Qui, 03 de Janeiro de 2013 09:13 por: cnbb
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Bispo de Dourados (MS)
Talvez nem todos saibam que o Papa João
Paulo II, no dia 13 de maio de 1994, aniversário do atentado que sofreu na
Praça de São Pedro em 1981, transformou uma das residências do Vaticano num
mosteiro destinado a abrigar religiosas “de vida contemplativa”, ou seja, de
pessoas que escolhem como estilo de vida “distanciar-se” do mundo para melhor
amá-lo e servi-lo através da oração.
A novidade suscitou alegria e esperança
em vários Institutos. Os pedidos de admissão foram tão numerosos, que se fez
necessário estabelecer uma rotatividade: cada comunidade ficaria no Vaticano
por cinco anos. As primeiras religiosas a serem acolhidas foram as Clarissas,
seguidas pelas Carmelitas e pelas Beneditinas.
Em 2009, a intensa procura
obrigou as autoridades do Vaticano a diminuir o tempo de permanência para três
anos.
No final deste ano, as Irmãs
Visitandinas – as atuais inquilinas – cedem o posto a outras religiosas. Antes
de se retirar, a Irmã Maria Begoña Sancho Herreros concedeu uma entrevista ao
jornal “Osservatore Romano”, explicando o sentido de um mosteiro no Vaticano: «Apraz-me comparar a nossa oração com o papel de Aarão e Hur, que
sustentaram os braços de Moisés, enquanto Israel combatia contra Amalec. Nós
também, dentro de nossas possibilidades, ajudamos o Papa a manter os braços
estendidos para auxiliar a Igreja. Cremos firmemente na comunhão dos santos, na
transmissão da graça pela salvação de todos. É um mistério que diz respeito a
todos os batizados, e interpela a nós também. Não sabemos nem vemos para onde
vai o fruto de nossa oração, mas estamos certas de que Deus a utiliza para o
bem comum».
O texto bíblico citado pela Ir. Maria
elucida a sintonia existente entre ação e contemplação: «Quando Moisés ficava com as mãos levantadas, Israel vencia; quando as
abaixava, Amalec dominava. Sendo que suas mãos já estavam pesadas, Aarão e Hur
pegaram uma pedra e a ofereceram a Moisés para que se assentasse. E, um de cada
lado, passaram a sustentar os seus braços» (Ex 17,11-12). Enquanto Moisés rezava
na montanha, os soldados judeus lutavam e venciam na planície.
O Evangelho apresenta um fato que
explica melhor ainda o pensamento de Jesus – e da Igreja – sobre o assunto: «Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome
Marta, o recebeu em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do
Senhor e ficou escutando a palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres.
Aproximou-se e falou: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha
com todo o serviço? Manda que ela venha me ajudar!”. Jesus, porém, respondeu:
“Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas, mas uma só
coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”» (Lc 10, 38-42).
Não há dicotomia ou oposição entre
contemplação e ação. Que o digam os santos que, por permanecerem unidos a Deus
como Maria, realizam obras extraordinárias, como Marta! Foi o que reconheceu
Chiara Lubich num de seus textos mais famosos: «Eis a grande atração do tempo moderno: atingir a mais alta contemplação
e manter-se misturado com todos, ombro a ombro; perder-se no meio da multidão
para impregná-la do divino, como se ensopa um naco de pão no vinho. Ou ainda,
participar dos desígnios de Deus sobre a humanidade, traçar sobre a multidão
recamos de luz e, ao mesmo tempo, dividir com o próximo a injúria, a fome, os
golpes, as alegrias fugazes. Porque a atração do nosso, como de todos os
tempos, é o que de mais humano e de mais divino se possa pensar: Jesus, o Verbo
de Deus, filho de um carpinteiro; e Maria, a Sede da Sabedoria, mãe de família».
A Ir. Maria encerrou a sua entrevista
com estas palavras: «Evangeliza-se de muitos modos. A nossa
característica é fazê-lo através da oração. Algumas pessoas falam de Deus aos
homens; nós falamos dos homens a Deus. Os religiosos devem testemunhar a
alegria da ressurreição e da amizade com Cristo. Nesse tempo de crise, as
pessoas deveriam questionar-se sobre o motivo da alegria dos consagrados. A
resposta é uma só: porque eles têm Deus. Com nossa vida, podemos confirmar que
não são as coisas que dão a felicidade, mas unicamente Deus. Tudo o mais é
passageiro».
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