(imagem: http://mej-ctg.blogspot.com.br/2012/10/outubro-mes-missionario.html)
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
Arcebispo do Rio de Janeiro
Catequese quaresmal - 1
Iniciamos na Quarta-feira de Cinzas o Tempo Quaresmal de 2017. Estamos a
caminho da Páscoa, refazendo a trajetória do Êxodo. Este é o tempo da conversão
e da grande reflexão para melhor colocar o nosso coração e as nossas intenções
em Deus. Ao longo deste período, como fizemos no ano passado, dedico as
catequeses quaresmais aos jovens, dentro do contexto do tema proposto pelo Papa
Francisco para o próximo Sínodo, que vai tratar da nossa amada juventude.
Nesta primeira catequese, fazendo a memória de nossos pais e avós, tão
lembrados pelo Papa Francisco, quero falar da importância do papel dos pais e
dos avós na transmissão da fé a seus filhos e netos. Essa transmissão da fé
podemos caracterizar como missão.
A missão é parte constitutiva da identidade da Igreja, chamada pelo
Senhor a evangelizar todos os povos. Sua razão de ser e agir como fermento e
como alma da sociedade, que deve renovar-se em Cristo e transformar-se em
família de Deus. Por isso, a missão deve, antes de tudo, animar a vocação
missionária dos cristãos, fortalecer as raízes de sua fé e despertar sua
responsabilidade para que todas as comunidades cristãs ponham-se em estado de
missão permanente. Trata-se de despertar, nos cristãos, a alegria e a
fecundidade de serem discípulos de Jesus Cristo, celebrando com verdadeiro gozo
o “estar-com-Ele” e o “amar-com-Ele”, para serem enviados para a missão. É a
vida do discípulo missionário, que nos orientou o documento de Aparecida da V
Conferência.
A missão nos leva a viver o encontro com Jesus num dinamismo de
conversão pessoal, pastoral e eclesial, capaz de impulsionar à santidade e ao
apostolado os batizados e de atrair os que abandonaram a Igreja, os que estão
distantes do influxo do Evangelho e os que ainda não experimentaram o dom da
fé.
A juventude tem sido caracterizada por diferentes visões. Para muitos
estudiosos da sociologia, da psicologia e da antropologia, esse é o momento
primordial para as relações da vida em grupo, para a relação entre os grupos de
iguais e para as profundas buscas e experiências que interferem nos resultados
de encontros, desencontros, inseguranças, curiosidades, medos, confusões,
indefinições, mudanças, crises e crescimentos. Devemos olhar para a juventude
como um momento da vida em que se intensificam os questionamentos,
discernimentos, entendimentos, sonhos. Tomemos cuidado para não cobrar da
juventude algo que ainda não é possível de ser oferecido, bem como desacreditar
em suas potencialidades.
A realidade nos mostra que um grande número de jovens é interessado pela
comunidade cristã e se prepara com esmero para os sacramentos, em especial para
o Sacramento da Crisma, mas nem todos perseveram. É urgente pensarmos em algo
que seja mais contínuo para a participação dos jovens na vida eclesial e, nesse
sentido, o grande trabalho da “iniciação cristã” se insere de modo claro e
necessário. Nas realidades a que temos assistido, nas comunidades por onde
temos passado em missão, seja para cursos, seja para uma animação da pastoral
Bíblico-Catequética, vemos a preocupação dos catequistas com muitos jovens que
não estão iniciados à vida cristã. Alguns, quando procuram, não encontram
respaldo, não se tem o que oferecer a eles, e há centenas de jovens que nem
atentos para isso estão. Temos muitas ovelhas que não estão no aprisco e que é
necessário atingir.
A evangelização com jovens deve ser feita de momentos de interação que
possibilitem o encontro com os outros, a partir da vivência da fé na vida em
comunidade, e que os ajudem a fazer a experiência do Deus de Jesus Cristo. Não
passar por cima das questões relativas à sexualidade, mas abordar com aquilo
que a fé cristã pode oferecer para ajudar os jovens a aprimorarem e a
amadurecerem sua sexualidade; não simplesmente com moralismos e interditos, mas
como um caminho para a maior felicidade, ao esclarecer o uso mercadológico que
é feito da exacerbação do sexo e as consequências disso na vida.
Os jovens de hoje vivem com urgência a busca de sentido que dê respostas
às questões fundamentais do ser humano. Essa busca, e sua abertura experiencial
ao religioso, são duas perspectivas que deverão ser tidas em conta na
catequese, já que potenciam o caráter pessoal e personalizador que deve ter o
ato de fé, sem menosprezo dos componentes racionais e institucionais da mesma
fé.
Os jovens são de suma importância para Igreja, pois a Igreja busca a
cada dia evangelizá-los com muito amor e carinho. Quantos jovens em nossas
paróquias assumem lideranças, quantos jovens estão à frente dos ministérios de
música, ou ainda quantos jovens estão empenhados no setor da juventude! São
vários jovens, e a eles damos graças por estarem na caminhada, e que estes
busquem se espelhar em Cristo Jesus. Assim, como Cristo foi fiel ao Pai, que
também vocês possam fazer o mesmo.
Portanto, a catequese bem feita ajuda os jovens a sentirem-se
incomodados, inquietos com a realidade social que os cerca, cheia de
injustiças, discriminações e atentados à vida, e, a partir disso, leva-os a uma
atitude de solidariedade, de compaixão ativa e de compromisso com o bem, com a
verdade, a justiça e a vida, como fez Jesus. A educação da fé que aponta para o
compromisso com a transformação da sociedade conduzirá o jovem para a
realização do seu “ser jovem”, como agente transformador e protagonista dentro
de uma sociedade que nem sempre o acolhe. Com isso, a catequese tem este papel
de unir fé e vida, formando cidadãos do Reino, discípulos jovens que sejam
apaixonados e seguidores de Jesus. É claro que terminado o período catequético
dos jovens, cada paróquia deve oferecer momentos de oração, retiros, encontros
e louvores para estes. Podemos citar como o grande exemplo desta expressão
jovem na e da Igreja a Jornada Mundial da Juventude. Aqui no Rio de Janeiro, na
JMJ 2013, foi marcante a presença e a Evangelização dos Jovens. Eles deram vivo
testemunho da fé católica e demonstraram como é possível viver publicamente o
que o Evangelho pede, sem renunciar ao que proclama a Mãe Igreja.
Esta é a grande missão dos pais e avós: transmitirem a fé que receberam
de seus antepassados na integralidade proclamada pela Igreja. Assim cremos e
assim deveremos testemunhar o seguimento cristão!
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