sábado, 22 de setembro de 2012

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QUI, 20 DE SETEMBRO DE 2012 15:52POR: CNBB

Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Neste mês da Bíblia, a Palavra de Deus deste domingo nos traz o envio para a nossa missão de viver a vida cristã com intensidade. Ter os ouvidos abertos e a língua destravada recorda para nós a palavra do “éfeta” batismal que recebemos e que deve repercutir em nossas vidas.
Na primeira leitura o profeta Isaías transmite uma mensagem de esperança para os israelitas que estão exilados na Babilônia. Eles se questionam diante da realidade dos massacres por conta dos soldados caldeus. Casas destruídas e lavouras em chamas. Isaías os conforta com uma palavra de esperança: “Coragem! Não temais! O vosso Deus vem para vos salvar!” (v.4), e afirma mudanças extraordinárias.
As palavras do profeta servem, também, para nós nos momentos de desânimo. É também a confiança de que os que buscam viver a vida cristã têm esperança que os tempos novos acontecem com aqueles que se deixam conduzir pela Sua Palavra.

São Tiago, na segunda leitura, mostra o preconceito e a discriminação entre ricos e pobres. Também aqui a consequência do Evangelho: quem vive a vida cristã saberá tratar a todos com igualdade. Atitude que não virá por uma ideologia, mas pela conversão do coração sabendo encontrar-se com Jesus Cristo em cada irmão. Mas S. Tiago questiona: “Suponde que entre em vossa reunião um homem com anel de ouro... e entre também um pobre com traje sujo ou gasto...” (vv.1-4). Mas Deus escolheu os pobres deste mundo para serem testemunhas do seu Reino.
Os pobres não eram apenas aqueles que não possuíam bens, mas também os doentes, os menos favorecidos, os excluídos da sociedade, os leprosos, as viúvas, e assim por diante. Os lugares das autoridades podem até desaparecer, mas infelizmente a marca do preconceito continua na sociedade do ser, do ter e do poder. Por isso somos convocados a apresentar e vivenciar sinais concretos de fraternidade e igualdade para que com dignidade possamos ouvir a Palavra de Deus e nos aproximar da Santa Eucaristia e, consequentemente, dos nossos irmãos que clamam por Justiça Social.
A narrativa do Evangelho deste XXIII Domingo do Tempo Comum mostra uma importante atitude de Jesus. Para curar um surdo-mudo Jesus o afasta do grupo, leva-o para fora. Sinal da necessidade de uma preparação séria para a vida cristã. Aquele que começa a Iniciação Cristã deve ter essa experiência. É uma clara alusão ao batismo e a necessidade de ter os ouvidos abertos para ouvir a Palavra de Deus para que a língua se destrave para o louvor do Senhor. Nesse caso fica claro que se trata de quem não aderiu a fé e nem celebra a salvação.
Por isso se torna surpreendente o gesto de Jesus na cura relatada na perícope de Marcos que hoje refletimos. Jesus inaugura um novo diálogo entre o humano e o Divino, entre o céu e a terra. Nosso Senhor descerra os ouvidos e o coração para que todos possam ouvi-Lo, acolhe-Lo e anunciá-Lo fortificados pela fé.
Será que hoje não assumimos o papel do surdo-mudo quando levados pela cultura paganizada deixamos de ouvir a Voz do Senhor e mudos quando não anunciamos o Evangelho ou porque temos vergonha de manifestar nossa catolicidade?
A cura apresentada nesta narrativa vem nos mostrar a iniciativa de Jesus, como lição para nós, de um novo relacionamento humano de diálogo e compreensão.
O remédio para a cura da nossa surdez-mudez está na adesão à Palavra de Deus. Se fizermos isto também teremos o poder do milagre de abrir a boca, os ouvidos e o coração de muitos que não escutam a Palavra de Deus.
Outro detalhe: o surdo-mudo é trazido até Jesus por algumas pessoas. Nas suas condições poderia vir sozinho. Diferente do cego de Betsaida. Mas com isso Marcos quer nos mostrar e educar que os que já fizeram e vivenciaram a experiência com Jesus também conduzem os outros até ele. Quem você já levou para a catequese, missa dominical, para uma experiência com Jesus na escuta de sua Palavra e no contato com a Eucaristia?
Jesus toca os ouvidos dele para fazê-lo ouvir, depois usa a saliva na língua do mudo. A saliva, naquele tempo, era considerada como que um concentrado do hálito, também compreendido como materialização da respiração. Desta forma isto representa o sopro do Espírito de Jesus sobre ele. E o “Effata” (abre-te) é uma convocação para que ele seja anunciador dos valores e sinais do Reino.
No final vemos a multidão alegre pela recuperação deste surdo-mudo. Louva pela vida de um novo cristão que sabe ouvir a voz de Deus e proclama as Suas maravilhas. Canta e aclama o que foi realizado. Isto nos convida a sempre se alegrar por alguém que retorna à comunidade, que voltou à Igreja, que agora também pode proclamar a glória de Deus manifestada na vida de cada irmão e irmã! Assim seja!

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