Sex, 08 de Março de 2013 10:32 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A comemoração do dia 8 de março projeta
maior luminosidade na rica compreensão da dignidade e importância da mulher.
Uma clareza que deve impulsionar modificações substanciais e mais rápidas no
atual cenário, marcado pelos sucessivos casos de violência contra a mulher,
particularmente no âmbito familiar. Uma situação inaceitável que precisa dar
lugar à crescente participação das mulheres nos processos políticos, sociais,
culturais, religiosos e familiares.
Na compreensão ajustada do significado
da mulher no conjunto de processos da vida repousa uma força dinâmica com
propriedades para mudar instituições e promover avanços significativos. É
verdade que desde a Revolução Francesa várias conquistas foram alcançadas no
que se refere ao reconhecimento da mulher, configurando, consequentemente,
ganhos muito importantes para a vida e história da humanidade. Contudo, em
razão de cristalizações nas culturas, fruto de compreensões não adequadas,
atrasos ainda impedem uma participação mais efetiva. Assim, permanece o grande
desafio de se conquistar um entendimento capaz de gerar novas posturas.
Nessa busca, uma rica referência é a
Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher, do bem-aventurado João Paulo II,
publicada em 15 de agosto de 1988. É bem atual a referência à Mensagem Final do
Concílio Vaticano II profetizando um tempo novo que ainda não acabou de chegar:
“a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude,
a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder
jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que a humanidade conhece
mudança tão profunda, as mulheres iluminadas do Evangelho tanto podem ajudar
para que a humanidade não decaia”.
No Sínodo dos Bispos de 1987, que
refletiu a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, sublinhou-se a
importância de se aprofundar sobre os fundamentos antropológicos e teológicos
para ajudar na compreensão justa do significado da dignidade humana. Particularmente
no que se refere à mulher, uma questão central que desafia a humanidade:
a sua presença participativa na Igreja e na sociedade.
Os avanços são grandes. No entanto,
ainda não são suficientes Quando se pensa teologicamente, sabe-se que a mulher
está no coração do evento salvífico professado pela Igreja. A iluminação
deste argumento está condensada na figura da mulher mais admirável: Maria, a
Mãe de Jesus, o Redentor e Salvador. Conhecer a participação de Maria na
história da humanidade, obediente e aberta amorosamente a Deus, é estar em
contato com significativas lições, que iluminam a dignidade de todas as
mulheres. Na condição comum de criatura humana, elas guardam também uma
sacralidade advinda da filiação a Deus, sua imagem e semelhança.
É fascinante aquilo que é próprio da
mulher, que constitui o seu ser. Trata-se de um grande dom. Pela condição
própria dessa dádiva, muitos são os caminhos percorridos, os enfrentamentos
exitosos no combate ao mal e na luta pela justiça, desde o contexto da narrativa
bíblica, estendendo-se nas histórias e testemunhos de ontem e da
contemporaneidade. Essa sacralidade na figura da mulher é uma inesgotável fonte
de ética e de moralidade que não deixa perder a força dos valores, das
referências e das tradições que configuram o tecido cultural necessário para
garantir uma sociedade mais sã.
Voltando à Carta Apostólica referida, a
grandeza da dignidade da mulher está em conexão profunda com a ordem do amor. O
bem-aventurado João Paulo II lembra que no fundamento do desígnio eterno de
Deus, a mulher, na sua feminilidade, é um profetismo com força educativa
permanente. Obviamente que esta condição singular confere às mulheres uma
especial missão. E para que possam exercê-la, precisam ganhar mais espaços, em
todos os lugares e de variados modos. As mulheres merecem, de todos nós, uma
especial reverência.
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