Sex, 07 de Dezembro de 2012 13:24 por: cnbb
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
A Pontifícia Universidade de São Paulo
(PUC-SP) esteve em evidência na imprensa nos últimos dias, em função da recente
nomeação da professora Anna Maria Marques Cintra como reitora da instituição.
Quero, pois, esclarecer o papel e a preocupação da Igreja Católica, presente na
gestão de uma universidade.
Antes, porém, reitero que a nomeação
está de acordo com a norma da universidade. Escolhi a reitora entre os
candidatos da lista tríplice organizada e encaminhada a mim pelo Conselho
Superior da Universidade, como estabelece o estatuto da PUC-SP.
Há quem considere que a PUC-SP
cumpriria melhor o seu papel sendo uma universidade laica, desvinculada da
Igreja. Isso, porém, não seria coerente com a natureza de nossa universidade
católica que, além de tudo, também é "pontifícia".
Não cabem equívocos, nesse sentido, e
não dissimulo meu empenho para evidenciar e fortalecer na PUC-SP a sua
identidade católica.
Assim fazendo, não busco simplesmente
que ela esteja alinhada com os valores cristãos, mas que dê sua contribuição
específica, como instituição católica, à sociedade paulista e brasileira.
Uma universidade católica não existe
apenas para defender a Igreja. O seu fim primário é o serviço à verdade e ao
bem do homem. E para nós, católicos, esse afã não coloca em risco a nossa fé:
na visão cristã, é plenamente harmônica a relação entre fé e razão.
"Religião do logos, o cristianismo
não relega a fé para o âmbito do irracional, mas atribui a origem e o sentido
da realidade à única razão criadora", afirma Bento 16.
A unidade entre fé e razão é um
elemento essencial do pensamento cristão, que não está fechado em si mesmo. A
fé, ao contrário de ser limite, é luz, que amplia a visão e as perspectivas
para uma análise serena e positiva dos acontecimentos sociais e para uma compreensão
mais profunda do mundo e do fenômeno humano.
Para um pesquisador cristão, a
coerência com a sua fé não o faz sobrepor ao seu trabalho critérios alheios à
ciência; sua própria fé leva-o ao amor à verdade e ao respeito pela dignidade
da pessoa humana.
Num contexto relativista, como o atual,
uma universidade católica contribui para mostrar que há valores inegociáveis,
como a busca da verdade, o valor da vida humana em todas as suas etapas e a
dignidade da mulher.
A universidade católica, diz ainda o
papa, está chamada "a não limitar a aprendizagem à funcionalidade de um
êxito econômico, mas a ampliar a sua ação em vista de projetos em que o dom da
inteligência investiga e desenvolve as dádivas do mundo criado, superando uma
visão apenas produtivista e utilitarista da existência".
Essa especial missão não a faz ser
superior às outras universidades, mas deve levá-la a uma atitude de serviço, de
diálogo e de abertura às outras instituições educativas, num autêntico espírito
universitário.
Reconheço que, no meio acadêmico
contemporâneo, a maneira cristã de ver o mundo e o ser humano não é
compartilhada por todos. No entanto, isso não desqualifica a sua contribuição
para a pluralidade da cultura; antes, explicita ainda mais a sua relevância
para a construção de uma sociedade aberta, na qual possa haver um confronto
entre dados de fato e valores.
Karl Popper observa que uma sociedade
aberta necessita de valores, que ela própria não está em condições de produzir
para si mas, muitas vezes, vai buscar no cristianismo.
Por isso, mesmo, num mundo que parece
esquecer-se de Deus, uma universidade católica tem uma importante função
social, também como contribuição para o pluralismo e a liberdade de pensamento.
E isso não parece irrelevante para o convívio democrático!
Publicado no jornal Folha de São Paulo
edição de sexta-feira, 7, na coluna Tendências/Debates
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