quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Carta dos Bispos do Piauí sobre a Seca



Ter, 15 de Janeiro de 2013 09:53 por: cnbb

Os bispos do Regional Nordeste 4 da CNBB (Piauí) divulgaram uma Nota Pública, escrita em dezembro de 2012, sobre a estiagem que ocasionou uma rigorosa seca no Sertão do estado.
De acordo com um trecho da nota, "uma comissão composta pela secretaria executiva da CNBB Regional NE, sob coordenação de dom Augusto Alves da Rocha, bispo emérito de Floriano, juntamente com representantes do Secretariado Regional da Cáritas Brasileira no Piauí, Coordenação do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido; Cáritas Diocesana de são Raimundo Nonato, Serviço Pastoral do Migrante, COOTAPI & Associados, reuniu-se na sede da CNBB NE4, para
elaboração do documento com o objetivo de pautar junto ao Governador do Estado do Piauí, a preocupação da Igreja Católica em sintonia com a sociedade civil que atua junto às comunidades da agricultura familiar em relação à problemática da seca no Estado, ao tempo em que vislumbram e dispõem-se a colaborar como atores sociais na efetivação de soluções urgentes para a situação emergencial e ações de médio e longo prazo para prover à estrutura necessária ao convívio permanente com os ciclos climáticos próprios do semiárido".
Leia abaixo a Carta do Regional Nordeste 4 da CNBB:
Carta dos Bispos
O drama se repete – 2012 mais um ano de seca, miséria e fome para as populações do semiárido piauiense.
Estamos vivendo em 2012, início do terceiro milênio da era cristã. Tempos modernos, predomínio do conhecimento, da ciência e tecnologia. Entretanto, convivemos ainda com a falta do necessário e básico para milhões de pessoas, o acesso à água de qualidade e a garantia de alimentos. Essa situação é mais grave e crônica na região do semiárido piauiense, onde se vive mais um grande período de seca. Segundo a Defesa Civil e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura – FETAG, 192 municípios piauienses já decretaram estado de emergência. E destes, 156 já reconhecidos pelo Governo Federal. O rigor da seca já indica a perda de 95% da produção de alimentos e consequente falta de água para o consumo humano e animal e a mortalidade de 30% do rebanho de bovino, caprino e ovino do Piauí. Segundo as informações sobre os repasses do Governo Federal aos Estados do Nordeste, destaca-se o Piauí como o Estado de maior incidência da seca.
Assim, as consequências da atual seca são amenizadas devido a construção de cerca de 50 mil pequenas obras hídricas: de cisternas de placas, pequenas barragens subterrâneas, tanques de pedra, quintais produtivos; “barraginhas” e cursos de Gestão de Recursos Hídricos promovidas pelas organizações da sociedade civil, articuladas no Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido e a Articulação no Semiárido Brasileiro - Asa Brasil. Além dessas iniciativas a própria Igreja Católica, embora modestamente, empreendeu campanha, a qual arrecadou cerca de 100 toneladas de alimentos destinados às regiões mais atingidas, sobretudo São Raimundo Nonato, Picos e Oeiras. Essas pequenas ações tem evitado o sofrimento e a dor de cerca de 200 mil pessoas no semiárido piauiense.
Mas, muito ainda precisa ser feito. Os gestores públicos, em parceria com as organizações da sociedade civil organizada e lideranças comunitárias, que atuam na região, devem objetivar a consolidação de Políticas Públicas de Convivência com o Semiárido, tendo como perspectiva a superação da pobreza e da miséria, rompendo de vez com o paradigma da indústria da seca e viabilizando a força de trabalho e as potencialidades do semiárido piauiense.
Queremos sublinhar, mas sobretudo, relembrar o caminho já percorrido pela Igreja e Sociedade Civil buscando o diálogo e entendimento com os Órgãos Governamentais em vista de soluções acerca dessa problemática:
1. Manifestação e documento do fórum piauiense de convivência com o semiárido, datado e protocolado a 22/03/2012, no Palácio de Karnak.
2. Encontro dos Bispos do Piauí com o Sr. Governador do Estado, na Residência Episcopal, em Teresina, no dia 06/05/2012.
3. Seminários diocesanos sobre a seca: São Raimundo Nonato: Fórum Diocesano sobre a estiagem – Desafios e proposições a 25/05/2012. Entregue ao Sr. Governador a 16/06/2012. Oeiras: Manifesto dos participantes da Assembleia Diocesana de Oeiras a 07/11/2012. Picos: Carta aberta sobre a situação da seca no semiárido centro sul do Piauí, documento final da Assembleia diocesana a 09/11/2012.
4. Realização do I Grito do Semiárido em 03 de agosto/São Raimundo Nonato.
5. Realização do II Grito do Semiárido em Picos, dia 31 de outubro.
Todas essas iniciativas revelam nossa preocupação e compromisso com a situação em causa.
Reconhecemos a importância e a necessidade das obras envolvendo adutoras, açudes e barragens, que representam um grande passo do ponto de vista da estrutura para segurança hídrica do Estado. Sabemos que exigem tempo e planejamento para sua conclusão cuja efetividade não nos é possível avaliar no momento. Interessa-nos, como a todo o povo, contribuir com o êxito desses planejamentos, nos dispondo ao acompanhamento, motivação e promoção do controle social dessas implementações em vista da melhor solução possível para uma convivência tranquila e permanente de nossas comunidades com as características climáticas do semiárido. Neste sentido acompanhamos esperançosos, a correta aplicação dos repasses que vêm sendo feitos pelo Governo Federal ao Estado do Piauí através dos Ministérios do Desenvolvimento Social – MDS e Ministério da Integração Nacional, para construção de cisternas e os recursos do PAC estiagem.
Possíveis soluções para a seca - Convivência do povo piauiense com o semiárido.
Entendemos que a convivência com o semiárido começa com a garantia de água para o consumo humano; alimentação adequada para as famílias; geração de trabalho e renda com a implementação de novas tecnologias sociais; viabilizando as potencialidades humanas, naturais e culturais da região. Daí, justificam-se políticas públicas adequadas ao semiárido. Eis algumas das alternativas que acontecem nas comunidades e que são acionadas para tal:
a) Cultura de estoque da água, através das tecnologias sociais de captação das águas da chuva;
b) Armazenamento de grãos, frutos, produtos que sejam fundamentais para a alimentação da família.
c) Plantio de hortas familiares, através das quais se garante verduras, hortaliças e outros alimentos, de maneira agroecológica.
d) Plantio de pequenos pomares, em fundos de quintais produtivos.
1. Ações emergenciais.
Reconhecemos a validade de ações como, por exemplo, carros-pipas, abertura de poços e reequipamento dos existentes, valorização e distribuição de sementes nativas, construção de cisternas de placas de cimento geradoras de renda para a comunidade, etc.
Trata-se da urgência do socorro imediato ao povo desprovido dos bens elementares à vida. Nossa ação conjunta, certamente, produzirá os efeitos de superação e mostrarão nossa sensibilidade de solidariedade cristã.
Teresina, 12 de dezembro de 2012.
Dom Alfredo Schaffler
Bispo de Parnaíba
Presidente da CNBB – Regional NE 4
Dom Juarez Sousa da Silva
Bispo de Oeiras
Vice-Presidente da CNBB – Regional NE 4
Dom Plínio José Luz da Silva
Bispo de Picos Secretário da CNBB – CONSER Nordeste 4
Dom Jacinto F. de Brito Sobrinho
Arcebispo de Teresina
Dom Valdemir Ferreira dos Santos
Bispo de Floriano
Dom João Santos Cardoso
Bispo de São Raimundo Nonato
Dom Eduardo Zielski
Bispo de Campo Maior

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