Qui, 14 de Março de 2013 11:14 por: CNBB /
G1.com.br
Conforme publicado
pelo portal de notícias G1, os cardeais brasileiros concederam na manhã desta
quinta-feira, 14 de março, em Roma, uma entrevista coletiva em que avaliaram a
escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, como
sucessor de Bento XVI. Dos cinco cardeais brasileiros que participaram da
eleição do pontífice, três participaram da entrevista: o presidente da CNBB e arcebispo
de Aparecida (SP), dom Raymundo Damasceno Assis; o arcebispo emérito de
Salvador (BA), dom Geraldo Majella; e o arcebispo de São Paulo (SP), dom Odilo
Pedro Scherer.
A coletiva foi realizada no Colégio Pio
Brasileiro. "As cotações prévias foram todas para o espaço", afirmou
dom Odilo, dizendo que, segundo a crença, há outros elementos envolvidos na
escolha de um novo Papa. "Há de se aprender que a Igreja não é só feita de
cálculos humanos. De fato, o Espírito Santo orienta a Igreja."
Questionado sobre a possível pressão
sentida por ter sido considerado um dos favoritos para ser o novo Papa, dom
Odilo disse ter enfrentado tudo com muita tranquilidade. "Tenho os pés
muito no chão, sabendo que havia muitas outras pessoas com muitas
possibilidades."
Ele afirmou não ter pensado que poderia
vencer. "Depois de ter rezado, se colocado diante da possibilidade de ser
eleito, ficaria difícil dizer não. Mas nunca pensei que viesse a
acontecer", disse. "Ser Papa não é uma honra simplesmente, não é um
poder. É um serviço muito grande. Quem é eleito Papa sente esse peso."
Após a eleição e dos ritos formais
feitos, todos os cardeais saudaram pessoalmente o Papa. "O saudei, lhe dei
os parabéns, pedi que Deus o abençoasse. Lembrei da Jornada Mundial da
Juventude, que ele irá ao Brasil em julho. Depende dele confirmar, com certeza
o fará", disse dom Odilo.
O arcebispo de São Paulo revelou que
visitou o túmulo de São Francisco de Assis, no domingo anterior ao conclave.
Chegando lá, ele encontrou o cardeal arcebispo de Viena, Christoph Schönborn.
"Mas um dominicano num lugar tão franciscano!", comentou o brasileiro
na ocasião. O colega disse que seria bom que a Igreja tivesse um Papa com
espírito franciscano. "É um sinal para o que a Igreja quer e precisa fazer",
afirmou Odilo na entrevista coletiva. "Não se fazem saltos mortais na
Igreja, mas existe uma continuidade."
Também dom Geraldo revelou que foi a
Assis no período pré-conclave. "Rezei naquela hora para que o Papa pudesse
realmente ser o que fizesse as vezes de São Francisco", afirmou. "Ele
[Bergoglio] foi chamado e não teve nenhuma dificuldade de ser aclamado. Ele tem
76 anos, mas pode em pouco tempo fazer muito. O testemunho dele vai ser muito
importante para o mundo, vai chamar a atenção do mundo. Vamos rezar para que
ele seja feliz e, sendo feliz, faça a Igreja feliz", disse.
Para dom Geraldo, a escolha não foi
surpreendente. "Não foi uma grande surpresa no sentido de que ele não
pudesse ser o possível candidato", disse. "É um grande dom de Deus
para a Igreja, para o mundo, um homem que tem um testemunho de vida. Ele vive o
nome Francisco, é diferente dos outros", afirmou. "Agradeço a Deus
por um grande final."
Já Dom Raymundo, que abriu a coletiva,
disse que houve surpresa. "Não preciso dizer para vocês que foi uma surpresa
para todos nós", afirmou. Os cardeais também contaram que, ainda na noite
de quarta (13), após anúncio do pontífice, o Papa Francisco falou que
precisaria ir nesta quinta-feira à Casa Internacional do Clero em Roma, onde
estava hospedado antes do conclave, para pagar a conta e pegar suas coisas. Dom
Raymundo foi informado de que o Papa foi mesmo à Casa nesta quinta, e insistiu
para pagar sua hospedagem.
Depois da apresentação pública do novo
Papa aos fiéis, os cardeais e o pontífice fizeram uma confraternização na Casa
Santa Marta. "Foi muito fraterna, com um cardápio semelhante ao dos dias
do conclave. Mas não poderia deixar de ter uma champanhe para comemorar",
disse dom Raymundo.
"Depois da solenidade de
apresentação, para voltar para a Casa Santa Marta, como protocolo ofereceram o
carro oficial do Papa. Mas ele recusou e quis voltar como foi: no ônibus junto
com os outros cardeais", disse dom Odilo.
Os cardeais foram questionados sobre a
rivalidade entre Brasil e Argentina, muito presente em diversos temas. "A
disputa é mais no campo do futebol, entre o Maradona e o Pelé. No campo
religioso não há isso, se trata da mesma Igreja", disse dom Raymundo.
"Como os argentinos são chamados no Brasil? De hermanos. Somos povos
irmãos, nos sentimos assim", completou dom Odilo.
Os cardeais também foram questionados
sobre o papel da nova evangelização no novo pontificado e como o Papa Francisco
deve direcioná-la. "Ela já foi uma das ênfases no pontificado de João
Paulo II e Bento XVI. E na América Latina é fundamental. Esse objetivo de ir ao
encontro dos mais afastados, distantes, esquecidos. A Igreja é chamada a ir ao
encontro das pessoas, ficando em estado permanente de missão", disse dom
Raymundo.
Dom Odilo afirmou que dentro do
conclave, em nenhum momento foi possível ver possíveis divisões dos cardeais ou
identificar partidos. "Não existe direita e esquerda, não percebi. Foi um
clima muito bonito, de grande responsabilidade e serenidade."
"Era um ambiente muito especial,
com um grupo bastante reduzido em relação ao número de católicos do mundo, mas
115 cardeais de todo o mundo. Transcorreu num clima de muita abertura,
liberdade, fraternidade. É uma instância na qual a gente não sente pressão. Se
sente totalmente livre, e isso é muito importante. E o ambiente é um dos mais
belos em termos de arte no mundo, a Capela Sistina", disse dom Raymundo. E
completou: "O nome do novo Papa é uma mensagem de abertura ao mundo, de
diálogo com o mundo, simplicidade, pobreza, solidariedade com os mais
simples."
O novo Papa tem 76 anos, o que
surpreendeu algumas pessoas – muitos imaginavam que o escolhido seria mais
jovem, para ter um pontificado mais longo que o de Bento XVI. Segundo Dom
Geraldo, a idade não influenciou a escolha. "Havia vários [cardeais] com
60 anos, mas isso não pesou. Não foi uma surpresa a idade. O Espírito Santo
sopra onde quer. Esse é um sinal para o mundo, sobretudo aos que mais
sofrem."
Ele também afirmou que os recentes
escândalos de abusos sexuais no clero e de fraudes no Banco do Vaticano não
tiveram peso dentro do conclave. "Em absoluto, não pesaram, ninguém teve
preocupação com isso. Estamos preocupados com a Justiça, o Papa tem que
defender a Justiça, os mais sofridos."
Os cardeais foram questionados algumas
vezes durante a coletiva sobre uma possível influência do conclave passado. À
época, foi dito que o então cardeal Bergoglio renunciou aos votos recebidos no
conclave em favor de Ratzinger, que foi eleito o Papa Bento XVI. Foi
questionado se essa atitude o teria beneficiado agora. Os cardeais disseram não
saber da veracidade dessa informação.
"Ninguém sabe se isso é verdade.
Só dom Geraldo, que estava lá, mas ele não pode falar", disse dom Odilo,
sendo recebido por risadas dos presentes. Dom Geraldo era o único dos cardeais
que deu entrevista que participou do conclave de 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário