Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Neste sábado que antecede ao domingo
“gaudete” do Advento, tive a alegria de impor as mãos em 18 novos diáconos
permanentes para serviço da caridade e do Evangelho em nossa cidade do Rio de
Janeiro. Diante desse momento de júbilo para a Igreja em nossa Arquidiocese,
percebemos, todavia, que ainda há muitos que se perguntam "o que é o
diaconato permanente?"
Esta indagação, certamente, é feita
tendo em vista várias dimensões fundamentais do ministério ordenado que talvez
ainda não estejam claramente assimiladas por não poucos de nossos irmãs e
irmãos, e cabe a nós, como pastores do rebanho que o Senhor nos confia,
iluminar-lhes o entendimento diante desses questionamentos.
Antes de adentrarmos nas
particularidades do ministério ordenado, observemos primeiramente no que ele se
constitui pela recepção do Sacramento da Ordem, um dos sete sacramentos da
nossa Igreja. Esse sacramento possui três graus de ordem – o Diaconato, o
Presbiterado e o Episcopado – mediante os quais o “varão”, após ter
reconhecidas em si as virtudes próprias de um cristão destinado ao serviço do
povo de Deus por meio do ministério ordenado (cf. I Tm 3,3-7), torna-se
respectivamente “diácono”, “padre” ou “bispo”, dependendo do grau que lhe é
conferido. A palavra "diácono" vem da palavra grega diaconos, que é
encontrada diversas vezes no Novo Testamento, e caracteriza “aquele que é
destinado ao serviço”. Desse modo, é necessário entendermos que o Diaconato foi
instituído pela autoridade apostólica com a finalidade de que os bispos e
presbíteros pudessem comprometer-se mais eficazmente com a pregação evangélica
e o governo da Igreja, conforme vemos em At 6,1-7, destinando, assim, o serviço
mais direto da caridade a tais colaboradores. O diácono, portanto, é aquele que
se destina ao serviço do povo de Deus, cuja característica fundamental é a
caridade.
O Sacramento da Ordem no grau do
Diaconato, entretanto, não confere o sacerdócio, mas imprime um caráter
sacramental que infunde permanentemente uma consagração própria por meio da
qual o ordenado é essencialmente destinado à função do serviço da caridade para
com o povo de Deus. Portanto, apesar de não receber o sacerdócio com a
ordenação, o ordenado ao diaconato deixa sua condição de leigo e passa a fazer
parte do clero, cabendo-lhe, por isso, todas as responsabilidades próprias
dessa condição.
Apesar de constituírem um só e mesmo
grau do Sacramento da Ordem, ou seja, o grau do Diaconato, existem dois tipos
de diáconos, que se distinguem pela sua finalidade: o diaconato chamado
"transitório", (recebido como uma etapa na caminhada para a recepção
do presbiterado); e o diaconato "permanente", que é recebido por
aqueles que assim foram chamados e o buscam como finalidade de seu serviço à
Igreja, tendo em vista não estarem destinados ao sacerdócio e que, por isso,
ficarão “permanentemente” como diáconos.
Enquanto para todos os diáconos
transitórios é necessária a vivência do celibato, tendo em vista estarem
destinados ao Sacerdócio, para aqueles que se destinam ao diaconato permanente
é diferente: os solteiros são ordenados só dentre os que têm o carisma do
celibato.
O diaconato, como vimos, tendo sua
origem na autoridade apostólica, progrediu na Igreja em seu exercício,
assumindo tanto o serviço da caridade para o qual foi instituído quanto
incorporando ao seu ofício funções litúrgicas de assistência às celebrações
como a de serem ministros dos sacramentos do Batismo e do Matrimônio.
Todavia, no decurso dos séculos, o
diaconato permanente, apesar de ter existido nos primórdios do Cristianismo,
foi sendo esquecido permanecendo somente o diaconato transitório.
O Concílio Vaticano II, observando os
sinais dos tempos e a necessidade de uma pastoral mais eficaz diante das
circunstâncias da modernidade, viu por bem empreender os esforços necessários
para tal eficácia, enxergando assim a necessidade de determinar a restauração
do diaconato permanente. Tal restauração foi inicialmente regulamentada em
1967, pelo Papa Paulo VI, por meio do Motu Próprio Sacrum Diaconatus Ordinem,
sendo posteriormente promulgadas, pela Congregação para o Clero, as
"Normas Fundamentais para a Formação dos Diáconos Permanentes" e o
"Diretório do Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes".
Estes documentos deixam explícitos que
"a restauração do diaconato permanente numa nação não implica a obrigação
da sua restauração em todas as dioceses. Compete exclusivamente ao Bispo
Diocesano restaurá-lo ou não." Todavia, em nossa Arquidiocese, desde que a
implantação do diaconato permanente foi empreendida pelo nosso antecessor
Cardeal Eugenio Sales, há 25 anos, temos muito que agradecer a Deus pelo bem
que tal ministério tem realizado na missão de proclamar o Evangelho, assistir
os necessitados e colaborar nas atividades que exercem nas diversas paróquias
da nossa cidade.
Não poucos são os desafios que
atualmente nossa sociedade impõe à Igreja, dentre eles algo que está no cerne
da questão é certamente o fundamento da própria sociedade, ou seja, a família.
Em sua maioria, os homens que se destinam ao diaconato permanente são casados
e, por isso, dão um testemunho de que, além da responsabilidade a seus deveres
como pais de famílias, são capazes de contribuir de maneira mais comprometida e
consagrada com a missão da Igreja no pastoreio do rebanho que o Senhor lhes
confia.
Numa realidade em que o testemunho fiel
e coerente com as palavras do Evangelho é a chave de como evidenciar Cristo ao
mundo, a ação dos diáconos permanentes nas diversas situações sociais em que
estão inseridos tornam-se “faróis” a refletirem a “luz de Cristo”. Na realidade
secularizada de nossos dias, eles exercem um testemunho da importância e
integridade da família (de fundamental importância para a sociedade) e da
santificação do trabalho cotidiano (como profissionais nos vários ramos de
atividades). O recente Motu próprio que o Papa Bento XVI sobre a questão social
demonstra a importância do tema e a necessidade desses homens de Deus que se
colocam a serviço dos irmãos e irmãs.
Portanto, cientes de que o que é o
diaconato permanente e de sua missão no papel evangelizador da Igreja de
Cristo, alegremo-nos por nossos novos diáconos permanentes e oremos por estes
nossos irmãos que, além do cuidado de suas famílias, consagram-se, por meio do
Sacramento da Ordem, para o cuidado e o serviço para com o todo o Povo de Deus,
a fim de que sejam eles verdadeiros colaboradores de nossa ordem episcopal,
para que em tudo concorramos para a maior glória de Deus e difusão do
Evangelho.
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