Sex, 22 de Março de 2013 09:17 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
O Papa Francisco disse durante encontro
com jornalistas, na semana de sua eleição como sucessor do apóstolo Pedro, que
a Igreja deve ser, especialmente, dos mais pobres. Esse é o desejo mais
profundo do coração de Deus. Jesus, na admirável passagem sobre o juízo final,
narrada em parábolas pelo evangelista Mateus, sublinhou: “Todas as vezes que
fizestes isto a um destes meus irmãos pequeninos, foi a mim mesmo que o
fizestes” (Mt 25, 40). Jesus deixa, assim, uma clara lição aos seus discípulos,
que deve ser sempre assumida pela Igreja como importante compromisso.
O Concílio Vaticano 2º, na Constituição
Pastoral Gaudium et Spes, dezembro de 1965, afirma que “as alegrias e
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e daqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma
verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. Assim, a voz do
Papa Francisco, fazendo ecoar este desejo e sonho de Jesus, reacende no coração
da Igreja a chama da opção preferencial pelos pobres. Essa opção, na sua força
espiritual e suas consequências concretas na vida e nos empenhos, é um
indispensável remédio que modula a Igreja, Povo de Deus, comunidade de
discípulos, com as orientações de seu Mestre e Senhor.
Gesto primeiro e permanente é
contemplar os rostos dos sofredores que doem em nós, sublinha o Documento de
Aparecida, fruto da 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos,
focalizando as pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades, as vítimas da
violência familiar, os migrantes, os enfermos, os dependentes de drogas,
encarcerados, os que carregam o peso e as consequências da discriminação,
preconceitos, falta de oportunidades, além dos excluídos da participação
cidadã. O Papa Francisco, que esteve presente e participou de maneira decisiva
da 5ª Conferência, convida a Igreja a viver o pacto ali assumido e assim
detalhado no Documento de Aparecida: “comprometemo-nos a trabalhar para que a
nossa Igreja Latino-Americana e Caribenha continue sendo, com maior afinco,
companheira de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio”.
Francisco indica um caminho que para
ser percorrido, com eficácia, precisa de vigor espiritual, da coragem da
profecia e da alegria verdadeira que só brota no coração de quem compreende bem
o desejo de Deus. A Igreja está, pois, pela palavra e gestos do Papa, a
revisitar os tesouros da fé cristã, banhando-se neles para alcançar uma
compreensão espiritual capaz de conferir novos rumos à vida pessoal,
organização eclesial e à sociedade. Uma via que deve se concretizar com o
modelo da globalização da solidariedade e justiça internacional. Esse
compromisso nascido da fé em Jesus Cristo irradia luz sobre o caminho renovador
que a Igreja é chamada a trilhar, com força e tarefa de inspirar a sociedade a
fazer novas escolhas, responsável que ela é também pelos pobres da Terra.
A simplicidade que emerge de uma Igreja
para os pobres há de alcançar raízes que tocam o mais profundo das diversas
organizações sociais, exigindo mais transparência, singularmente na conduta
pessoal, e a coragem de uma presença profética na vida dos necessitados, nas
relações sociais e políticas. São urgentes ações na configuração de projetos,
obras, diálogos, cooperação e comprometimentos que construam um rosto novo para
a sociedade contemporânea, sem as rugas das exclusões produzidas ou das
corrupções praticadas.
Que a Igreja renove sempre sua opção
preferencial pelos pobres, realizando projetos grandes ou pequenos, de menor ou
maior significação, para reencontrar o ouro de sua fé e os caminhos para que
ninguém sofra da mais terrível pobreza: a distância de Deus. Contemplar-se como
Igreja para os pobres é viver uma recuperação pujante, revisão humilde e
corajosa de atitudes, no compromisso com o bem e com a verdade, anunciando o
Reino de Deus. O broto de esperança desse tempo guarda potencial inesgotável
para a novidade da Igreja de Cristo, no cumprimento de sua missão ampla e
complexa, de ser dos pobres para os pobres.
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