Qua, 05 de Dezembro de 2012 08:07 por: cnbb
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Com muita alegria, neste domingo a Liturgia da Igreja inicia o “Tempo do
Advento”, iniciando um novo “ano litúrgico”, ou seja, o ciclo de celebrações no
qual a Liturgia nos insere na vivência dos mistérios principais da vida do
Senhor: encarnação, paixão, morte e ressurreição. Nesse contexto, cada cristão
é chamado a mergulhar na essência do que cada “tempo litúrgico” evidencia para
assim poder contemplar de modo sempre mais palpável as ações da liturgia e
vivenciá-las de modo concreto na vida. Dentro do novo ano litúrgico agora
iniciado teremos a oportunidade de celebrar em Julho próximo a nossa Jornada
Mundial da Juventude. Será também o momento de aprofundarmos a fé neste ano
especial.
O tempo do advento, como início do ano
litúrgico, é o momento da preparação para a celebração do grande mistério
divino que é o Natal do Senhor Jesus Cristo. É o tempo da espera, o tempo de
“preparar o caminho do Senhor”. Essa “preparação” nos faz vivenciar uma dupla
expectativa, a saber, uma que nos põe em evidência a necessidade de “vigiar e
orar”, a fim de que estejamos prontos para a chegada do Senhor que virá no fim
dos tempos, mas também, nos evidencia a expectativa do povo de Deus da antiga
Aliança, que ardentemente punha-se no aguardo do “Emmanuel”, o “Messias”, o “Deus
conosco”.
Iniciando a vivência deste tempo
litúrgico de expectativa pela vinda do Senhor que é o Advento, convido a que
observemos neste momento qual o nosso papel nesta preparação para a sua vinda
não somente no que toca a nós mesmos em particular, mas também no tocante ao
contexto no qual estamos inseridos. O tempo do Advento trata-se também de um
momento em que somos chamados à missão profética de anunciar o Messias no mundo
de hoje, pois Aquele que veio e virá, é também O que vem a cada coração que o
acolhe. Por isso este tempo é de preparação de sua renovada acolhida nos
corações, tanto dos que já O conhecem, como também dos que ainda não o conhecem
verdadeiramente. Infelizmente hoje, mesmo em nosso ocidente cristão, existem
muitos que nunca ouviram falar de Cristo ou não O encontraram em suas vidas e
história. Nesse contexto, voltemos o nosso olhar para a juventude como
depositária da nossa esperança de evangelização no hoje e na esperança dessa
missão no “amanhã”.
Os jovens do nosso tempo, assim como
todos os cristãos, são chamados a ter diante dos olhos uma figura exemplo de
anúncio da vinda do Senhor, o qual encarnando e vivenciando com afinco sua
missão de anunciar o Messias, constituiu-se como o “precursor”: João Batista.
A vigilância na fé, na oração e na
penitência faz de João Batista um significativo exemplo desta preparação da
vinda do Senhor a que os jovens são chamados tanto a aderir quanto a realizar.
Assim como João Batista, cada jovem é chamado a pregar no mundo de hoje a
conversão, que se inicia de dentro para fora, tratando-se de uma adesão pessoal
e verdadeira à pessoa de Cristo, que nos convida a tomar parte na sua amizade
que liberta e que nos realiza verdadeiramente. Entretanto, essa verdadeira
alegria se traduz na mudança de vida, de costumes, de práticas. Hoje, com
pesar, vemos situações e realidades que nos afastam do que somos em essência,
ou seja, criados “à imagem de semelhança de Deus”, e ofuscando assim a nossa
relação com o Senhor. Uma ilustração bastante significativa desse apelo à
conversão é a cor “roxa” com a qual a liturgia se reveste neste tempo
litúrgico. Ela nos evoca que necessitamos de uma conversão do coração, das
práticas; necessitamos “arrependermo-nos e crer no Evangelho”. Advento é tempo
de esperança!
Neste tempo litúrgico, chamados a
empreender a missão de João Batista, cada jovem é chamado a manter-se vigilante
na fé, na oração, e em uma abertura atenta e disponível para reconhecer os
“sinais” da vinda do Senhor em todos os momentos e circunstâncias da vida tanto
acerca do hoje quanto acerca do “fim dos tempos”, pois a nossa sociedade se
preocupa demasiadamente com a dimensão previdente relativa ao amanhã: empreende
os meios necessários para que se possa conhecer hoje “como será o amanhã”, mas
esquece-se de vigiar para que a sua chegada não a tome “de assalto”. Nesta
perspectiva, o exacerbado tecnicismo da atualidade insere, sobretudo os jovens,
sentinelas do amanhã, na incumbência de promover o progresso observando e
perscrutando o futuro com os desafios a vencer.
Vivenciar o tempo do Advento significa
acolher e reconhecer o Senhor, que continuamente vem ficar conosco e segui-Lo
como aquele em quem está a fonte da vida, da felicidade, do progresso, da
ciência, Aquele em cuja luz contemplamos a luz (cf. Sl 35,10).
Nessa dimensão de acolhimento e
reconhecimento do “Senhor que vem”, a liturgia deste I Domingo nos chama à
vivência de uma Igreja sem fronteiras, que se caracteriza pela desvinculação
dos paradigmas que impedem que o anúncio do Evangelho seja efetivamente
realizado. “Os dias que virão, nos quais o Senhor realizará sua promessa de
bens futuros” (cf. Jr 33,14), começa aqui e agora, e evocam a necessidade de
desvincular-se do particularismo para abrir-se à totalidade do Evangelho, o
qual, congregando num só povo todos os povos, raças e nações, empreende uma
efetiva humanização do homem por meio da conversão do coração, mudança de
costumes, e realização do agir fundamentado no princípio da caridade cristã e
universal.
É assim que a Igreja se prepara para a vinda do Senhor, perfazendo na sociedade atual uma antecipação das realidades perenes do Reino dos Céus. Nessa missão, a juventude é chamada a ser promotora desse modo autêntico e eficaz de espera do Senhor, de preparação da sua vinda.
Caríssimos jovens, não tenham medo de
empreender na vida de vocês uma resposta concreta ao chamado a ser profeta e
anunciar a chegada de Jesus, o Messias, Aquele que renova os nossos corações e
a nossa sociedade. Sejam a voz que clama no deserto dos nossos tempos (cf
Jo 1,23 ) e testemunhem com as celebrações deste singular tempo litúrgico de
graça, que é o advento, a alegre expectativa pela contemplação do Senhor que
vem, o “Emmanuel”, o “Deus conosco”.
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