Ter, 11 de Dezembro de 2012 09:17 por: cnbb
Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)
Arcebispo de Salvador (BA)
Em 2002, ao completar 75 anos, o então
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger,
apresentou sua renúncia ao Papa João Paulo II, com quem havia trabalhado nas
duas décadas anteriores. Em entrevistas, o Cardeal deixou claro que o principal
motivo de seu pedido era poder concretizar um velho sonho: escrever um livro
sobre Jesus de Nazaré, uma vez que, ao longo de sua vida, havia feito inúmeras
anotações em vista desse objetivo.
João Paulo II não atendeu a seu pedido,
deixando claro que desejava continuar contando com sua importante colaboração.
Poucos anos depois, o Cardeal Ratzinger foi eleito Papa e escolheu o nome de
Bento XVI. Tudo indicava, pois, que o sonho do livro jamais se realizaria. Ledo
engano! Soube-se, de repente, que ele passou a dedicar o mês anual de férias
para dar forma à pretendida obra.
Em 2007, quando foi publicado o livro
“Jesus de Nazaré”, foi esclarecido: tratava-se apenas da primeira parte,
abrangendo a vida de Jesus do Batismo no Jordão à Transfiguração. Depois de
testemunhar, no Prefácio, que confiava nos Evangelhos, de afirmar que procurou
ver Jesus “a partir de sua comunhão com o Pai”, já que aí está “o centro
autêntico de sua personalidade”, e de adiantar que o livro em questão era
expressão de sua procura pessoal “do rosto do Senhor” (cf. Sl 27,8), o Autor
observou: “Quis tentar apresentar o Jesus dos Evangelhos como o Jesus real,
como o ‘Jesus histórico´ no sentido autêntico”. Em seguida, fez uma curiosa observação:
“Por não saber quanto tempo e força ainda me serão oferecidos, decidi publicar
agora como primeira parte do livro os dez primeiros capítulos”.
Novas férias aconteceram e, quatro anos
depois, foi editado o segundo volume, “Da entrada em Jerusalém até a
Ressurreição”. Se o primeiro volume é belíssimo e atinge seu objetivo de
“ajudar no crescimento de uma relação viva com Cristo” (Prefácio), o segundo é
simplesmente emocionante e atinge a finalidade de ajudar a “compreender a
figura de Jesus, sua palavra e suas ações” (Prefácio). No final da obra, Bento
XVI lembra que “Jesus parte, abençoando. Abençoando, parte; e, na bênção, ele
permanece. Suas mãos continuam estendidas sobre este mundo. As mãos
abençoadoras de Cristo são como um teto que nos protege... Tal é a razão
permanente da alegria cristã”.
O segundo volume, contudo, não cumpriu
uma promessa feita no primeiro: “Com a segunda parte, espero, então, poder
entregar o capítulo sobre as histórias da infância...” (Prefácio I), mas
esclareceu: “Minha vontade é tentar permanecer fiel à minha promessa e
apresentar mais um pequeno fascículo sobre tal argumento, se me for dada ainda
força para isso” (Prefácio II).
Graças a Deus, Bento XVI teve força
para isso! Assim, após as férias deste ano de 2012, entregou às editoras os
originais do terceiro volume que, na verdade, é como que uma introdução aos
dois outros. Já traduzido em cerca de 30 línguas e publicado em 80 países, as
reflexões sobre “A Infância de Jesus”, em quatro capítulos, começam com a
pergunta inesperada que Pilatos fez a Jesus: “De onde és tu?” Essa pergunta tem
a ver com a profunda questão existencial do ser humano: “Quem sou eu?” Os temas
do segundo capítulo são o anúncio a Zacarias do nascimento de João Batista e a
anunciação de Maria. O terceiro capítulo gira em torno de Belém: Jesus
“pertence a um tempo exatamente datável e a um ambiente geográfico exatamente
indicado”. No quarto capítulo, Bento XVI se debruça sobre os magos do
Oriente e a fuga para o Egito, concluindo que eles representam não só as
pessoas que encontraram o caminho para Cristo, mas “o movimento das religiões e
da razão humana em direção a Cristo”. Trata-se de uma peregrinação que percorre
toda a História.
A proximidade do Natal é um convite a
nos debruçarmos sobre aquele que está no centro desta festa: Jesus de Nazaré.
Para isso, contamos com as extraordinárias reflexões de Bento XVI em seus três
livros, que são um belo presente de Natal para nós – ou para darmos a alguém...
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