sábado, 23 de fevereiro de 2013

O ateísmo ( I I I )



Qua, 20 de Fevereiro de 2013 16:56 / Atualizado - Qua, 20 de Fevereiro de 2013 17:11 por: cnbb

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)

“Crer em Deus não é mergulhar numa ilusão perigosa - uma alienação - por delegar a outro a direção da história?” No artigo anterior, publicado nessa coluna, refletimos sobre o
ateismo professado por alguns cientistas em nome da ciência creditando-lhe a tarefa de ir oferecendo respostas a todas as questões colocadas pela razão humana. Crer em Deus seria abdicar dessa responsabilidade.
É verdade que o avanço científico substituiu as explicações religiosas para muitos fenômenos naturais, cósmicos, biológicos, psicológicos e sociais, contribuindo para a purificar a religião, como nos lembra o Concílio Vat. II: “um sentido crítico mais apurado purifica-a duma concepção mágica do mundo e de certas sobrevivências supersticiosas, e exige cada dia mais a adesão a uma fé pessoal e operante; desta maneira, muitos chegam a um mais vivo sentido de Deus.”(GS 7).
É preciso, entretanto, esclarecer que a religião brota de questões que estão fora do alcance da pesquisa científica. São perguntas que se impõem ao espírito humano e que dizem respeito ao sentido da vida. À resposta elaborada a essas perguntas chegamos por reflexão.
A vivência religiosa  emerge espontaneamente na cultura de todos os povos como expressão de que a vida tem um sentido que nos conduz para além da morte. A vivência religiosa é espontânea. A negação de um sentido transcendente - Deus – não é a expressão de um estado original do ser humano, mas uma elaboração crítica que desqualifca a experiência religiosa como uma ilusão do sujeito humano.
Afirmamos no artigo de domingo passado que “o avanço científico com suas maravilhosas descobertas pode despertar no cientista  a admiração religiosa e o sentimento do sagrado: que grandeza é essa de inteligência e de amor escondida  na beleza do universo? Por que e para que tudo isso? Sem deixar de ser pesquisador o cientista pode se tornar também um místico.”
A experiência científica não perde seu vigor quando o cientista tem sua existência iluminada pela fé. Pelo contrário, uma nova motivação o impele a procurar respostas para os “mistérios” da natureza uma vez que sua fé em Deus Criador lhe garante antecipadamente que há uma lógica que encadeia os fenômenos do universo e que desvendar esses “mistérios” abre caminhos para melhorar nossa vida nesse mundo. Sugiro ao leitor acessar na Internet “Padre Chalao” onde encontrará um vídeo com o título “Confissão de fé de grandes cientistas”, em que cientistas famosos proclamam sua fé. Só a título de exemplo eis o que declarou Von Braun, construtor de foguetes espaciais: “Acima de tudo está a glória de Deus, que criou o grande universo, que o homem e a ciência vão esquadrinhando e investigando dia após dia em profunda adoração”.
Recentemente, em artigo publicado no Brasil, Francis Sellers Collins, geneticista estadunidense que comandou o Projeto Genoma Humano, professa sua fé. Eis parte de seu testemunho: “Tive de admitir que a ciência que eu amava era impotente para responder a questões como, “Qual o significado da vida?” “Por que estou aqui?” “Por que é que a matemática funciona, de qualquer modo?” “Se o universo teve um começo, quem é que o criou?” “Por que é que as constantes físicas no universo estão tão rigorosamente sintonizadas para permitir a possibilidade de formas de vida complexas?” “Por que é que os humanos têm um sentido moral?” “O que é que acontece depois de morrermos?” “Sempre assumi que a fé estava baseada em argumentos puramente emocionais e irracionais, e fiquei atônito ao descobrir, inicialmente nos escritos do acadêmico de Oxford, C. S. Lewis e subsequentemente em muitas outras fontes, que uma pessoa podia edificar uma defesa muito forte para a plausibilidade da existência de Deus em bases puramente racionais. A minha antiga asserção ateia de que “Eu sei que Deus não existe” emergia sem a mínima defesa. Como o escritor Britânico, G. K. Chesterton, ilustremente assinalou, “O Ateísmo é o mais ousado de todos os dogmas, pois é a afirmação de uma negação universal.”
E referindo-se ao ateísmo militante de Dawkins que escreveu “Deus, um delírio”: “Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas... O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural... Usar as ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude imprópria e equivocada. No ano passado foram lançados vários livros de cientistas renomados, como Dawkins,...que atacam a religião sem nenhum propósito. É uma ofensa àqueles que têm fé e respeitam a ciência. Em vez de blasfemarem, esses cientistas deveriam trabalhar para elucidar os mistérios que ainda existem. É o que nos cabe”.

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