Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
O tema da 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo
dos Bispos, que será realizada em Roma, de 7 a 28 de outubro deste ano, é da
maior importância para a vida e a missão da Igreja: “Nova evangelização para a
transmissão da fé cristã”.
Lemos no Livro de Josué que o povo hebreu, depois
de ter experimentado as maravilhas de Deus durante o Êxodo e a peregrinação
para a terra prometida, deixou-se levar pela idolatria, esquecendo o Deus que
os havia salvado. Josué, então, reuniu o povo e o colocou diante dessa escolha:
“se lhes desagrada servir a Deus, então sirvam aos ídolos!” Era uma provocação,
pois todos sabiam que os ídolos nada podiam e eram pura criação humana: “deuses
ao gosto do homem”. O próprio Josué, porém, acrescentou: “de todo jeito, eu e
minha família serviremos ao Senhor!”
O povo passou a recordar o que Deus já havia feito
por ele; em outras palavras, lembrou o patrimônio de sua fé e fez uma espécie
de “nova evangelização”, já naqueles tempos! E concluiu: “nem pensar em
abandonar a Deus, para servir aos ídolos! Nós também serviremos ao Senhor,
porque ele é nosso Deus!” (cf. Js 24, 1-2.15-18). E, assim, todos renovaram sua
fé e sua fidelidade a Deus. É onde também nos deve levar o Ano da Fé, que será
aberto pelo Papa no dia 11 de outubro.
A Igreja já vem refletindo há algum tempo sobre a
necessidade de uma “renovada evangelização”; na Conferência de Aparecida, os
bispos da América Latina e do Caribe trataram dessa questão; no Documento de
Aparecida se diz, entre outras coisas, que a Igreja não pode ficar parada,
apenas conservando e administrando o que já fez e conseguiu; mas que ela
precisa ir ao encontro das novas situações, necessidades e desafios, trazidos
pelas mudanças sociais e culturais, que não estão mais permeados com o
fermento, o sal e a luz do Evangelho de Cristo.
Muitas pessoas deixaram de crer, ou não sabem mais
no que creem; ficaram distantes da prática da vida cristã e da participação na
vida eclesial, ou abandonaram a fé católica. Por isso, é preciso
proporcionar-lhes uma renovada experiência da fé cristã, o que só é possível
mediante um renovado encontro pessoal com Deus, por meio de Jesus Cristo, na
graça do Espírito Santo. Tudo isso requer uma verdadeira conversão pastoral de
toda a Igreja, suas pessoas, organizações e estruturas, para se colocarem em
estado permanente de missão e terem novos focos e preocupações em sua ação
evangelizadora. Não só o mundo oferece desafios novos à missão da Igreja, mas
esta mesma tem necessidades e urgências novas.
Por isso, o foco da próxima Assembleia do Sínodo
dos Bispos será a transmissão da fé cristã: o que é preciso fazer, e como, para
que a fé cristã não fique diluída no esquecimento e no indiferentismo, mas
continue a ser valorizada e transmitida? Que fazer para que os católicos tenham
um novo apreço pelo patrimônio da sua fé, herdada dos apóstolos, do testemunho
dos mártires e santos, dos missionários, pregadores, teólogos, mestres da fé,
místicos, pessoas simples e cultas, que transmitiram essa herança preciosa de
geração em geração, antes de nós, e a enriqueceram com sua própria experiência
e testemunho?
Um dos agentes determinantes para a transmissão da
fé é a família; são os pais que pedem o Batismo para os filhos e lhes dão a
iniciação à vida cristã ainda nos primeiríssimos anos de vida; depois os
introduzem na comunidade de fé, que é a Igreja, através da paróquia e da
Igreja, de forma mais ampla. E continuam a narrar aos filhos as memórias da fé,
fazendo conhecer a vida de Jesus e dos primeiros cristãos, dos mártires e
santos, grandes testemunhas da fé ao longo da história bimilenar da Igreja
Católica; e não deixam de dar seu próprio testemunho de apreço à fé,
praticando-a, rezando com os filhos, e diante deles, participando da comunidade
de fé. Ou não o fazem. E deixam de transmitir aos filhos a fé...
Talvez esse seja um dos fatores principais da
transmissão da fé e da crise de fé que vivemos hoje. De fato, cada batizado,
tornado-se um discípulo-missionário de Jesus Cristo, assume também a tarefa de
transmitir a fé aos outros, sem retê-la para si, nem, pior ainda,
abandonando-a. Seria muito triste passar a vida inteira sem transmitir a fé a
alguém, sem ajudar ninguém mais a se encontrar com Deus. Josué deu o bom
exemplo: “eu e minha família continuaremos a servir o Senhor!”
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