Sex, 14
de Junho de 2013 08:44 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Até quando continuarão a matar moradores de rua na
capital dos mineiros? Este crime e muitos outros estão manchando de sangue a
história jovem, bela e promissora desta nossa amada cidade. Belo Horizonte
reúne possibilidades incontáveis para ser uma sociedade exemplar, fazendo jus à
condição de centro desta terra mineira, o lugar atraente da síntese das muitas
Minas que configuram um tesouro nacional: a mineiridade. Contudo, desafiadores
problemas nos afligem e demandam de todos nós, do poder público especialmente,
qualificação, velocidade e audácia para atingir metas mais cidadãs na constituição
de uma sociedade mais justa e solidária, servidora de todos, sobretudo dos
pobres.
Como se não bastassem os desafios que nos afligem
na contemporaneidade, ao se pensar a urgente necessidade de garantir moradia
digna para todos, de resguardar o atendimento cidadão no âmbito da saúde
pública, bem como o acesso à educação e ao mundo do trabalho, Belo Horizonte
está se tornando palco do horrendo massacre de moradores de rua. Nestes últimos
dois anos, a cifra chega a cem. Parafraseando o horror das destruições
profetizadas por Jesus, quando a sociedade perde parâmetros éticos, tratando
com descaso os problemas urgentes que afligem a vida das pessoas, é a
“abominação da desolação”.
A pauta de urgências para superar esse cenário
envolve muitos itens e demandas que estão exigindo de todos os cidadãos uma
redobrada atenção, um sentido de realidade mais apurado e um comprometimento
diuturno, que inclui tanto as pequenas ações de solidariedade como aquelas mais
encorpadas pela articulação de pessoas e instituições. Abrange também os
indispensáveis projetos estratégicos e sistêmicos dos governos em vista do bem
comum. Neste sentido, ao se considerar o processo construtivo da sociedade
belo-horizontina, o que vale para cada cidadão desta amada terra, desafiados pela
conturbada realidade das regiões metropolitanas, são as ações rápidas e
eficazes, medidas urgentes para que cessem aqui as mortes de moradores de rua.
A razão primeira é o respeito integral à dignidade
de cada pessoa, merecedora de todo o cuidado e zelo, por obrigação
governamental, por autenticidade de cidadania e pela força do amor que a fé
verdadeira guarda. É urgente, pois, um “acordar a sociedade inteira” para esse
problema gravíssimo: a violência contra moradores de rua, que está manchando
ainda mais de sangue a nossa história e os nossos dias. Serve de alerta o Livro
do Apocalipse, abertura do quinto selo; uma referência simbólica à história da
humanidade e seu destino. Conforme narra São João, os que estavam debaixo
do altar, imolados, gritaram em voz forte: “Senhor santo e verdadeiro, até
quando tardarás em fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes
da terra?”(Ap 6,10). Deus tem a condução da história. Todos nós seremos
julgados, pelo amor a cada pessoa que gera o respeito e compromisso cidadãos.
Particularmente, pelo amor que demonstrarmos pelos inocentes, pobres e
indefesos.
O tesouro
da fé cristã que se mistura ao patrimônio admirável das riquezas deste chão
mineiro deve renovar na sua capital e em cada recanto desta terra bendita uma
vivaz, profética e inspiradora opção preferencial pelos pobres. Trata-se de um
capítulo anterior, mais consistente em razões e raízes, aos projetos sociais
advindos das obrigações governamentais, pois é fundamental para que sejam bem
cumpridos. A opção preferencial pelos pobres nasce da fé em Jesus Cristo,
incontestavelmente o grande patrimônio de nossa cultura. O Evangelho é
fonte inesgotável de valores, educador da simplicidade de coração, da audácia
na busca do bem e da justiça. Um caminho para incentivar ações e atitudes
coerentes.
É hora de
limpar o sangue que mancha BH com o assassinato de moradores de rua. Que esta
urgência inspire campanhas para que não se mergulhe uma sociedade na violência,
para que não sejam configuradas realidades quase irreversíveis de insegurança e
injustiça. Ainda está em tempo para que cidades iluminadas pelo sol, que
desponta do alto de suas montanhas, cultivem o querer bem à dignidade de toda
pessoa. Da abominação dos assassinatos deve nascer, por gestos e palavras, um
tempo novo que seja para todos o “belo horizonte”.
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