Sex, 01 de Março de 2013 10:03 por: cnbb
Dom Demétrio
Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
Do dia 28 de fevereiro, quinta-feira,
às vinte horas de Roma, a Igreja Católica está sem Papa. Efetivada a renúncia
de Bento XVI, começa o período de “sede vacante”. Está vago o cargo de Papa.
Tudo conforme ele mesmo tinha
determinado, no dia 11 de fevereiro, quando estabeleceu o dia e a hora exata em
que ele deixaria de exercer a missão de Papa.
De tal modo que toda a Igreja teve
tempo de assimilar a notícia da inesperada decisão, e contar com a segurança
das disposições que entram logo em vigor quando vem a faltar o Papa. Assim
todos podemos ter segurança e serenidade, sabendo que estão agora previstos
todos os passos que vão levar à eleição de um novo Papa, dentro de poucos dias.
Desta vez a situação foi inusitada.
Quando morria um Papa, estávamos acostumados a acompanhar o seu enterro, e
agradecer a Deus o dom de sua vida, colocada a serviço da Igreja até o momento
de sua morte.
Fomos surpreendidos por uma inesperada
decisão do Papa, que sentindo suas forças faltarem, decidiu renunciar, para
deixar o lugar a outro que pudesse cumprir esta pesada missão com renovadas
energias.
Desta maneira, não é que ele abandonou
o barco, para cair fora. Ao contrário, sentiu tanta responsabilidade pesando em
seus ombros, que achou mais acertado, para o bem da Igreja, renunciar à sua
missão de Papa, para que esta missão seja assumida por alguém em plenas
condições de suportar o peso deste cargo todo especial.
Com isto, de certa maneira, Bento XVI
deu um claro recado ao novo Papa. Seja quem for o eleito, ele poderá contar com
o apoio de todos para enfrentar “as questões de grande relevância para a
vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho”, como
ele mesmo falou no dia em que anunciou sua renúncia.
Como todos já pudemos constatar, Bento
XVI nos deixa um claro e comovente testemunho de tantas virtudes, que o
ajudaram a tomar esta decisão.
Foi humilde para reconhecer sua
fraqueza física.
Foi desprendido em deixar de lado as
honras e o poder do cargo que ocupava.
Foi sobretudo responsável, comunicando
sua decisão, a tempo de todos assimilarem a notícia e assumirem suas
responsabilidades.
Com sua renúncia, Bento XVI nos deixa
um comovente exemplo de total devotamento à missão que Deus dá a cada um. Sua
renúncia se assemelha a um grande retiro, onde ele poderá agora se deter com
mais serenidade, vinda de sua paz de consciência pelo dever cumprido, e da
abundante semeadura, que a seu tempo germinará e dará muitos frutos.
Pelo inusitado da renúncia, o fato se
revestiu de expectativas de mudanças na vida da Igreja. Com seu gesto, Bento
XVI acabou demonstrando que é possível provocar mudanças, mesmo num aparato tão
monolítico como se tornou a estrutura da instituição eclesial.
Parecia que o impulso renovador do
Vaticano II já tivesse se esgotado. De repente, a renúncia de um Papa acaba
mostrando que é possível, sim, mudar muitas coisas, que o peso da história
parecia canonizar como imutáveis!
Nestes dias de sede vacante, estas
esperanças se concentram na pessoa do novo Papa que vai ser eleito. Mas
podemos alargá-las, apostando nas iniciativas renovadoras que poderão contagiar
a Igreja inteira, como aconteceu com João XXIII.
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