Qui, 20 de Setembro de 2012 15:49 por: cnbb
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
No dia da Exaltação da Santa Cruz, a
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro lançará para o mundo, através
do Comité Organizador Local da JMJ Rio 2013, o Hino Oficial desse evento jovem
que está movimentando a Igreja de nossa cidade.
O lançamento será no Bairro de Santa
Cruz, que nesse dia completa 445 anos, e onde acontecerá também a Vigília e a
Missa de Envio no encerramento da JMJ em julho do próximo ano.
Estamos todos unidos à cruz da JMJ, que
ora está na região Amazônica e que já atravessou mais da metade do país. Ela
foi enviada pelo Beato Papa João Paulo II, iniciador das Jornadas Mundiais da
Juventude, para que o povo jovem anunciasse Jesus Cristo a todas as nações.
A cruz, hoje acompanhada pelo ícone de
Nossa Senhora, chegará ao Rio de Janeiro às vésperas da Jornada. Será então o
grande momento do protagonismo juvenil capaz de
transformar o mundo para
melhor. É esse o sentido de nossa oração e é também esse o sentido do hino
oficial da Jornada Mundial da Juventude que está sendo lançado nesta festa.
Foram muitas as contribuições (mais de
180) que vieram do mundo inteiro. Uma equipe especializada escolheu os vinte
possíveis hinos, que, depois de outra seleção, chegou-se aos três mais cotados.
Todos poderiam ajudar o jovem a cantar sua fé e sua esperança. Porém, tínhamos
que escolher apenas um deles. Agora é conhecê-lo, divulgá-lo, traduzi-lo nas
diversas línguas e manifestar a alegria jovem que brota do coração do Redentor
que bate forte pelo povo que Ele salvou.
A festa da exaltação da Santa Cruz
remonta ao século IV. Segundo a “Crônica de Alexandria”, Helena, a mãe do
Imperador Constantino, encontrou a Cruz original da crucificação de Jesus. Isso
teria sido em 14 de setembro do ano 320. Sobre esses fatos surge a comemoração
anual, o que é atestado por volta do quinto século. A data é comum tanto no
Ocidente quanto no Oriente, quando o Papa Sergio I (687-701) ordenou a sua
festa.
Porém, outra explicação mais
catequética é que a data de 14 de setembro foi preparada com o simbolismo dos
40 dias. Na verdade, 28-29 de junho – festa dos apóstolos Pedro e Paulo –
comemora-se no Judaísmo a transfiguração de Moisés no Monte Sinai (Êxodo 34,
29-35); após 40 dias, a seis de agosto, nós celebramos a Transfiguração do
Senhor; e, finalmente, 40 dias depois, em 14 de setembro, a festa da Santa
Cruz.
A escolha também foi ditada,
certamente, por outras idéias teológicas como, por exemplo, uma referência à
festa das Tendas, que varia a cada ano a partir de meados de setembro para
outubro, quando se celebra a festa da luz, o santuário e o altar.
Precisamente o que a Cruz e a
Ressurreição do Senhor tinham cumprido através da economia do memorial
permanente da redenção, que se deu precisamente na cruz.
A cruz é para os cristãos a árvore da
vida, o tálamo, o trono, o altar da nova e eterna aliança. Uma vez que Cristo,
novo Adão, adormecido na Cruz, deu à luz o admirável sacramento da Igreja, a
cruz se torna o sinal do senhorio de Cristo sobre aqueles que são configurados
no Batismo com Ele na morte e na glória. Na Patrística, é o sinal do Filho do
Homem que aparecerá no final dos tempos.
O amor todo se manifesta na Cruz. Santa
Teresa d’Ávila disse em seus colóquios de amor com Cristo: “a cruz é vida e
conforto, o único caminho para o céu”. Assim, a Cruz, antes de ser sinal de
tortura e de sofrimento, é sinal de misericórdia, esperança, abrigo, reflexão,
inspiração, perdão, paixão, amor, paz e vitória sobre o sofrimento e a dor.
Jesus Cristo se ofereceu livremente à
Paixão da Cruz e abriu o sentido e o destino de nossa vida. Com Ele temos na Cruz
os braços abertos e o coração aberto a serviço do Pai. Nele conseguimos ver e
sentir a esperança, a eternidade.
A Cruz é uma história de amor, o
sentido maior do esvaziamento (Kenosis) do Filho, onde Ele demonstra que Seu
amor não tem limites, e que mesmo o medo da morte não poderia manchar o seu
compromisso maior: fazer a vontade do Pai.
A Sua morte foi, sim, o início de Sua
glorificação, pois o próprio Pai O exaltou. O que se exalta não é a
cruz/sofrimento. O que se exalta é o amor incondicional de um Deus que
partilhou a nossa condição humana e comprometeu-se com a realização do Reino
até o fim. Na Cruz, Cristo, hoje Ressuscitado, deu a vida por nós. Por isso
“nossa glória é a Cruz onde nos salvou Jesus”.
Temos que exaltar o Cristo que, tendo
amado os seus, amou-os até o fim (Jo 13,1). E exaltar a Deus que deu Seu filho
unigênito para que todos tenham vida em Seu nome (Jo 3, 16 e Gn 22, 2).
O próprio Deus quis tornar-se um de
nós, até mesmo no sofrimento e na tristeza de alma. Um Deus que nos envolve com
Seu amor extremado, infinito, demonstrado não em grandes mistérios, mas em
verdade e em vida.
Cada vez que fazemos o sinal da cruz
invocando a Santíssima Trindade recordamos desse mistério. Por isso trazemos a
cruz em nossas Igrejas, casas, locais de trabalho, conosco – acreditamos em um
Deus que deu a vida por nós e tornou a cruz um sinal de salvação. O cristão
sabe, pela cruz, que a nossa limitação nunca será capaz, nunca será suficiente
para contemplarmos toda essa imensidade de amor. Mas, nela, na Cruz, podemos
experimentar esse amor. E a única chave de compreensão de nossa existência é
certamente pelo amor. Só o amor explica a nossa vida, e nos solicita para a
vida. Assim celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, ou a festa da
Exaltação do Supremo Amor.
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