Seg, 24 de Dezembro de 2012 07:16 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A linguagem é uma força que produz e
sustenta os imaginários. Tem força para definir rumos e incidir sobre o tecido
da cultura, com o conjunto de hábitos cotidianos, os ritmos de vida, as
prioridades e escolhas.
A palavra articulada na linguagem tem força criativa,
produz sentidos, alavanca os avanços, ou é responsável pelos atrasos, no
horizonte das urgências e necessidades da sociedade. Compreende-se que toda
fala tem um enorme peso nas circunstâncias da vida. Por isso mesmo é preciso
cuidar para falar o que edifica e produz sentido verdadeiro. A vida não se
sustenta quando se baseia em falácias ou em compreensões inconsistentes. É
importante a dinâmica de falar e escutar para tecer a cultura, alimentar
sentidos e formatar imaginários favoráveis na sustentação de uma vida digna
para todos. A celebração do Natal, vivida em todo o mundo, precisa de ajustes
na linguagem para que se alcance o verdadeiro sentido desse precioso tempo.
O resgate da linguagem do presépio, por
exemplo, é um vetor muito importante para que cada pessoa fixe o olhar em
Cristo Jesus, o Menino Deus, centro e razão primeira e insubstituível da festa.
Os presépios nas igrejas, nas praças, nos museus, nos espaços públicos e no
recôndito de cada lar, pela arte e pela beleza, criam a oportunidade de renovar
a catequese rica dessa fonte inesgotável de amor. Jesus Cristo, o Filho amado
de Deus Pai e único Senhor e Salvador, entra na história da humanidade,
assumindo a nossa condição humana, igual a nós em tudo exceto no pecado. A
razão amorosa deste gesto é a nossa salvação. Uma promessa e conquista a ser
construída já no tempo da vida, por desdobramentos de uma fé sincera e
apaixonada, que gera e sustenta gestos de solidariedade, o gosto pela
fraternidade e a coragem de dedicar-se na luta pela justiça.
Jesus Salvador vem ao nosso encontro
para nos dar vida em abundância. Um gesto exemplar que inclui o compromisso de
seus discípulos, os convidados a participar de sua vida plena, na vivência de
uma conduta de solidariedade e de oferta de si para o bem de todos. O
desdobramento da fé em Jesus e a compreensão solidária de sua encarnação estão
na raiz da figura de Papai Noel. A linguagem produzida por interesses outros
afastou a compreensão do sentido original. O consumo e a comercialização se
apropriaram da figura de Papai Noel para alavancar vendas, interesses que
muitas vezes até estão na contramão daquela solidariedade que o Natal
significa. De São Nicolau, bispo de Mira, Lícia, no Século IV, são conhecidos
relatos e histórias. Até dificulta discernir aquelas autênticas das abundantes
lendas associadas à imagem desse santo popular, que foi relacionada e
transformada no ícone do Natal chamado Papai Noel.
Nos países de língua inglesa, o Santo é
chamado de Santa Claus, ou São Nicholas. Desta tradição, vale resgatar e
focalizar os relatos de um homem que se dedicou ao cuidado das crianças
carentes, dos pobres e necessitados. São muitas histórias contadas através dos
tempos, como a de uma família muito pobre sem condições de custear o casamento
das filhas. O bispo Nicolau, à noite, jogou um saco de moedas de ouro e de
prata para ajudar a pagar os custos dos casamentos. Ou o socorro aos pobres, em
meio a um inverno rigoroso, não lhes faltando o pão necessário. A linguagem em
torno da figura de São Nicolau, nas mais antigas tradições, desenha um
horizonte de compreensão que privilegia a solidariedade, a alegria de
partilhar, o cuidado com os mais precisados, a sensibilidade para perceber a
necessidade dos outros e socorrê-los. Na verdade, uma compreensão que precisa
ser recuperada.
O ícone de São Nicolau deve sair do
domínio daqueles que vivem o Natal apenas como oportunidade para lucrar.
Esquecem-se do sentido nobre e rico do nascimento de Jesus, Senhor e Salvador.
Natal é tempo de refazer o coração com a generosidade para a solidariedade.
Olhar o presépio e Papai Noel deve remeter cada coração ao sentido de
fraternidade e partilha. É interessante vivenciar esse tempo pelo olhar
de São Nicolau, movido pelo amor do Menino Deus, para enxergar os mais pobres e
ir ao encontro deles, solidariamente. Um olhar sobre o mundo marcado pela
compaixão e compromisso com o bem. Esta é uma lição perene, aprendizagem
constante, que deve ser cultivada no coração e inteligência das crianças, dos
jovens, de todos. Um tempo de doação, buscando não um Noel para si mesmo, mas
sendo Noel para os outros.
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