Dom Aparecido Donizeti de Souza
Bispo auxiliar de Porto Alegre
Bispo auxiliar de Porto Alegre
Vivemos
um tempo especial na nossa caminhada de fé. Iniciamos há alguns dias a Quaresma
no desejo de nos prepararmos para a Páscoa. Conforme Frei José Ariovaldo da
Silva, “nós cristãos celebramos todo ano a festa da Páscoa: morte e
ressurreição de Jesus e nossa. É a maior de todas as festas. A mais
importante... Grande demais para ser preparada em três dias ou uma semana. Por
isso, entendemos a sua preparação para quarenta dias”.
Conforme
lembrou o profeta Joel na liturgia da Quarta-feira de Cinzas, Quaresma é um
tempo oportuno para voltar nosso coração a Deus. Assim, é marcada por um apelo
à penitência e à conversão. Por isso, nos é proposto exercícios espirituais,
através dos quais essa conversão possa acontecer de modo que celebremos de
maneira digna e solene a Páscoa do Senhor.
O
texto-base da Campanha da Fraternidade 2017 nos diz que “o insistente apelo à
penitência e conversão não se apresenta na dinâmica da ‘tristeza’, mas de uma
‘sóbria alegria’, alimentada pela esperança (...). Quaresma é tempo de
conversão, por isso tempo de intensa alegria. Alegria, porque iniciamos nossa
caminhada rumo a Páscoa do nosso Salvador Jesus. Se, por um lado, a recordação
do sofrimento de Jesus com sua morte na cruz produz em nós uma dor, a
Ressurreição nos traz a certeza da vitória e a Quaresma passa a ser um tempo de
alegria, pois nos aproxima de Deus e dos irmãos”. Essa aproximação para com
Deus e os irmãos certamente nos fará mais comprometidos e solidários com os que
sofrem. Nesse sentido, o texto-base nos lembra também que “a Campanha da
Fraternidade quer ajudar a construir uma cultura de fraternidade, apontando os
princípios de justiça, denunciando ameaças e violações da dignidade e dos
direitos, abrindo caminhos de solidariedade”. Desse modo, a Quaresma,
enriquecida com a CF, representa um apelo à conversão pessoal e social.
Diante
disso, podemos louvar a Deus por termos no Brasil a possibilidade de olhar com
seriedade e profundidade tudo que esteja ligado à vida humana. É o que estamos
fazendo nesse ano, pois o olhar, a partir da Palavra de Deus e do Magistério da
Igreja, para os biomas brasileiros diz respeito ao cuidado com a vida. Há uma
conexão profunda entre a vida humana com todo tipo de vida animal e vegetal.
Assim, precisamos como Igreja nos posicionarmos e propormos alternativas frente
à destruição desmedidas de tais biomas.
Segundo o
Compêndio da Doutrina Social da Igreja, a natureza “é um dom oferecido pelo
Criador à comunidade humana, confiado à inteligência e à responsabilidade moral
do homem. Por isso, ele não comete um ato ilícito quando, respeitando a ordem,
a beleza e a utilidade de cada ser vivente e da sua função no ecossistema,
intervém modificando-lhe algumas características e propriedades. São
deploráveis as intervenções do homem quando danificam os seres viventes ou o
ambiente natural, ao passo que são louváveis quando se traduzem no seu
melhoramento”. Portanto, conforme o lema da CF/2017, “cultivar e cuidar da
criação” é nossa obrigação.
Que o
tempo quaresmal seja oportuno para que os sinais de morte em nosso meio,
gerados pelo egoísmo, orgulho e autossuficiência, sejam superados e vencidos.
Que a força do Ressuscitado transforme nossa vida e, através de nós, toda a
realidade na qual vivemos.
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