Qua, 06 de Março de 2013 09:28 por: cnbb
A atualização do
estudo “Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População”,
divulgado pelo Instituto Trata Brasil (26 de fevereiro) revela que, após
dois anos, continua forte a associação entre o saneamento básico precário,
pobreza e índices de internação por diarreia. Um dos principais resultados do
estudo realizado pela pesquisadora Denise Maria Penna Kronemberger mostra como
o saneamento básico inadequado atinge as crianças entre zero a 5 anos.
A pesquisa contemplou os 100 maiores
municípios brasileiros em população no período de 2008 a 2011. Ao analisar os
índices de atendimento de coleta de esgoto em 2010
(com base nos dados do
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS), o estudo apontou que
em 60 das 100 cidades os baixos índices de coleta de esgoto resultaram em altas
taxas de internação por diarreias. O dado mais preocupante, porém, diz respeito
à participação das crianças menores de 5 anos nesse quadro de internações, que
representaram 53% das internações por diarreia nas cidades avaliadas.
“O saneamento básico é fator essencial
para a prevenção de doenças e melhoria de qualidade de vida da população”, diz
o gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur.
“Internar pessoas por diarreia nos dias de hoje revela a omissão do poder
público e mostra o quanto o país precisa avançar para atingir a meta de
universalização do saneamento no país”.
Entidade que atua nas comunidades mais
carentes em todos os estados do país, a Pastoral da Criança confirma em seus
indicadores as consequências da falta de esgotamento sanitário. Dados do 3º
trimestre de 2012 registram que das cerca de 1,4 milhão de crianças
acompanhadas pelas líderes voluntárias, 5,3% tiveram diarreia. E
que 92% dessas crianças tomaram o soro caseiro como medida preventiva.
“Em favelas, a população convive com
esgoto a céu aberto, em contato direto com dejetos na porta de suas casas”, diz
Boufleur. “Em muitos lugares os urubus fazem parte da paisagem”. Além das
doenças, a falta de saneamento causa outros prejuízos às famílias e
principalmente às crianças, observa ele. Doente, o adulto falta ao trabalho. As
crianças perdem dias de aulas, ficam privadas do convívio e das brincadeiras
com outras crianças.
Nas entidades pastorais da Igreja,
“pesquisas como esta do Trata Brasil são proféticas”, frisa Boufleur. “Retratam
o fracasso do poder público e a inércia da população em relação aos seus
direitos de cidadania”. Ele defende a mobilização da sociedade na defesa de
melhor qualidade de vida. “Organizada, a população tem mais força para cobrar a
atenção do poder público sobre as condições do saneamento”, diz Boufleur.
Destaques da pesquisa
do Trata Brasil
. Em 2011, 396.048 pessoas foram
internadas por diarreia no Brasil. Cerca de 14% destas internações, mais
especificamente 54.339 pessoas, ocorreram nas 100 maiores cidades.
. Aproximadamente 20 mil internações –
35% do número nas 100 cidades e 5% das internações por diarreia do país –
ocorreram nos 10 municípios que em 2011 apresentaram as piores taxas de
internação por diarreia. Foram eles Ananindeua, Belford Roxo, Anápolis, Belém,
Várzea Grande, Vitoria da Conquista, Campina Grande, Santarém, João Pessoa e
Maceió.
. Desses, Ananindeua, Anápolis, Belém,
Belford Roxo, Campina Grande, João Pessoa e Vitória da Conquista se encontram
entre os 10 piores no ranking de todos os anos do período analisado. João
Pessoa e Santarém têm conseguido reduzir suas taxas.
. Já nas 10 melhores cidades em 2011
foram internadas 1.100 pessoas (2% das 100 cidades e 0,27% no país). Os
melhores foram Taubaté, Praia Grande, São Bernardo do Campo, Suzano, Rio de
Janeiro, Bauru, Caxias do Sul, Campinas, Montes Claros e Betim, sendo que
Caxias do Sul, Rio de Janeiro, Jundiaí e Santos também têm aparecido
constantemente entre os melhores no país.
Unicef: diarreia é
segunda maior causa de mortes em crianças menores de 5 anos
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
menciona o saneamento básico precário como uma grave ameaça à saúde humana.
Apesar de disseminada no mundo, a falta de saneamento básico ainda é muito
associada à pobreza afetando principalmente a população de baixa renda, mais
vulnerável devido à subnutrição e muitas vezes pela higiene inadequada. Doenças
relacionadas a sistemas de água e esgoto inadequados e as deficiências com a
higiene causam a morte de milhões de pessoas todos os anos, com prevalência nos
países de baixa renda.
Do total de mortes por diarreias no
mundo, 88% têm como causa o saneamento inadequado. Destas mortes,
aproximadamente 84% são de crianças (Organização Mundial da Saúde, 2009),
sendo, segundo Unicef (2009), a segunda maior causa de mortes em crianças
menores de 5 anos de idade. Estima-se que 1,5 milhão de crianças nesta idade
morrram a cada ano vítimas de doenças diarreicas, sobretudo em países em desenvolvimento.
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