† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
No último dia 26 de maio, tive a grata alegria de
reinaugurar a Igreja de Santo Antônio dos Pobres, no centro da cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro. Naquela solene missa lembrei aos fiéis que nós temos uma
noticia importante para a sociedade e essa notícia é dada através da pregação
do Evangelho. É justamente isto que celebramos hoje: a vontade de sermos
melhores, de vivermos em comunidade, de vermos no outro não um inimigo, mas um
irmão.
Nesse sentido, estamos celebrando neste dia 13 de
junho a festa de Santo Antônio, um santo muito querido e venerado em nossa
cidade,
arquidiocese, mas amado por todo o povo brasileiro, que o segue como
grande apóstolo de Jesus Cristo! São muitas igrejas dedicadas a esse grande
homem de Deus. Em especial recordamos a tradição dos franciscanos do Largo da
Carioca – um marco nessa nossa centenária cidade.
Santo Antônio é representado com o lírio, símbolo
da sua pureza, ou com o Menino Jesus no colo, em recordação de uma milagrosa
aparição mencionada por algumas fontes literárias. Santo Antônio foi
prodigioso em santidade e dotado de rara inteligência e das qualidades cristãs
mais excelsas: equilíbrio, zelo apostólico e fervor místico.
Durante seus sermões, Santo Antônio falava uma só
língua, porém, frequentemente, era entendido por pessoas de outros países que
falavam outros idiomas. Seu Provincial aproveitou-se desse fato miraculoso e o
encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da antiga Romagna e
no norte da Itália. Ele tornou-se, então, um extraordinário pregador popular.
Santo Antônio propõe um verdadeiro itinerário de
vida cristã. É tanta a riqueza de ensinamentos espirituais contida nos
"Sermões", que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio
Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de "Doutor evangélico",
porque desses escritos sobressai o vigor e a beleza do Evangelho; que ainda
hoje podemos lê-los com grande proveito espiritual. Observamos nestes
Sermões que Santo Antônio fala da oração como de uma relação de amor, que
estimula o homem a dialogar docilmente com o Senhor, criando uma alegria
inefável, que suavemente envolve a alma em oração.
Santo Antônio recorda-nos que a oração precisa de
uma atmosfera de silêncio que não coincide com o desapego do rumor externo, mas
é experiência interior, que tem por finalidade remover as distrações causadas
pelas preocupações da alma, criando o silêncio na própria alma.
Para Santo Antônio, a oração é articulada em quatro
atitudes indispensáveis que como abrir com confiança o próprio coração a Deus;
é este o primeiro passo do rezar, não simplesmente colher uma palavra, mas
abrir o coração à presença de Deus; depois, dialogar afetuosamente com Ele,
vendo-o presente comigo; a seguir, muito naturalmente, apresentar-lhe as nossas
necessidades; por fim, louvá-Lo e agradecer-lhe.
Quando Santo Antônio pregava, as multidões acorriam
ao local aonde seria a pregação. Até os comerciantes fechavam seus
estabelecimentos e iam ouvi-lo. As cidades onde ele pregava paravam e a região
em torno delas também parava. Houve caso de se juntar até 30 mil pessoas num só
sermão! Os locais de culto tornavam-se pequenos para conter a multidão que vinha
ao encontro de Santo Antônio. Então, ele ia falar nas praças públicas. E,
quando terminava, "era necessário que alguns homens valentes e robustos o
levantassem e protegessem das pessoas que vinham beijar-lhe a mão e tocar-lhe o
hábito". O número de sacerdotes que o acompanhavam era pequeno para
ouvirem as confissões daqueles que, tocados por seu sermão, queriam
confessar-se e mudar de vida.
Ensina a historiografia católica que praticamente não havia coxo, cego ou paralítico que, depois de receber a sua bênção, não ficasse são. Foi grande o número de convertidos por ele. Em certa ocasião, converteu 22 ladrões que, apenas por curiosidade, tinham ido ouvi-lo...
Ensina a historiografia católica que praticamente não havia coxo, cego ou paralítico que, depois de receber a sua bênção, não ficasse são. Foi grande o número de convertidos por ele. Em certa ocasião, converteu 22 ladrões que, apenas por curiosidade, tinham ido ouvi-lo...
Num mundo secularizado como o nosso vale relembrar
o famoso milagre de Santo Antônio: para poder crer na presença real de Jesus na
hóstia consagrada, quero um milagre, era o que dizia um ateu por todos os
cantos onde andava. Para ele, o Santíssimo Sacramento era uma burla, uma
chantagem. Numa ocasião, diante de toda a cidade, fez a Santo Antônio uma proposta
arrogante: "Deixo minha mula sem comer durante três dias. Depois disso,
trago o animal até essa praça e ofereço feno e aveia para ela. Enquanto isso,
Frei Antônio, o senhor vai mostrar a ela a Hóstia Consagrada. Se a besta deixar
a comida de lado e der atenção à Hóstia, se ela a reverenciar como se a
adorasse, aí eu passo a acreditar. Passo a crer na presença de Jesus na
Eucaristia! Santo Antônio aceitou a proposta". Três dias depois, na praça
repleta, chega o homem puxando seu faminto animal. Santo Antônio também chegou.
Respeitosamente, o Santo trazia uma custódia com o Santíssimo Sacramento. O
incrédulo colocou o monte de feno e aveia próximos de onde estava Frei Antônio
e, confiante, soltou o animal. Conforme o que se havia combinado, a mula deveria
escolher sozinha entre o alimento e o respeito à Hóstia Consagrada. O suspense
geral foi quebrado quando o animal, livre de seus cabrestos, calmamente dobrou
seus joelhos diante da Custódia com o Santíssimo Sacramento. Um milagre
suficiente para converter até hoje aqueles que repudiam a presença real de
Jesus na Eucaristia.
Santo Antônio nos ensina o crer. Crer num mundo
secularizado como o nosso! Crer e testemunhar Jesus Cristo ressuscitado! Neste
mês em que o Papa Francisco nos convida, através do Apostolado da Oração:
"Que nos ambientes onde mais se percebe a influência do secularismo, as
comunidades cristãs possam promover com eficácia uma nova evangelização",
eu proponho que tenhamos em Santo Antônio, timoneiro da santidade, a graça de
pregar aquilo que vivemos, testemunhando a santidade de Cristo que Antônio
testemunhou a todos os homens e mulheres de boa vontade.
Santo Antônio nos dá o exemplo da confiança em
Deus, e pela sua palavra ele nos conduz ao coração da Santíssima Trindade.
Santo Antônio, intercedei por nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário