FONTE: Bíblia e Catequese – CNBB N2
A famosa parábola do filho pródigo é
sempre atual e comovente. No tempo da Quaresma, somos convidados a participar
do ministério da reconciliação: “Deixai-vos reconciliar com Deus”.
O verdadeiro nome da história contada
por Jesus deveria ser Parábola do Pai misericordioso, embora muitas
vezes preferimos Parábola do filho pródigo. De fato, a centralidade
não deve estar no pecador que se converte, mas no Pai que ama de modo
incondicional. O Pai ama aquele que gasta parte considerável de seus bens, ama
e perdoa, sem se importar com a conduta do filho. O pai misericordioso ama o
filho mais velho, mesmo sendo rabugento. Ama todos, independente dos pecados.
Cristo nos fez seus irmãos e nos
revelou a face amorosa do Deus que é Pai. Contudo, não é um pai severo,
castigador ou distante, como aqueles pintados nos antigos catecismos. Nas
palavras de Henri Nouwen, o Pai da parábola parece ter feições maternas em sua
atitude de acolhida. Em sua gratuidade, Deus não ama só os justos, mas veio
para os pecadores (cf. Lc 5,31-32). Deixa as noventa e nove ovelhas no aprisco
e sai em busca daquela que está perdida (Lc 15,1-7). Deus é um Pai que abre os
braços para abraçar e fazer festa com o filho pródigo que voltou para casa, sem
perguntar o que ele fez com seus bens. O evangelho de hoje é uma oportunidade para
que experimentemos o amor misericordioso e gratuito.
O outro personagem é o filho pecador.
Este tinha a experiência do Pai da lei e da justiça, não do Pai da
misericórdia. Sua fuga é uma tentativa frustrada de felicidade. O pecado é
sempre uma busca, uma procura por acerto. Como consequência perde tudo,
afasta-se do amor, da casa paterna. O que lhe resta são as sobras, a dureza da
vida, a falta de amor. Caindo em si, arrepende-se. Ainda não pensa nas lágrimas
de seu pai, mas na sua dura situação da sua vida. Seu retorno possibilita a
manifestação do amor do Pai, que se adianta para abraçar o filho, não pergunta
sobre o que fez, simplesmente devolve-lhe tudo: dignidade (dá-lhe roupa nova,
calçado), filiação (anel no dedo) e acolhida (festa com o novilho).
O filho mais velho nos traz lições
preciosas. Aliás, ele é fundamental na parábola, tendo em vista que Jesus está
diante dos fariseus e escribas que questionam o fato de Jesus se aproximar dos
publicados. Ou seja, Jesus questionou a atitude daqueles que condenavam os
pecadores julgando-se santos. É ilustrativo mencionar que o filho pródigo da
parábola de Jesus experimentou o amor do Pai, enquanto o filho mais velho, que
sempre esteve em casa, reclamou seu lugar diante da alegria manifesta pelo
filho que voltou. É mais fácil nos tornarmos os filhos mais velhos do que
filhos pródigos. Não é raro encontrarmos pessoas que se consideram religiosas
porque vivem certas práticas, mas vivem amargas; são incapazes de desfrutar da
alegria como dom de Deus. Jesus sempre criticou a atitude farisaica daqueles
que se consideravam os justos.
Assim, é preciso eliminar o julgamento,
alegrar-se com aqueles que estão em busca do Senhor mesmo que ainda não tenham
deixado certas atitudes. É preciso acolher os novos na comunidade em seu
entusiasmo e não julgarmos aqueles que são considerados, até por nossos
cânones, como pecadores públicos. Aquele que nunca fez festa com o pai, não
compreende a festa do filho mais novo que reconheceu a grandeza da misericórdia
de Deus. Também aqueles que nunca saem da Igreja devem estar atentos para não
deixar de desfrutar da festa de Deus, da alegria de ser cristão, desprezando
aqueles que experimentam o Deus de amor e bondade. Certamente, muitos de nós se
sentem morando na casa paterna, mas com a mesma atitude soberba do filho mais
velho.
A experiência cristã inclui
considerar-se pecador, sempre necessitado da misericórdia. Significa não se
achar santo, julgando os demais, mas abrir-se ao amor gratuito do Pai. Nosso
Deus é o Pai da Parábola da misericórdia? Como está nossa atitude diante do
Deus da graça: somos cumpridores da lei ou participantes da festa? Em que lugar
nos encontramos? Existe em nossa vida marcas do filho pródigo? Existem também
marcas do filho mais velho?
Pe. Roberto Nentwig
Postado por Bíblia e Catequese às 08:26
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