Qua, 12
de Junho de 2013 13:32 / Atualizado - Qua, 12 de Junho de 2013 13:36 por: cnbb
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
São Tiago apóstolo nos adverte: “Se alguém julga
ser religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo: a sua
religiosidade é vazia... Todos nós tropeçamos em muitas coisas. Aquele que não
peca no uso da língua é um homem perfeito” (Tg 1, 26; 3, 2).
Na audiência geral de 22 de maio último, na qual
estive presente, Sua Santidade o Papa Francisco ensinou que em Babel tiveram
início a dispersão e a confusão das línguas, fruto da soberba e orgulho do homem;
o efeito, porém, da obra do Espírito Santo é a unidade e a comunhão: “Em
Pentecostes, estas divisões são superadas. Já não há orgulho em relação a Deus,
nem fechamento de uns aos outros, mas abertura a Deus, saída para anunciar a
sua Palavra: uma língua nova, do amor, que o Espírito Santo derrama nos
corações (cf.Rm 5, 5)... A língua do Espírito, do Evangelho, é a língua da
comunhão, que convida a superar fechamentos e indiferenças, divisões e
oposições. Cada um deve se perguntar: como me deixo guiar pelo Espírito Santo,
de modo que a minha vida e o meu testemunho de fé seja de unidade e comunhão?
Levo a palavra de reconciliação e amor, que é o Evangelho, aos ambientes onde
vivo? Às vezes parece repetir-se hoje o que aconteceu em Babel: divisões, incapacidade
de compreensão, rivalidades, inveja e egoísmo. Que faço na minha vida? Crio
unidade ao meu redor? Ou divido com mexericos, críticas e inveja. O que faço?”.
É uma preocupação recorrente na pregação do nosso
Papa, desde os tempos de Cardeal: o vício de acusar, apontar e condenar com a
língua, grande fator de divisão. Em espanhol, é cotillear; em bom português,
fofocar. Ele citava Santo Agostinho: “Há homens de juízo temerário, detratores,
maldizentes, murmuradores, suspeitosos do que não veem, procurando acusar do
que nem mesmo suspeitam” (Sermão 47). E continuava: “O falatório nos leva a nos
concentramos nas faltas e defeitos dos outros; desta maneira, acreditamos nos
sentir melhores. A oração do publicano no Templo ilustra essa realidade (Lc 18,
11-12), e Jesus já nos havia advertido sobre ver o cisco no olho do outro,
ignorando a trave em nosso próprio”.
“Falar mal dos outros é um mal para a Igreja toda,
pois não fica ali, no mero comentário, passa para a agressão (pelo menos no
coração). Santo Agostinho chama o murmurador de ‘homem sem remédio’: ‘os homens
sem remédio são aqueles que deixam de cuidar de seus próprios pecados para
reparar nos dos outros. Não buscam o que se há de corrigir, e sim o que podem
criticar. E, ao não poder escusar a si mesmos, estão sempre dispostos a acusar
os outros’ (Sermão 19)”.
“Não é raro encontrar nas comunidades grupos que
lutam para impor a hegemonia de seu pensamento e de sua preferência. Isso
costuma acontecer quando a caritativa abertura ao próximo é suprida por ideias
de cada um. Já não se defende o todo da família, e sim a parte que me toca. Já
não se adere à unidade que vai configurando o corpo de Cristo, e sim ao
conflito que divide, parcializa, debilita...” (Jorge Mario Bergoglio, S.J.,
Sobre a acusação de si mesmo).
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