domingo, 3 de fevereiro de 2013

Experiência Missionária: uma Escola!



Qua, 30 de Janeiro de 2013 13:47 por: cnbb

Dom Esmeraldo Farias
Arcebispo de Porto Velho (RO)

De 28 de dezembro a 21 de janeiro, aconteceu na Área Missionária Alto Rio Madeira, a primeira experiência missionária com seminaristas na Arquidiocese de Porto Velho.
O Setor II que tem a sede em União Bandeirante e é formado por 22 comunidades nos acolheu com muita alegria e abertura de coração. Agradecemos muito a Deus pela oportunidade que nos concedeu, pois temos consciência de que experiência missionária com seminaristas é parte integrante do processo formativo e sabemos de sua importância e significado para a formação de missionários presbíteros.
A Arquidiocese de Porto Velho (RO), como todo o Estado de Rondônia, tem uma característica especial pela presença de migrantes que, a partir dos anos setenta, fizeram crescer o número de habitantes no Estado e formam a maioria da população; sendo também o Estado com maior percentual de evangélicos no Brasil.
No território da Arquidiocese, com a extensão de 86.000 km²., está a Área Missionária, situada ao longo da BR que liga Porto Velho a Rio Branco (AC), fazendo divisa com o Estado do Acre, com a Bolívia e com o Estado do Amazonas no qual dá assistência a dois setores com 15 comunidades, dos cinco que formam a área missionária . De uma ponta a outra da Área missionária, são mais de 250 kms. Essa Área inclui também a Paróquia S. João Bosco em Porto Velho, comm três comunidades e é atendida pelos Padres enviados pela Arquidiocese de Niterói (João Batista, Miguel e Genecy). Também fazem parte da equipe quatro religiosas Ursulinas. Nos últimos anos, a Arquidiocese de Niterói tem enviado também seminaristas que, tendo concluído a etapa da Filosofia, vivenciam o Ano Pastoral na referida área missionária. Para 2013, já chegaram quatro seminaristas.
A partir de 03 de dezembro de 1999, famílias provenientes do centro sul do Estado de Rondônia foram ocupando a área que logo foi chamada União Bandeirantes e que tem como Padroeira Nossa Senhora dos Migrantes. São pessoas, famílias e comunidades que se caracterizam por uma forte resistência, fundada na fé, em favor da preservação do meio ambiente e da distribuição da terra. A grande maioria de católicos veio da Diocese de Ji-Paraná com experiência de trabalho na vida da comunidade eclesial. Isto foi e continua sendo muito importante para o trabalho de evangelização. A sede tem atualmente 1.800 famílias e as demais comunidades mais de mil.
Participaram da Experiência missionária 50 seminaristas, 10 Padres, 04 religiosas e uma leiga, provenientes de vários Estados. De Porto Velho, participaram doze seminaristas, 02 religiosas, 04 padres. Os primeiros quatro dias foram dedicados à escuta das motivações e expectativas dos missionários; à apresentação da realidade sócio-eclesial por parte de animadores do setor União Bandeirantes; ao estudo bíblico-teológico da missão, com destaque para o significado da visita no processo de escuta e contemplação da ação do Espírito de Deus na vida das pessoas, famílias e comunidades; bem como ao aprofundamento da experiência missionária, como experiência espiritual pessoal e comunitária e ao treinamento do processo de visitação.
Na manhã de espiritualidade ao início e ao final, guiados pela carta aos Efésios que enfatiza a centralidade de Jesus Cristo na missão e o apostolado como dom de Deus para proclamar o Mistério revelado, isto é, a misericórdia de Deus para com os que se encontram longe a fim de que também participem do Corpo de Cristo, a Igreja, aprofundamos o sentido da Missão como fonte e não com desgaste. Vimos como a Missão marca e determina nossa vida: nosso ser, sentir e servir.
No exercício do ministério apostólico, o Paulo encontra luzes para a Missão, descobrindo pessoas que, abraçando o caminho do seguimento a Jesus Cristo, assumem a missão formando e dinamizando comunidades. O Missionário Paulo está mais convencido do que nunca de que a graça de Deus é oferecida aos pagãos e se dedica a esse povo para que seja Povo de Deus!
A manhã do dia 1º de janeiro foi dedicada a uma pequena visita para que, de casa em casa, cada equipe de missionários pudesse desejar um Feliz Ano Novo! Que alegria para os missionários e para as famílias que abriam suas portas acolhendo o abraço e a bênção no primeiro dia de 2013!
Pela tarde, sabendo que a partir do dia seguinte já iríamos iniciar o processo de visitação na área urbana de União Bandeirantes e nas “linhas” (comunidades do interior), propusemos aos missionários a elaboração de pontos fundamentais que deveriam orientar a vivência comunitária e pessoal. Assumindo pessoal e coletivamente, estavam dando um importante passo para que o espírito missionário aqui vivenciado e aprofundado, seja cultivado, estenda suas raízes durante o ano e produza os frutos de Deus onde forem designados para servir. Os pontos mais destacados foram:
a)    No encontro com as pessoas, famílias, grupos e comunidades com sua história, suas dificuldades e alegrias, o missionário é chamado a descobrir a presença de Jesus Cristo que lhe fala, questiona e o ilumina;
b)    A vivência das dimensões da formação na experiência missionária, de modo inter-relacionado, coloca o missionário diante de sinais de Deus e também de dificuldades e obstáculos que precisam ser superados, com a graça de Deus;
c)    A missão é dom de Deus e também mandato que o missionário precisa acolher de todo coração como uma bênção para a sua vida e para a vida da Igreja. Por isso, ele aprende a se preparar para que o ministério que lhe será conferido esteja a serviço da missão e não o contrário;
d)    A missão traz questionamentos e luzes para a vida do missionário e indica o caminho de conversão a fim de que seja servo a serviço do Reino de Deus;
e)    A experiência missionária é também um modo de verificar a corresponsabilidade do missionário, sua maturidade dentro do processo formativo, contribui para o discernimento da vocação, bem como para alargar e firmar a compreensão do ministério do presbítero diocesano.
 
f)    A experiência missionária é e precisa ser assumida como parte integrante do processo formativo;
g)    A experiência missionária é uma experiência espiritual realizada pessoal e comunitariamente que abre o coração do missionário para a missão que vai além do que acontece em sua diocese.
Desse modo, do dia 02 a 15 de janeiro, estivemos mergulhados no processo de visitação no núcleo urbano União Bandeirantes  e nas “linhas”, com a tarefa de não deixar de fora nenhuma casa das 22 comunidades, mesmo aquela mais distante. Cada equipe formada por quatro missionários e tendo o acompanhamento de um Padre se incumbiu de visitar as famílias de três comunidades. Na sede do setor, ficaram quatro equipes, em razão de ali habitarem 1.800 famílias. Eu tive a felicidade de estar em todas as comunidades e particiar de todo o processo.
O que eu pude ver, escutar e sentir?
a)    Famílias migrantes lutando muito para a sua sobrevivência, desde 3 de dezembro de 1999, quando as primeiras chegaram nesse setor, na esperança de que a terra onde já vivem trabalham seja regularizada em benefício delas. Na Área missionária, bem como em Rondônia, se encontram pessoas de quase todos os Estados do Brasil.
b)    Povo que sofre quando necessita de tratamento para a saúde, pois o núcleo urbano União Bandeirantes tem a presença do médico somente durante 3 finais de semana ao mês. Fora desses dias, e para serviços especializados há necessidade de se deslocar para Porto Velho percorrendo 170 kms, dos quais 60 são em estrada de chão com muita lama no tempo da chuva (janeiro a maio).
c)    Uma maioria evangélica no núcleo urbano central e nas comunidades das “linhas”;
d)    Missionários disponíveis para ir ao encontro das pessoas, famílias e comunidades sem colocarem imposições e sem oferecerem resistência;
e)    Missionários despojados e abertos para andarem em ruas, estradas e caminhos em meio à chuva, à lama ou ao sol;
f)    Missionários alegres e entusiasmados testemunhando o chamado para o seguimento a Jesus Cristo missionário;
g)    Missionários que acolhem a história de vida das pessoas e se perguntam o que Deus lhes quer dizer;
h)    Missionários participando de modo ativo, consciente e criativo dos momentos celebrativos: eucaristia, liturgia das horas, momentos penitenciais, recitação do terço...
i)    Missionários que vislumbram viver o ministério presbiteral a partir da missão e em vista da missão que Deus lhe concederá através do seu bispo Diocesano;
j)    Missionários respeitosos do processo da experiência missionária também quando apresentaram propostas e escutaram as ponderações da equipe de coordenação geral;
k)    Famílias com o coração muito agradecido a Deus pela oportunidade de terem acolhido, durante vários dias, um ou mais missionários em sua casa tanto no interior quanto no núcleo urbano;
 
l)    Pessoas e famílias que se prontificaram a acompanhar os missionários nas visitas de casa em casa e na ida à comunidade vizinha, oferecendo o seu tempo, o seu transporte, a moto, e, quando havia, o carro;
 
m)    Animadores (as) de comunidades proclamarem: “A experiência missionária foi para nós uma porta que se abriu, pois estávamos meio desanimados. Alguns de nós nem estávamos participando da vida da comunidade. Pedimos a Deus a força para que essa porta não se feche”. “A experiência missionária está sendo para nós uma luz que nos faz ver que não podemos ficar pensando somente em nós mesmos, em nossa comunidade; mas precisamos estar abertos para ir ao encontro das famílias e de outras comunidades”. “A presença dos missionários em nossa comunidade e em nossa casa devolveu para nós a alegria de viver, de poder sorrir e de sentir que Deus nos acompanha sempre, também em meio aos sofrimentos”. “A visita missionária foi uma escola para reforçar o nosso caminho a cada dia, saber respeitar mais a comunidade e viver em harmonia na família. Foi um presente de Deus”.   “A visita missionária foi uma sementinha que os missionários semearam e nós não podemos deixar morrer; precisamos cuidar dela para germinar, crescer e multiplicar”;
n)    Famílias que tomaram a decisão de iniciar a comunidade, como por exemplo na linha Abacaxi e na linha 6.
o)    Grande sede de Deus, pois, em meio à luta pela permanência na terra e pela sobrevivência, sempre sentiram a necessidade da luz de Deus em sua vida, e continuam dando muita importância à Palavra de Deus.
p)    Dificuldade para encontrar e reunir uma maior número de jovens; talvez por ser período de férias e estarem visitando familiares em outros municípios de Rondônia, de onde são provenientes.
A experiência missionária em Porto Velho quer ser uma porta aberta no fortalecimento do espírito missionário, convencidos da necessidade de assumirmos “uma pastoral decididamente missionária” (DAp 370) que possa penetrar no processo formativo inicial e permanente dos presbíteros e ser assumido como urgência e prioridade no processo de evangelização.
Certamente, a experiência missionária carece de muito aperfeiçoamento. Acolhemos  as sugestões apontadas pelos missionários, estamos abertos para as ponderações que vierem de outros irmãos e irmãs e esperamos deixar que a missão possa determinar nosso saber, nosso modo de ser e de servir.
A Igreja Particular de Porto Velho agradece às Dioceses de Bacabal, Mossoró, São Mateus, Goiás, Nova Iguaçu, Taubaté, Santo André, Guarulhos, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e às Arquidioceses de Natal, Feira de Santana, Palmas, Niterói e Porto Alegre o envio dos missionários que muito nos ajudaram. A semente da missão vai se espalhando por todo o nosso país, assim como vai se firmando o compromisso de contribuir com o trabalho de evangelização na Amazônia. Podemos dizer que se abre a porta de muitos corações para a Amazônia e a porta da Amazônia se abre para o Brasil. Porto Velho se sentirá muito honrada se contribuir para que, a partir dessa pequena experiência, o dinamismo missionário se fortaleça na vida dos futuros presbíteros e vários missionários possam ser enviados também para outras Igrejas Particulares da Amazônia.
Neste sentido, algumas dioceses já estão organizando o envio de seminaristas para cursarem um ou dois anos da etapa da teologia junto com os seminaristas de Porto Velho, dando oportunidade para uma melhor inserção na realidade da Amazônia. A Arquidiocese de Natal é pioneira neste sentido. O seminarista enviado continuará pertencendo à sua diocese de origem. Depois de ordenado presbítero, se a diocese deseja enviá-lo como missionário para alguma região da Amazônia, é o gesto de uma Igreja solidária para com uma outra Igreja! Vejo isto como um sinal de Deus!
A graça e a paz de Jesus Missionário sempre nos acompanhe. Meu grande abraço. D. Esmeraldo Farias.

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