Seg, 03
de Junho de 2013 14:28 por: cnbb
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Celebramos quinta-feira passada a Solenidade do
Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Já é tradicional em nossa
Arquidiocese a procissão da unidade, saindo da Igreja da Candelária até a
Catedral de São Sebastião. Caminhamos com Cristo, somos chamados à missão e
buscamos a unidade. Rezamos de maneira especial diante do Santíssimo Sacramento
pelo êxito da JMJ Rio 2013. Colocamos nas mãos do Senhor os nossos trabalhos
e lutas para que os que estarão participando de perto ou de longe tenham um
verdadeiro encontro com Deus. Neste domingo, dia 2 de junho, estaremos todos
unidos ao Santo Padre na Hora Santa do Ano da Fé, ao meio-dia, em nosso
Santuário Nacional de Adoração Perpétua. Depois da feliz visita ao Papa
Francisco partilhando os sonhos de nossa Jornada Mundial da Juventude que ele
virá para presidir a nossa alegria em poder servir faz com que a oração seja
constante por todas essas intenções.
Ainda mais: na liturgia deste domingo, o exemplo do
oficial romano que proclama acreditar no “poder da Palavra” de Jesus nos faz
refletir sobre o Ano da Fé, fazendo ecoar em nossos ouvidos a constatação de
Jesus: “nunca vi tanta fé, nem mesmo entre o povo de Israel”.
A insistência do Papa Francisco para ir para as
“periferias do mundo” a fim de anunciar a Boa Notícia encontra aqui também uma
luz: os que estão longe também têm sede de Deus!
Como certa intolerância se instalou no coração e na
mente de muitos ao nosso redor que propagam suas ideias, é importante acatar
novamente esta palavra que nos faz ouvir do coração das pessoas que querem se
aproximar de Jesus para ter a vida. É o grande apelo à missionariedade!
Nessa nossa caminhada da Igreja na história que o
“tempo comum” da liturgia nos faz enxergar, agora nos apresentado nesse 9º
domingo, o Evangelho de Lucas 7, 1-10: Jesus cura o empregado de um oficial
romano.
A boa nova de Jesus chega até os ouvidos dos pagãos
do lugar. O oficial romano, o centurião, era chefe de um destacamento militar,
mas ele reconhece a autoridade da palavra de Jesus e intercede por um empregado
seu.
A liturgia hodierna nos ensina a valorizar o
diferente. Os discípulos valorizam a atitude e os serviços prestados deste
pagão e intercedem por ele. De um lado aparece a ida do Mestre até os
necessitados, acolhendo o apelo de um pagão que manifesta sua fé na palavra de
Jesus. De outro vemos também o lado da acolhida, que é ir ao encontro, além de
receber.
No atual contexto do nosso tempo, em que as pessoas
se tornaram distantes e desconfiadas e, paradoxalmente, conectadas com a
comunicação digital, Jesus que vai ao encontro de um pagão nos fala de acolhida
e missão.
Jesus missionário em visita. Como ótimo
missionário, atendendo aos rogos dos anciãos, Jesus se encaminha para fazer uma
visita ao doente. O centurião romano reconhece, entretanto, que não é digno
desta visita, mas acredita totalmente na palavra salvadora do Mestre. Sabemos
também das restrições religiosas sobre o encontro de um judeu com os pagãos.
Porém, o próprio centurião vem ao Encontro de Jesus e diz: "que se ele
disser uma única palavra o seu servo será salvo".
Aprender com Jesus é o método melhor e mais eficaz
para a ação pastoral e para um acolhimento mais amadurecido e sem falsas
ilusões.
Um primeiro dado desse gesto encontramos no
acolhimento de Jesus ao centurião de Cafarnaum (Lc 7,1-10; Mt 8,5-13). Foi uma
bela profissão
de fé que suscitou uma palavra de admiração de Jesus. O centurião suplica por
um dos seus servos, e ao perceber a atenção de Jesus e sua decisão em ir a sua
casa, ele faz aquela confissão que todos conhecemos: “Senhor, eu não sou digno
de que entres em minha casa; dize uma só palavra e meu servo será curado” (Mt,
8,8).
Foi uma troca de acolhida, uma reciprocidade de
impressionante beleza. Gestos alternados: de quem acolhe e de quem foi acolhido
e se sente infinitamente satisfeito. Duas atitudes que se completaram.
Além do aspecto da profissão da fé em Cristo, este
episódio do Evangelho pode nos iluminar nesse momento importante da cidade do
Rio de Janeiro, do Brasil, quando acolheremos milhares de jovens de quase 170
nações. É a importância da hospitalidade que deve estar em nosso coração e em
nossas atitudes.
A nossa complexa Pastoral Urbana nos questiona: “A
cidade pode ser uma fábrica de frustrações e de sofrimentos para aqueles que
ficam à margem do que ela tem para oferecer. Há muita gente perdida, sem
espaço, exposta ao anonimato solitário de um ambiente onde cada um cuida de si.
Catadores de lixo, mendigos, desempregados, prostitutas, meninos e meninas de
rua, migrantes sem teto são alguns dos “sobrantes” que a cidade exibe sem
conseguir integrar” (CNBB, Estudos 75, n. 38). Além de acolhermos os excluídos
da história devido às situações sociais e humanas, somos chamados a ir mais
longe: a concretizarmos com estes gestos a construção de uma sociedade que
constrói a civilização do amor.
Devemos assim acolher a todos, particularmente aos
que batem às portas de nossas comunidades, bem como ir ao encontro dos que
estão indiferentes. Há campo de sobra para o Ministro da Acolhida e para os
demais ministérios e pastorais para construir o Reino de Deus.
No mundo urbano em que vivemos, parece que todas as
relações humanas são muito “desumanas”, estão “contaminadas”, pois estão
fortemente marcadas por um sentido “comercial” fundamentado no “interesse”: te
dou isto e tu me dás aquilo.
A fé do centurião impressiona até Jesus, pois
acreditou em Sua Palavra como nenhum outro daquele povo. Assim, a liturgia
deste domingo nos ensina a valorizar as pessoas, é compromisso do missionário.
Acolher a todos, particularmente neste tempo de JMJ-Rio2013, abrir nossas casas
para acolher os peregrinos. A nossa fé deve ser a fé do centurião: "Diz
uma palavra e ele será salvo".
Experimentemos a misericórdia de Deus e acolhamos a
todos! Jesus vem nos salvar e nos pede que sejamos acolhedores com todos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário