Sex, 22 de Março de 2013 22:00 / Atualizado - Sáb,
23 de Março de 2013 13:40 por: cnbb
O presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para a Vida e Família da CNBB, dom João Carlos Petrini, divulgou nesta
sexta-feira, 22 de março, algumas considerações a respeito de uma nota
publicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que apoia o direito de
aborto até a 12ª semana de gestação. A seguir, a íntegra da mensagem.
Brasília, 22 de março de 2013
CEPVF Nº 0164/13
CONSIDERAÇÕES SOBRE A
NOTA DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA A RESPEITO DO ABORTO
Causou surpresa à sociedade brasileira
a decisão tomada pelo Conselho Federal de Medicina, durante o I Encontro
Nacional dos Conselhos de Medicina, favorável à interrupção da gravidez até a
12ª semana, como prevê a proposta do novo Código Penal, em discussão no Senado
Federal. As imediatas reações contrárias a esse posicionamento demonstram a
preocupação dos que defendem a vida humana desde sua concepção até a morte
natural. Merece, por isso, algumas considerações.
O drama vivido pela mulher por causa de
uma gravidez indesejada ou por circunstâncias que lhe dificultam sustentar a
gravidez pode levá-la ao desespero e à dolorosa decisão de abortar. No entanto,
é um equívoco pensar que o aborto seja a solução.
Nossa civilização foi construída
apostando não na morte, mas na vitória sobre a morte. Por isso a Igreja criou
hospitais, leprosários, casas para acolher deficientes físicos e psíquicos.
Recorde-se, em época recente, a figura das Bem-aventuradas Madre Teresa de
Calcutá e Irmã Dulce dos pobres, bem como os milhares de pessoas que,
quotidianamente, se dedicam a defender e promover a vida humana e sua
dignidade.
As constituições dos principais países
ocidentais apresentam uma perspectiva claramente favorável à vida. A
Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 1º, afirma que a República
Federativa do Brasil tem como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana.
E, no seu artigo 5º, garante a inviolabilidade do direito à vida.
Ajuda a evitar o aborto a implantação
de políticas públicas que criem formas de amparo às mulheres grávidas nas mais
variadas situações de vulnerabilidade e de alto risco, de tal modo que cada
mulher, mesmo em situações de grande fragilidade, possa dar à luz seu bebê.
Esta solução é a melhor tanto para a criança, que tem sua vida preservada,
quanto para a mulher, que fica realizada quando consegue ter condições para
levar a gravidez até o fim, evitando o drama e o trauma do aborto.
O Conselho Federal de Medicina ao se
manifestar favorável ao aborto até 12 semanas parece não ter levado em
consideração todos os fatores que entram em jogo nas situações que se pretendem
enfrentar. Sua decisão, que não contou com a unanimidade dos Conselhos
Regionais, deixa uma mensagem inequívoca: quando alguém atrapalha, pode ser
eliminado.
Para justificar sua posição, o CFM
evoca a autonomia da mulher e do médico, ignorando completamente a criança em
gestação. Esta não é um amontoado de células sem maior significado, mas um ser
humano com uma identidade biológica bem definida; com um código genético
próprio, diferente do DNA da mãe. Amparado no ventre materno, o nascituro não
constitui um pedaço do corpo de sua genitora, mas é um ser humano vivo com sua
individualidade. A esse respeito convergem declarações de geneticistas e
biomédicos.
Todos esses fatores precisam ser
considerados no complexo debate sobre o aborto, reconhecendo os direitos do
nascituro, dentre os quais o direito inviolável à vida que vem em primeiro
lugar.
Que os legisladores sejam capazes de
considerar melhor todos os aspectos da questão em pauta e que seja possível um
diálogo efetivo, com abertura para alargar o uso da razão. O uso apropriado da
mesma não descartaria nenhum fator, reconhecendo os direitos do nascituro, o
primeiro deles, o direito inviolável à vida. Deste modo, será possível legislar
em favor do verdadeiro bem das mulheres e dos nascituros, e se consolidará o
Estado democrático, republicano e laico, que tanto desejamos.
+ João Carlos Petrini
Bispo de Camaçari-BA
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família/CNBB
Bispo de Camaçari-BA
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família/CNBB
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