Ter, 25 de Setembro de 2012 10:30 por: cnbb
Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Popularmente se diz: “Saco vazio não
para em pé”, ou seja, para se caminhar ou realizar algo é preciso
alimentar-se. Foi o que um anjo falou para Elias, que estava desanimado e
sem força para caminhar: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a
percorrer” (1 Reis 19,7). Depois de comer pela segunda vez o profeta andou
quarenta quilômetros para realizar a missão indicada pelo anjo.
Todo ser humano tem sua missão a
cumprir, inerente à sua dignidade, isto é, a de se realizar já aqui na terra,
com a perspectiva do eterno. Para isso, deve ajudar a conseguir suporte
para uma vida de sentido, com meios materiais, culturais e espirituais para sua
caminhada realizadora. O cultivo da terra e dos dons é indispensável para o
serviço a cada um. Ninguém é uma ilha autossuficiente. Cada um tem compromisso
de promover a vida e a dignidade do semelhante para ter um resultado positivo
também para si. Quem acumula possibilidades em detrimento ou com o que seria
dos outros não desenvolve a missão de contribuir com a caminhada existencial de
todos. Por isso é que temos
injustiças, fome, miséria, guerras , todo
tipo de desordem social e degradação do meio ambiente. Quando falta
solidariedade há inanição, quebra da possibilidade de muitos cumprirem a
própria missão de atingir seu objetivo realizador na vida.
Com as virtudes humanas e sobrenaturais
a pessoa se desenvolve com alegria e benignidade. S. Paulo lembra tais
virtudes: “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos
mutuamente... Sede imitadores de Deus... Vivei no amor” (Efésios 4, 32;
5,1.2). Cada um é marcado pelo Espírito Santo para a própria libertação
(Cf. Efésios 4,30).
Mas só o alimento material não é
suficiente para o ser humano se realizar plenamente. É preciso o alimento
consistente da graça de Deus. Mais: Alimentar-se do próprio Deus é possível e
necessário, como Jesus fala e realiza. Ele se faz alimento para nós: “Eu
sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão
que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Nem todos
comem desse alimento. Daí a missão de fazê-lo conhecido, aceito e utilizado por
quem quer viver a vida diferenciada do Cristo. Mas Ele desafia quem O segue
para uma vida de sentido, assumindo a missão de também dar vida aos outros, no
amor e na justiça compartilhados.
Não basta comungar da Eucaristia. É
preciso aceitar seguir o que o divino hóspede indicar. É importante receber o
alimento, mas a finalidade dele é para termos força suficiente para caminharmos
e levarmos a termo nossa missão de transformar a convivência humana e
realizadora para todos, com os novos critérios de fraternidade. A grande caminhada
existencial exige ser abastecida com o alimento suficiente e adequado. Temos o
grande desafio de implantar os critérios de convivência sadia para todos:
formar famílias de real base de formação integral; fazer da política um
instrumento de implantação da cidadania para todos; utilizar os frutos do
desenvolvimento para um real serviço à pessoa humana... Para tanto, os meios de
subsistência material, espiritual e cultural devem ser democratizados, a ponto
de todos os terem acessíveis.
FONTE: http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-jose-alberto-moura/10375--caminhar-alimentado
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