito de sacrifício
e a procura de uma vida virtuosa bem como o empenho na construção de um mundo
melhor para todos. Nesse contexto se tornam difíceis as opções definitivas de
entrega da própria vida a uma causa ou a um ideal onde o bem do outro ou o bem
de todos seja a razão do próprio viver. A felicidade não está em encontrar uma
verdade que dê sentido à totalidade da existência e, portanto, ao viver e ao
morrer; a felicidade consiste em viver com intensidade prazerosa o momento.
Dispensa-se a questão do sentido e fica abolido qualquer tipo de escatologia,
individual ou coletiva.
4. Nesse contexto o Santo Padre chama a
atenção para o fato de que muitos cristãos se preocupam mais com “as
consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé,
considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. É preciso
observar que o Santo Padre não nega a importância dessa preocupação que, aliás,
na América Latina, ocupou amplo espaço no pensamento teológico e exerceu forte
influência em nossas práticas pastorais. Sua constatação é que chegamos a um
ponto em que o pressuposto – a fé viva – que deve sustentar a prática cristã no
mundo da cultura e da política vem se esvaziando progressivamente. De fato,
fazemos o discurso sobre a necessidade de uma cultura onde se valorize a
dignidade da pessoa e de uma prática política que valorize a vida e procure o
bem comum e nos deparamos com uma prática completamente alheia aos princípios
do evangelho. Não temos cristãos suficientemente formados e comprometidos com o
evangelho no mundo da profissão, das artes, das ciências e da política.
No Sínodo dos bispos, recentemente
realizado no Vaticano, o Card. Péter Erdö, primaz da Hungria, falando sobre a
Europa, ressaltou a "perda da memória da herança cristã" nesse
continente, com a consequente descristianização galopante, seguida de
hostilidade e de violência contra os cristãos em quase todos os países!
Referiu-se aos "direitos humanos de terceira e quarta geração... que já
não possuem laços com a visão humana e cristã do mundo nem com a moralidade
objetiva expressa nas categorias do direito natural”. A crise de fé gira em
torno da questão de Deus: sua existência e sua relação com o mundo. (continua).
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