Ter, 04 de Dezembro de 2012 08:58 por: cnbb
Cerca de 70 lideranças indígenas do
Mato Grosso do Sul e de diversas regiões do país estarão em Brasília nesta
terça-feira, 4 de dezembro, para entregar às autoridades brasileiras mais de 20
mil assinaturas da campanha "Eu apoio a causa indígena". O movimento
reivindica a demarcação de terras, a não aprovação da Proposta de Emenda
Constitucional 215 (PEC 215) e o julgamento urgente de todas as ações em
andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que envolvam os direitos dos povos
indígenas.
As assinaturas serão entregues ao STF,
ao Congresso Nacional e à Presidência da República, após um ato público
organizado pela Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara dos Deputados.
Noam Chomsky, Wagner Moura, Eduardo
Galeano e MC Leonardo, entre muitos outros, são alguns dos famosos que apoiam a
campanha. Lançada em junho, o movimento é uma iniciativa do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) e da Associação Juízes para a Democracia (AJD),
com o apoio de dezenas de organizações indígenas, indigenistas e movimentos
sociais. O cartunista e ativista brasileiro Carlos Latuff dedicou uma charge à
campanha "Eu apoio a causa indígena".
Lideranças indígenas de todo o país da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e Conselho Nacional de Política
Indigenista (CNPI) participarão do ato.
A maior delegação é a de indígenas do
Mato Grosso do Sul, vindos diretamente da assembleia Guarani e Kaiowá,
realizada entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, a Aty Guasu. Estarão
presentes os filhos do Kaiowá assassinado, Nízio Gomes, Genito e Walmir, de
Guaiviry; Ládio Veron, filho de Marcos Veron, morto em 2003; Lucine, filha da
liderança Zezinho, cuja morte nunca foi investigada; Shatalim, da retomada Ñu
Vera, que hoje sofre ação de reintegração de posse da Justiça Federal; a
liderança ameaçada de morte, Eliseu, de Kurusu Ambá; e Líder Lopes, da
comunidade Pyelito Kue, autora da carta que correu o mundo.
Um grupo de lideranças Terena, em luta
pela demarcação de suas terras há 30 anos, que sofreram quatro despejos por
reintegrações de posse ou ataques de fazendeiros desde 2008, quando iniciaram o
processo de retomada de seus territórios originários, também fará parte da
manifestação.
Violações
O abaixo-assinado vem num momento de
graves violações dos direitos indígenas. Na Amazônia, no último dia 7, um
indígena Munduruku foi assassinado durante Operação da Polícia Federal em
território indígena demarcado. No Mato Grosso do Sul, indígenas Kadiwéu são
despejados de terra homologada há mais de um século, enquanto Guarani-Kaiowá
sofrem ataques e pressões dos mais variados tipos.
No Rio Grande do Sul, indígenas
Kaingang e Mbyá vivem às margens das estradas, acampados sob o intenso frio do
Sul do país, sobrevivendo há décadas em pequenos pedaços de terra entre as cercas
do latifúndio e o asfalto das rodovias.
No Vale do Javari, onde vivem cerca de
quatro mil indígenas Marubo, Kanamari, Matis, Kulina, Maioruna, Korubo e ao
menos outros 13 povos não contatados, a situação da saúde é calamitosa. Entre
eles está o mais alto índice contaminação pela hepatite, sobretudo do tipo B,
mortal e sem cura - mais de 85% da população está contaminada por um ou mais
tipos do vírus -, e também fortes epidemias de malária. Ambas atacam
diretamente o fígado, e a associação dos dois problemas tem enfraquecido a
população e levado a um índice gravíssimo de mortes. Há anos a população pede
medidas urgentes ao governo brasileiro - que deixou de ser uma briga por
políticas públicas que atendam aos indígenas e passou a ser uma espécie de combate
ao extermínio destes povos.
Outro caso emblemático é dos Awá-Guajá,
no Maranhão. Caso seja concretizada, a expansão da ferrovia Carajás pela
mineradora Vale promoverá o desaparecimento das florestas e da fauna, fonte de
vida daqueles indígenas, que hoje tem suas terras invadidas por madeireiros,
que abrem estradas clandestinas, desmatam áreas próximas a lagoas,
privilegiadas em caça e pesca, locais de fundamental importância para a
sobrevivência física e cultural deste povo.
A APIB denunciou às Nações Unidas (ONU)
a violação de direitos e o genocídio promovidos contra os povos indígenas da
Brasil, destacando a PEC 215 e a Portaria 303 da Advocacia Geral da União (AGU)
como instrumentos jurídicos contrários a Convenção 169 da OIT e a Declaração da
ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
PEC
A PEC 215 tem o propósito de transferir
para o Congresso Nacional a competência de aprovar a demarcação das terras
indígenas, criação de unidades de conservação e titulação de terras
quilombolas, que é de responsabilidade do poder executivo, por meio da Fundação
Nacional do Índio (Funai), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e
da Fundação Cultural Palmares (FCP). A aprovação da PEC 215 - assim como da PEC
038/99, em trâmite no Senado - põem em risco as terras indígenas já demarcadas
e inviabiliza toda e qualquer possível demarcação futura.
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