Qua, 05
de Junho de 2013 11:33 por: cnbb
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Houve quem ficasse surpreso quando, na audiência
geral de 29 de maio passado, o Papa Francisco declarou que era pecador: “A
Igreja é a grande família dos filhos de Deus. Sem dúvida, ela também tem
aspectos humanos; naqueles que a compõem, Pastores e fiéis, existem defeitos,
imperfeições e pecados; até o Papa os tem, e tem tantos, mas é bom saber que
quando nos damos conta que somos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus,
que perdoa sempre”.
O Papa Francisco quer nos ensinar a humildade, que
começa com a confissão de que somos pecadores.
Ele é o vigário de Jesus Cristo
na terra. Jesus, sendo Deus santíssimo, tomou sobre si os nossos pecados:
“Aquele que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós
nos tornássemos justiça de Deus (2 Cor 5, 21). Jesus, inocente e puro, quis
passar por pecador. Foi assim que ele juntou-se ao povo para receber o batismo
de penitência dado por João no rio Jordão. Nós, ao invés, sendo pecadores,
queremos passar por santos. E ficamos indignados quando somos tratados como
pecadores! “Se dissermos que não temos pecado, estamos enganando a nós mesmos,
e a verdade não está em nós” (1Jo 1, 8).
Por isso a Igreja, mãe sábia, na sua sagrada Liturgia,
nos ensina sempre a humildade: “Eu, pecador, me confesso... porque pequei
muitas vezes..., por minha culpa, minha culpa, minha tão grande culpa”; com
muitas súplicas ao perdão e à misericórdia de Deus: “não olheis os nossos
pecados, mas a fé que anima a vossa Igreja”.
Subliminarmente, o Papa também quer combater o
carreirismo na própria Igreja, o gosto de aparecer, o desejo de nos
substituirmos a Jesus Cristo, o querer, na Liturgia, por exemplo, se suplantar
ao próprio Cristo, fazendo-nos os protagonistas da ação sagrada.
“Sede discípulos meus, porque sou manso e humilde
de coração, e encontrareis descanso para vós” (Mt 11, 29). A humildade é fonte
de paz, de fraternidade e união. É o oposto da hipocrisia. E para ser
humilde é preciso ser forte, corajoso e valente. É a temática jesuítica, muito
cara ao nosso Papa: “Acusar a si mesmo implica uma valentia pouco comum para
abrir a porta a coisas desconhecidas e deixar que os outros vejam além de minha
aparência. É renunciar à maquiagem,
para que se manifeste a verdade. Na base do acusar a si mesmo, que é um meio,
está a opção fundamental pelo anti-individualismo, pelo espírito de família e
de Igreja que nos conduz a nos assumirmos, como bons filhos e bons irmãos, para
mais tarde podermos vir a ser bons pais. Acusar a si mesmo implica uma postura
basicamente comunitária...” E como ele falou na última audiência, o
reconhecermo-nos pecadores atrai o perdão de Deus: “Quem acusa a si mesmo abre
espaço para a misericórdia de Deus; é como o publicano que não ousa levantar
seus olhos (cf. Lc 18, 13). Quem sabe acusar a si mesmo é um homem que sempre
se aproximará bem dos outros, como o bom samaritano, e , nessa aproximação, o
próprio Cristo realizará o acesso ao irmão” (Jorge Mario Bergoglio, S.J., Sobre
a acusação de si mesmo).
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