Dom Pedro Brito
Guimarães,
Arcebispo de Palmas (TO)
Arcebispo de Palmas (TO)
“Depois de ter examinado repetidamente
a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças,
devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o
ministério petrino” (Bento XVI). Chegou o dia e a hora marcados para a renúncia
do papa Bento XVI, que deixará a cátedra de Pedro vacante até que os cardeais
elejam um novo papa. Aquilo que era mero rumor ou especulação se concretiza;
aquilo que era promessa se torna realidade. O dia é hoje, a hora é agora!
Pegos todos de surpresa, esta notícia
caiu como um raio, em pleno verão, no coração da Igreja e do mundo. Fui um
golpe muito forte e profundo que doeu demais. Desde 1415, com a renúncia do
papa Gregório XII, nunca mais um papa havia renunciado. Não estávamos
acostumados e nem preparados para tanta provação e provocação. Isto explica a
repercussão, a especulação e a manipulação do fato acorrido. Trata-se de um
precedente histórico novo e emblemático que precisa ser lido sem isenção, com
profundidade, serenidade e seriedade. Felizmente, com o passar do tempo aos
poucos a dor vai sendo suavizada, o clima e os ânimos serenizados.
Deus marca a história do seu povo com
muitos sinais e deixa seus recados e seus rastros em cada canto da história e
em cada ângulo da nossa vida, com os quais esconde e revela uma fonte muito
profunda, muitas vezes submersa em pedra e areia. Nós é que, às vezes, não
sabemos decifrá-los e decodificá-los. O profeta Zacarias revelou uma profecia
que se aplica bem a este momento: “ó espada, levanta-te contra o meu Pastor e
contra o homem, meu companheiro (...) Fira o pastor, que as ovelhas se
dispersarão” (Zc 13,7).
Aos olhos do mundo a renúncia do papa é
um fato inédito que vende e dá lucro; é um terreno fértil para semear cizânia
no campo onde foi semeado o trigo da Palavra de Deus. Para estas mídias, a
Igreja está reproduzindo aquilo que a sociedade tem de pior: mentira, intriga,
fofoca, calúnia, corrupção e acusação. Com isto não nos permitem fazer uma
leitura do fato e um discernimento livre, tranquilo e sereno. No entanto, o
fato é um convite para a serenidade e para termos cuidado de não divulgar e
acreditar naquilo que não corresponde à realidade.
Aos olhos da fé, a renúncia do papa
Bento XVI é um sinal de Deus: um ato de coragem e de grandeza da sua alma; um
ato de desprendimento, de responsabilidade, de coerência pessoal, um exemplo a
ser seguido quando não tivermos mais forças, condições e capacidades para
gerenciar uma obra humana ou divina. O papa, com este seu gesto, demonstra, ao
mundo, para além de uma atitude de fraqueza e resignação, ser um homem digno,
corajoso, humilde e abnegado ao poder. Querendo o bem da Igreja, renuncia para
dar espaço a outro, com sangue novo, para conduzir a barca de Pedro. Seu
sofrimento que pode parecer sinal de esgotamento, de fraqueza e de doença, pode
ser lido como um sinal de Deus para a renovação da sua Igreja num tempo
complexo como o nosso.
Portanto, a renúncia do papa é um sinal
de Deus e um ato profético da Igreja. Cargo na Igreja não é honra e nem é poder
no sentido de posse e de apego. O papa quando sentiu de perto suas limitações
renunciou ao cargo. Quantos ficam apegados ao poder, mesmo estando doente e
impossibilitado de exercê-lo plenamente? Ele, ao contrário, com a consciência
tranquila de quem cumpriu seu dever diante de Deus, do mundo e da Igreja,
renuncia, dizendo: eu renuncio; o cargo não é fundamental pra mim, eu cumpri a
minha missão até quando eu podia cumprir. O apego ao poder, as honras, a glória
do cargo, entrego a quem conduzir melhor a igreja no momento de hoje". Se
ficará na história como o papa que renunciou, ficará também como exemplo de
coerência para todos.
Sem mais comentários. Reverência.
Silêncio. Oração. Respeito. Obediência... pelo bem da Igreja.
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