Ter, 22 de Janeiro de 2013 09:54 por: cnbb
Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
No dia 25 de janeiro, a Arquidiocese de
São Paulo comemora a festa de seu Patrono, o Apóstolo São Paulo. No Ano da Fé,
convém voltar para São Paulo um olhar especial, para perceber nele o homem de
fé e a testemunha firme e qualificada de Cristo.
A sua fé, enquanto fariseu zeloso,
talvez era a do estudioso das Escrituras, do intelectual, que procurava
entender a letra dos testemunhos dos antepassados; era um encarregado
intransigente de zelar pela prática intransigente e sem desvios de tudo o que
se prescrevia na religião.
Ele mesmo escreve que era zeloso mais que ninguém
(cf Fl 3,6). Mas com o zelo dessa religiosidade formal, ele perseguiu os
cristãos, que considerava desviados da fé (cf At 9,1-2). Mas, qual fé?!
Às portas de Damasco, ele teve o
encontro inesperado com Cristo, em pessoa, que lhe fala: “Saulo, Saulo, por que
me persegues?” Suas convicções são sacudidas por aquela voz. Sua fé estava
baseada na letra; agora, a letra tem voz e se revela como pessoa! “Quem és tu,
Senhor?” (At 9,5). A fé muda de base: das doutrinas e preceitos, passa a se
confrontar com Aquele que lhe fala e sobre quem versam doutrinas e letras.
Saulo tem a experiência marcante de sua
fé cristã: o encontro pessoal com Aquele mesmo, que estava perseguindo e queria
combater. Compreende e se entrega: “que devo fazer, Senhor?” (cf At 22,10).
Está disposto a aprender tudo de novo; e será o que vai fazer, na escola de
Gamaliel e no seu retiro de três anos “na Arábia”, como ele mesmo informa (cf
Gl 1,17). Saulo já é “Paulo”, que significa “pequeno”, humilde.
E a imensa energia de seu caráter será
posta, agora, inteiramente a serviço de Cristo, que teve misericórdia dele e o
alcançou... A experiência do perdão, da misericórdia alcançada e da escolha que
Cristo fez dele para ser apóstolo e missionário do Evangelho entre os povos não
saem mais de sua cabeça e fazem seu coração transbordar: “Ele me amou e por mim
se entregou!” (cf Cl 2,20)!
Uma vez encontrado e reconhecido Jesus
Cristo, Paulo aposta sua vida inteiramente nele: “para mim, o viver é Cristo”.
Não lhe interessam mais as glórias deste mundo, nem mede esforços e fadigas
para anunciar o nome de Cristo entre os povos, tentando atraí-los para Ele,
para terem, como ele teve, a experiência do encontro e do perdão. A fé, para
ele, não será mais algo abstrato, mas referida à pessoa de Jesus Cristo, que
lhe abriu todos os tesouros da compreensão e da graça.
A fé, para Paulo, é adesão viva e firme
à pessoa de Jesus e, por meio dele, à pessoa de Deus. Essa adesão é
perseverante, mesmo no meio das maiores dificuldades e provações, que deve
enfrentar por causa de Cristo. Finalmente, essa fé mantém-se firme também nas
prisões, torturas e no martírio.
Para Paulo, a fé, é um novo modo de
compreender o mundo, a vida, a conduta humana. A fé torna sábio “em Cristo”,
leva a um “estar com Cristo”, a “viver de Cristo”, a esperar com firme
confiança e a obedecer a Deus, por meio de Cristo. A fé significa para Paulo
uma participação na vida, na morte e na ressurreição com Cristo. A fé é dom
recebido e acolhido com gratidão e correspondido com coerência e conversão
constante.
Como apóstolo e missionário, ele “gera
filhos na fé” e os educa no Evangelho; suas cartas testemunham de maneira
abundante esse zelo paternal em relação às diversas comunidades que
tiveram origem com sua pregação e ação missionária. As recomendações a Timóteo
e a Filémon mostram as qualidades de seu coração de pai e educador na fé.
Aproximando-se do martírio, ele pode dizer com serenidade: “completei a minha
corrida, guardei a fé!” (2Tm 4,7).
Olhando para este Apóstolo, sentimo-nos
encorajados a imitar seu exemplo de homem de fé, de testemunha de Cristo.
Muitos outros, em tempos difíceis ao longo da história do Cristianismo,
inspiraram-se nele e ajudaram a Igreja a recobrar ânimo e nova vitalidade
missionária. Tempos de “nova evangelização”, como os que vivemos, requerem a
mesma atitude... Olhemos para o exemplo de São Paulo e peçamos sua intercessão.
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