Sex, 05 de Julho de 2013 11:27 / Atualizado - Sex, 05 de Julho de 2013 11:28 por: cnbb
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
A dimensão da “peregrinação” faz parte do espírito
da JMJ. Eis que estamos às portas, e jovens do mundo inteiro estarão acorrendo
ao Santuário Mundial da Juventude para o encontro com Cristo juntamente com o
primeiro peregrino, o sucessor do Apóstolo Pedro, o Papa Francisco, em sua
primeira viagem apostólica. Os jovens não virão à nossa cidade para fazer
turismo, nem para outras atividades que não seja um encontro amoroso com Cristo
Ressuscitado, abrindo o seu coração e a sua alma para acolher Cristo e a
mensagem contida no Evangelho. Virão como peregrinos.
Este é o espírito da
Jornada. Por isso a acolhida simples, a caminhada para o “Campus Fidei”, o
tempo de oração e reflexão.
Todas as vezes que nós vamos peregrinar, e a
peregrinação é sempre a um lugar santo, como os Santuários Marianos ou os
outros locais de devoção cristã, devemos nos preparar espiritualmente. Em
primeiro lugar precisamos fazer um exame de consciência completo de nossa vida
cristã, de nossa pertença às comunidades e de nossa adesão ao Evangelho. Eu
mesmo recordei a todos os voluntários e famílias acolhedoras para que vivessem
o tempo de espera em oração, confissão, penitência para crescerem na fé. Somos
chamados a nos arrepender de nossos pecados, procurando deixar de lado tudo
aquilo que nos afasta de Deus e da Santa Igreja. A nossa unidade como Igreja
fará a diferença nesse momento tão importante de nossa caminhada. Também os que
aqui residem podem ter o espírito de peregrino acolhendo os irmãos na fé. Como
eu sigo Jesus Cristo? Como eu vivo o Evangelho? Esta deve ser a nossa
preocupação fundamental nesse itinerário espiritual tanto para os que chegam
como para os que acolhem os jovens aqui no Santuário Mundial da Juventude.
Todo ser humano é um ser em caminho. Esta
característica exprime-se e alimenta-se quer na viagem existencial de cada
pessoa que percorre um itinerário ao longo do seu tempo de vida com todas as
vicissitudes que o marcam, quer nas múltiplas viagens que ela realiza pelas
estradas do mundo, por necessidades e interesses vários. Um dos motivos para a
viagem é a fé. O homem põe-se a caminho à procura de Deus ou atraído para o
encontro com Ele: “Tu atraíste-nos para Ti, Senhor, e inflamaste os nossos
corações”. Quando o peregrino parte movido pela fé, animado de verdadeiro
espírito religioso em resposta a um apelo e impulso divinos, então podemos
dizer que ele faz uma “santa viagem”. Com o seu ato adora a Deus, põe-se à
escuta da sua voz, acolhe o Evangelho, manifesta o seu amor e a sua fé para com
Deus e cultiva a sua espiritualidade. A peregrinação religiosa é uma constante
na história da humanidade e da Igreja. É motivada pelo fascínio exercido pelos
“lugares santos” ou pela esperança de dar passos em sua caminhada espiritual,
ou mesmo para pedir ou agradecer situações existenciais. Frequentemente, o
peregrino leva no coração a gratidão por alguma graça alcançada ou o desejo de
cumprir determinada promessa que fez. Normalmente, os santuários são a meta das
peregrinações religiosas. Pelos acontecimentos e graças que neles se verificam,
os santuários são memória viva da manifestação de Deus e das maravilhas que Ele
ali realiza em favor dos seus fiéis; são também sinais da Sua proximidade e disponibilidade
para com os homens, beneficiados com os dons espirituais que recebem; tornam-se
igualmente lugares de esperança para alívio e consolação das tribulações e
anseios humanos.
A peregrinação, enquanto ato religioso em direção a
um lugar sagrado, constitui um memorial dos acontecimentos e graças de Deus que
nele se realizaram. Torna-se, com frequência, para muitos peregrinos,
experiência da presença e ação de Deus junto dos que Nele confiam. E dá corpo à
súplica confiante e humilde de ajuda e ação de graças mediante atitudes, gestos
e palavras. Por isso, quem vem ao Rio de Janeiro é um peregrino que quer se
abrir ao Redentor, que do alto do Corcovado está de braços abertos conclamando
os peregrinos a irem ao Seu Divino Encontro. A narração evangélica da
peregrinação da Sagrada Família de Nazaré ao templo de Jerusalém, permite-nos
compreender o mais importante do objetivo e da espiritualidade desta prática
religiosa (Lc 2, 41-52). O objetivo dessa família era cumprir a lei de Deus,
adorando-O no seu templo (cf. Ex 23,16; Dt 16,16). Todo aquele que se faz
peregrino centra-se em Deus, procura escutar e obedecer a voz do Espírito que o
guia nos seus caminhos e o faz entrar na comunhão com Deus. E o fruto da
peregrinação, semelhante ao que viveu Jesus, será o crescimento em sabedoria e
graça diante de Deus e dos homens.As peregrinações evocam nossa caminhada pela
terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes de renovação da
oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas,
lugares excepcionais para viver "como Igreja" as formas da oração
cristã.
Ao virem como peregrinos ao Rio de Janeiro, a
caminhada é para que o encontro com o Senhor juntamente com jovens do mundo
inteiro, que são muito bem-vindos, os faça viver como discípulos à “luz da fé”,
que os levem a retornar para suas casas como animados missionários: "Ide e
fazei discípulos entre todas as nações!" (cf. Mt 28, 19). Fazer
discípulos, chamar outros para a comunhão e o convívio com o Senhor é o tema mais
querido do Evangelho de São Mateus. Esse mandato, essa missão já está anunciada
em todo o Evangelho. E, na verdade, só faz discípulo quem já é discípulo, quem
convive com o Senhor.
Neste tempo de “mudança de época”, em que a nossa
juventude assume o seu profetismo cristão nas manifestações pacíficas e com
objetivos claros de cidadania, todos nós, como peregrinos cristãos, somos
chamados a ser “protagonistas de um mundo novo”. Por isso mesmo, o peregrino
discípulo-missionário pauta sua vida pela disponibilidade e fraternidade. Quer
fazer uma verdadeira experiência de comunhão com Cristo e com os irmãos e
irmãs. Não procura levar vantagem em nada por se colocar a serviço e tampouco
desanima com as dificuldades próprias de uma grande concentração. Ele, com
isso, ganha a pertença ao Reino, ganha a certeza do amor de Deus, ganha a
certeza de ser para os outros sinal cândido de misericórdia e de amor. O
peregrino, com certeza, ganha o levar e doar a paz do Senhor. Leva no seu
coração e reparte com os outros a esperança de tempos novos. São frutos e dons
que o mundo necessita muito e que cada um que chega como peregrino deverá levar
para sua casa. No mundo de hoje, com as violências, guerras, corrupção,
maldade, divisão, dependências e frustrações, o peregrino é sinal que em Cristo
Ressuscitado, razão única de sua vida a esperança, tem seu
fundamento. Sejam todos muito bem-vindos! Desejo uma boa preparação para
este espírito de peregrinação que a todos nós deve mover para ir ao encontro do
Redentor!
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