Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora
Arcebispo de Juiz de Fora
O
vocábulo ‘converter’, etimologicamente, significa verter os olhos para um mesmo
ponto, no caso, verter os olhos para o seu próprio interior, revisando sua vida
em relação à Palavra de Deus. Para tal exame é indispensável ter o olhar
lançado em duas direções: para si mesmo, a fim de reconhecer suas falhas, e
para Deus, com objetivo de re-contemplar seu projeto e visualizar sempre de
novo a sua misericórdia.
A pessoa
humana está sempre sujeita a defeitos, a erros e ao pecado e terá necessidade
de estar em contínua atitude de conversão. Nada a deve desanimar, nem mesmo as grandes
faltas que por acaso tenha cometido, pois delas pode se arrepender,
converter-se e obter de Deus o perdão. Vejamos o que o Senhor nos diz: No mundo
tereis provações; mas tende coragem, eu venci o mundo (Jo. 16,33).
Para
garantir o perdão a todos os que se arrependem e procuram sinceramente
reconciliar-se com Deus, Jesus Cristo instituiu o Sacramento do Perdão, como se
vê registrado no evangelho de São João 20,23, dirigindo-se aos apóstolos:
Recebei o Espírito Santo! “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados;
aqueles a quem os retiverdes serão retidos”.
A graça
de Deus nos impele continuamente a recomeçar. A queda não pode derrotar quem
tem um coração aberto para Deus, quem se dispõe a olhar para frente e sabe que
sua força e sua meta estão mesmo no Senhor. Em Cristo somos mais que
vencedores, graças àquele que nos amou (cf. Rm. 8,37).
Para bem
compreender esta realidade humana de consistência frágil, basta olhar para as
coisas materiais. Elas estão continuamente sujeitas à deterioração.
Envelhecem, estragam, acabam. Assim também o nosso corpo, assim até mesmo
o nosso espírito, que embora seja eviterno, passa por situações muito
semelhantes à da matéria no que tange à fragilidade. Mas há no homem o instinto
de recomeçar. As coisas nós reformamos, restauramos, renovamos, trocamos peças,
repintamos, recondicionamos. Com nosso corpo nós o tratamos, o medicamos,
curamos as feridas.
Em
relação ao espírito, o remédio que cura é a graça divina, é, na verdade, Cristo
que restaura em si todas as coisas, assumindo os nossos pecados e por nós
morrendo na cruz. Nele somos reconciliados. Cristo conviveu com o pecado sem se
submeter a ele, para nos dar a graça de vencer o pecado, nos reconciliando com
Deus. Essa força regeneradora paga com seu sangue derramado na cruz se
atualiza no Sacramento da Confissão, praticado nos meios católicos desde os
primeiros séculos. Por meio dele, nós participamos da santidade divina, por
misericórdia do próprio Deus. O mal nos engana, nos enfraquece, nos distancia
de Deus, mas Deus vem em socorro da franqueza humana.
Por isso
a Palavra de Deus nos diz: renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade.
Revesti-vos do homem novo (Ef. 4, 23-24).
Algumas
condições são indispensáveis para que gozemos do perdão de Deus. A principal
delas é a humildade em reconhecer-nos pecadores e necessitados,
irrenunciavelmente, da graça de Deus. Depois é necessário explicitar-se
honestamente a Deus, relatando com autenticidade seus pecados a Ele, mediante o
ministro sagrado que o representa, abrindo a ação de Cristo que lhe concede o
perdão e o reconcilia com a comunidade.
Uma
confissão sacramental bem feita traz-nos paz e encoraja-nos no progresso de
nossa vida espiritual, comunitária e eclesial. A confissão nos dá a graça da
reconciliação e nos devolve o ânimo na luta pela santificação pessoal em favor
dos valores do Reino de Deus, de amor, justiça, solidariedade, perdão e paz.
A busca
da reconciliação com Deus, com o próximo e com a comunidade de fé nos prepara
para a noite santa da Páscoa, quando celebraremos a vitória de Cristo sobre o
pecado e a morte. Lá poderemos cantar com alegria: Onde está a tua vitória, ó
morte?! Cristo destruiu, com sua morte, todo pecado!
PARABENS PELA REFLEXÃO.AGRADECIDA ALICY MOREIRA DO CARMO.
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