QUI,
20 DE SETEMBRO DE 2012 15:52POR: CNBB
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Neste mês da Bíblia,
a Palavra de Deus deste domingo nos traz o envio para a nossa missão de viver a
vida cristã com intensidade. Ter os ouvidos abertos e a língua destravada
recorda para nós a palavra do “éfeta” batismal que recebemos e que deve repercutir
em nossas vidas.
Na primeira leitura o
profeta Isaías transmite uma mensagem de esperança para os israelitas que estão
exilados na Babilônia. Eles se questionam diante da realidade dos massacres por
conta dos soldados caldeus. Casas destruídas e lavouras em chamas. Isaías os
conforta com uma palavra de esperança: “Coragem! Não temais! O vosso Deus vem
para vos salvar!” (v.4), e afirma mudanças extraordinárias.
As palavras do
profeta servem, também, para nós nos momentos de desânimo. É também a confiança
de que os que buscam viver a vida cristã têm esperança que os tempos novos
acontecem com aqueles que se deixam conduzir pela Sua Palavra.
São Tiago, na segunda
leitura, mostra o preconceito e a discriminação entre ricos e pobres. Também
aqui a consequência do Evangelho: quem vive a vida cristã saberá tratar a todos
com igualdade. Atitude que não virá por uma ideologia, mas pela conversão do
coração sabendo encontrar-se com Jesus Cristo em cada irmão. Mas S. Tiago
questiona: “Suponde que entre em vossa reunião um homem com anel de ouro... e
entre também um pobre com traje sujo ou gasto...” (vv.1-4). Mas Deus escolheu
os pobres deste mundo para serem testemunhas do seu Reino.
Os pobres não eram
apenas aqueles que não possuíam bens, mas também os doentes, os menos
favorecidos, os excluídos da sociedade, os leprosos, as viúvas, e assim por
diante. Os lugares das autoridades podem até desaparecer, mas infelizmente a
marca do preconceito continua na sociedade do ser, do ter e do poder. Por isso
somos convocados a apresentar e vivenciar sinais concretos de fraternidade e
igualdade para que com dignidade possamos ouvir a Palavra de Deus e nos
aproximar da Santa Eucaristia e, consequentemente, dos nossos irmãos que clamam
por Justiça Social.
A narrativa do
Evangelho deste XXIII Domingo do Tempo Comum mostra uma importante atitude de
Jesus. Para curar um surdo-mudo Jesus o afasta do grupo, leva-o para fora.
Sinal da necessidade de uma preparação séria para a vida cristã. Aquele que
começa a Iniciação Cristã deve ter essa experiência. É uma clara alusão ao
batismo e a necessidade de ter os ouvidos abertos para ouvir a Palavra de Deus
para que a língua se destrave para o louvor do Senhor. Nesse caso fica claro
que se trata de quem não aderiu a fé e nem celebra a salvação.
Por isso se torna
surpreendente o gesto de Jesus na cura relatada na perícope de Marcos que hoje
refletimos. Jesus inaugura um novo diálogo entre o humano e o Divino, entre o
céu e a terra. Nosso Senhor descerra os ouvidos e o coração para que todos
possam ouvi-Lo, acolhe-Lo e anunciá-Lo fortificados pela fé.
Será que hoje não
assumimos o papel do surdo-mudo quando levados pela cultura paganizada deixamos
de ouvir a Voz do Senhor e mudos quando não anunciamos o Evangelho ou porque
temos vergonha de manifestar nossa catolicidade?
A cura apresentada nesta narrativa vem nos mostrar a iniciativa de Jesus, como lição para nós, de um novo relacionamento humano de diálogo e compreensão.
A cura apresentada nesta narrativa vem nos mostrar a iniciativa de Jesus, como lição para nós, de um novo relacionamento humano de diálogo e compreensão.
O remédio para a cura
da nossa surdez-mudez está na adesão à Palavra de Deus. Se fizermos isto também
teremos o poder do milagre de abrir a boca, os ouvidos e o coração de muitos
que não escutam a Palavra de Deus.
Outro detalhe: o
surdo-mudo é trazido até Jesus por algumas pessoas. Nas suas condições poderia
vir sozinho. Diferente do cego de Betsaida. Mas com isso Marcos quer nos
mostrar e educar que os que já fizeram e vivenciaram a experiência com Jesus
também conduzem os outros até ele. Quem você já levou para a catequese, missa
dominical, para uma experiência com Jesus na escuta de sua Palavra e no contato
com a Eucaristia?
Jesus toca os ouvidos
dele para fazê-lo ouvir, depois usa a saliva na língua do mudo. A saliva,
naquele tempo, era considerada como que um concentrado do hálito, também
compreendido como materialização da respiração. Desta forma isto representa o
sopro do Espírito de Jesus sobre ele. E o “Effata” (abre-te) é uma convocação
para que ele seja anunciador dos valores e sinais do Reino.
No final vemos a
multidão alegre pela recuperação deste surdo-mudo. Louva pela vida de um novo
cristão que sabe ouvir a voz de Deus e proclama as Suas maravilhas. Canta e
aclama o que foi realizado. Isto nos convida a sempre se alegrar por alguém que
retorna à comunidade, que voltou à Igreja, que agora também pode proclamar a
glória de Deus manifestada na vida de cada irmão e irmã! Assim seja!
Nenhum comentário:
Postar um comentário