Sáb, 27
de Julho de 2013 22:08 / Atualizado - Sáb, 27 de Julho de 2013 22:37 por: CNBB
Na fria noite deste sábado, 27 de julho, diante dos
mais de 3 milhões de peregrinos que participam da Vigília da JMJ, na praia de
Copacabana, o Papa Francisco recordou a história de São Francisco de Assis,
chamado por Deus para reconstruir a sua Igreja. “Chamado a colocar-se a serviço
da Igreja, para que transparecesse nela a face de Cristo. Queridos jovens: o
senhor precisa de nós! Também chama a cada um de nós a segui-lo em sua Igreja e
a ser missionários. O Senhor, hoje, os chama. Chama a cada um de vocês,
individualmente”.
O Santo
Padre fez também uma leitura espiritual da mudança do local da realização da
Vigília. “O verdadeiro campo da fé somos todos nós: somos eu e você! Quando
aceitamos a Palavra do Senhor nos tornamos o verdadeiro Campus Fidei”. A
seguir, a íntegra do discurso:
“Queridos
jovens,
Acabamos recordar a história de São Francisco de
Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: 'Francisco,
vai e repara a minha casa'. E o jovem Francisco responde, com prontidão e
generosidade, a esta chamada do Senhor: 'Repara a minha casa. Mas qual casa?'
Aos poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um
edifício feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja;
tratava-se de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que
transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.
Também hoje o Senhor continua precisando de vocês,
jovens, para a sua Igreja. Queridos jovens, o senhor precisa de vocês. Também
hoje ele chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem
missionários. Queridos jovens, o Senhor hoje nos chama. Não a todos e sim a
cada um de vocês, individualmente. Escutem essa palavra nos seus corações, que
fala a vocês.
Acredito que podemos aprender algo com o que
aconteceu nos últimos dias. Tivemos que cancelar o evento em Guaratiba. Será
que o Senhor não quer nos dizer que o verdadeiro campo da fé, não é um lugar
geográfico, mas sim nós mesmos? Sim. É verdade, cada um de nós e de vocês. Eu e
vocês todos aqui, somos discípulos missionários. O que quer dizer isso? Que nós
somos o campo da fé de Deus.
Partindo do campo da fé, pensei em três imagens que
podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um discípulo
missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo
como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras.
Primeiro: o campo como lugar onde se semeia. Todos
conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo. Algumas
sementes caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de espinhos e não
conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão muito fruto (cf.
Mt 13,1-9). O próprio Jesus explicou o sentido da parábola: a semente é a
Palavra de Deus que é semeada nos nossos corações (cf. Mt 13,18-23). Hoje, de
modo especial, Jesus está semeando, tornando-nos o campo da fé. Deus faz tudo,
mas vocês têm que permitir que Ele trabalhe nesse crescimento. Jesus nos diz
que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos
espinhos não deram fruto. Qual terreno somos ou queremos ser? Escutamos o
Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos tumultuar por tantos
apelos superficiais? E eu lhes pergunto: ‘sou um jovem atordoado ou um jovem
com pedras no terreno? Terei eu o costume de jogar dos dois lados, ficar de bem
com Deus e com o Diabo? Receber as sementes de Deus e manter os espinhos?
Acolher Jesus com entusiasmo, mas ser inconstantes e diante das dificuldades
não ter a coragem de ir contra a corrente; ou somos como o terreno com os espinhos?
Mas, hoje, tenho a certeza que a semente está
caindo numa terra boa, ouvimos esses testemunhos. A pessoa diz que não é terra
boa: 'sou cheio de espinhos, Santo Padre'. Mas mantenham sempre um pedacinho de
terra boa. Eu sei que vocês querem ser terra boa. O cristão quer ser isso, um
cristão de verdade, não cristãos de fachada, mas sim autênticos. Sei que querem
ser cristãos autênticos. Tenho a certeza que vocês não querem viver na ilusão
de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as conveniências do
momento.
Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas
definitivas que deem pleno sentido para a vida. É assim ou estou errado? Se é
assim, façamos o seguinte. Todos em silêncio, olhando para dentro e cada um
fale com Jesus que quer receber a semente. Olhe: 'Jesus, tenho pedras, tenho
espinhos, mas tenho esse canto de boa terra'. Semeie. E em silêncio, permitem
que Jesus plantem sua semente em boa terra. Cada um sabe o nome da semente que
foi plantada agora. E Deus vai cuidar dela.
Segundo: o campo como lugar de treinamento. Jesus
nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que
'joguemos no seu time'. Acho que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui no
Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão nacional. Sim ou não?
Pois bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve
treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor. São
Paulo nos diz: 'Todo atleta se privam de tudo. Eles assim procedem, para
conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa
incorruptível!' (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa
do Mundo! Algo maior que a Copa do Mundo!
Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e
feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna. É
o que Jesus oferece. Mas ele nos cobra um ingresso. Jesus pede que treinemos
para estar 'em forma', para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida,
dando testemunhos de fé. Como? Através do diálogo com Ele: a oração, que é
diálogo diário com Deus que sempre nos escuta.
Agora vou perguntar. 'Eu rezo? Eu falo com Jesus ou
tenho medo do silêncio?' Deixe que o Espírito Santo fale aos seus corações.
Pergunte a Jesus: 'O que quer que eu faça? O que quer da minha vida?' Isso é
treinar. Conversem com Jesus. E se cometerem um erro, um deslize, não temam.
'Jesus, olha o que eu fiz, o que faço agora?' Mas sempre fale com Jesus, nos
bons e maus momentos, não tema. Assim vai se treinando o diáologo com Jesus. E
também através dos sacramentos; através do amor fraterno, do saber escutar, do
compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem
excluir nem marginalizar ninguém. Esses são os treinamentos: a oração, os
sacramentos e o serviço ao próximo. Vamos repetir: oração, sacramentos e ajuda
aos demais.
Terceiro: o campo como canteiro de obras. Como
vemos aqui, como tudo isso foi construído. Os jovens caminharam e construíram
juntos. Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus,
quando se 'sua a camisa' procurando viver como cristãos, nós experimentamos
algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de
irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda,
tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história. Fizeram assim
como São Francisco: construir e reparar a Igreja.
Querem construir a Igreja? Estão animados? E amanhã
vão se esquecer que disseram 'sim'? Todos somos parte da Igreja. Nos
transformamos em construtores da Igreja e protagonistas da História. Sejam
protagonistas, não fiquem na fila da História. Joguem sempre na linha de
frente, no ataque! São Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um
edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos que ele
tem a forma de uma igreja, construída com pedras, com tijolos. Na Igreja de
Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua
Igreja; cada um de nós somos uma pedrinha da construção. Se faltar essa
pedrinha, quando chover, vai alagar tudo. E devemos construir uma grande
Igreja. Não construir uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas.
Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a
humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: 'Ide e
fazei discípulos entre todas as nações'! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim,
também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus!
Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo!
Repitam isso. Agora é com vocês. 'Eu quero ir e ser construtor da Igreja de
Cristo'. Quero que pensem nisso. No coração jovem de vocês, existe o desejo de
construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as notícias a respeito de
muitos jovens que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar
o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas querem
ser protagonistas da mudança. Não deixam que outros sejam protagonistas, sejam
vocês. Vocês têm o futuro nas mãos. Por vocês, é que o futuro chegará. Peço que
vocês também sejam protagonistas, superando a apatia e oferecendo uma resposta
cristã às questões políticas que se colocam em diversas questões do mundo.
Envolvam-se num mundo melhor. Não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida.
Jesus não ficou preso dentro de um casulo. Saiam às ruas como fez Jesus.
Mas, fica a pergunta: por onde começar? A quem
vamos pedir que se comece isso ou aquilo? Quando perguntaram a Madre Teresa de
Calcutá o que devia mudar na Igreja, por onde começaríamos a mudar, e ela
respondeu: você e eu! Ela tinha muita garra e sabia por onde começar. Repito as
palavras de Madre Teresa: começamos por mim e por você. Faça essa mesma
pergunta: se tenho que começar por mim mesmo, por onde devo começar? Abra seus
corações para que Jesus lhes fale.
Queridos amigos, não se esqueçam: vocês são o campo
da fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja
mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos
ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu 'sim' a Deus: 'Eis aqui a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra' (Lc1,38). Também nós o
dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra.
Assim seja!"
Tradução e transcrição do discurso: G1
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