Sex, 21
de Junho de 2013 09:18 por: cnbb
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
As manifestações populares destes últimos dias
configuram um fenômeno que merece análises e especial atenção da pátria Brasil.
Oportunidade para um debruçar-se lúcido sobre todos os aspectos envolvendo o
movimento, além das indicações novas daí advindas. À complexidade do fenômeno
juntam-se também características incomuns e com largas diferenças em relação a
fatos já ocorridos, desta mesma ordem, no âmbito de manifestações populares.
Considerável é, particularmente, o grande número de pessoas movidas por uma
demanda de protesto, que desafia a interpretação por não tratar-se de uma única
questão, uma única razão. Como se diz, uma única bandeira, bem definida e conceitualmente
dominável.
Em questão, há uma série de razões que afeta o
conjunto do funcionamento da sociedade brasileira. Certamente, não é um
fenômeno que explode como resultado de algumas situações provocadas num último
curto período de tempo. Ainda que alguns elementos tenham levado à eclosão das
manifestações. O que se tem presenciado é um estouro de algo que obviamente vem
sendo formatado, por isso ou por aquilo, e agora se configura nas
manifestações populares, protagonizadas especialmente pelos jovens. Esta
complexidade na análise das manifestações parece se apartar claramente do que
se enquadra nos repugnáveis atos de vandalismo e no uso de violência -
aproveitamento imoral da ocasião.
A análise deve ajudar na explicitação de causas e
configurar o necessário em medidas e posturas cidadãs para o momento novo que
precisa nascer deste contexto. O que se vê nas atitudes de protesto pacífico
não pode ser confundido ou misturar-se com a nebulosidade de vandalismos que
desrespeitam as pessoas e o patrimônio público. Ao contrário, o ser humano e o
patrimônio devem ser prezados e defendidos por todos, em qualquer
circunstância.
Inevitáveis são ações disciplinares preventivas e a
força que está no entendimento adequado das manifestações para impedir tudo o que
poderá desmerecer, ao menos em parte, a importância deste momento para a
sociedade brasileira. É, sobremaneira, lamentável ver pessoas feridas e as
depredações do patrimônio público gerando prejuízos como sombras emoldurando os
que, pacificamente, movidos por paixões e lúcidos por razões justas, expressam
exigências e demandas urgentes da sociedade.
Análises e opiniões a respeito da explicitação e do
entendimento do fenômeno destas manifestações já estão em crescente oferta. De
qualquer modo, especialistas são desafiados a compreender as raízes destes
acontecimentos que devem ir além, por exemplo, apenas da modificação das
tarifas de ônibus. É preciso alcançar o cerne do que está, de fato, se passando
na consciência dos cidadãos. Há muito trabalho de análise
socioantropológica, política e cidadã a ser feito. É plausível pensar,
particularmente, na necessidade de mudanças e práticas no horizonte de uma
sociedade democrática, com vistas à cultura da solidariedade e da paz. Não é
difícil concluir, mesmo fruto de uma análise não aprofundada, que as
manifestações, distanciadas de aspectos violentos, expressam o anseio por
mudanças, como questão central.
Essa aspiração popular aponta na direção da
qualificação do processo decisório no sentido de valorizar a participação
cidadã, o que exige diálogo com a sociedade. Consequentemente, investir na
“escuta” evitaria um processo de funcionamentos e encaminhamentos que ignora
necessidades e urgências na vida de todos, particularmente dos mais pobres.
Certamente, está em questão o repúdio à cristalização e burocratização de
mecanismos governamentais e também nos âmbitos mais comuns da vida da
sociedade.
A lista das questões consideradas na grande
bandeira, que é o anseio por mudanças, inclui desde a tarifa de ônibus ao justo
questionamento, por exemplo, da PEC 37, abrangendo o exercício da política na
sociedade brasileira, particularmente, a partidária. Por isso, também, as
manifestações não são motivadas e empurradas pela força que propriamente
poderia vir dos partidos políticos ou de outras instâncias institucionais.
As mudanças que parecem ser pretendidas tocam o
conjunto da sociedade brasileira. Claramente está se exigindo mais adequação
participativa nas decisões e na escolha de prioridades, nos modos de
operacionalizar tudo o que é essencial para uma vida digna. Providências
urgentes e medidas cabíveis são esperadas por parte dos responsáveis primeiros,
incluindo a participação singular de cada cidadão.
Permanecerá pedindo resposta a exigência do diálogo
necessário com a sociedade para que sejam sempre ouvidos seus clamores. É
hora propícia, à luz do que ainda vai brotar como indicativos pela
interpretação de peritos e do povo, para uma grande conversão no Brasil.
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