quinta-feira, 4 de abril de 2013

Homilia do 2º. Domingo da Páscoa – Ano C


FONTE: CNBB N2 – Catequese e Bíblia

A experiência do Ressuscitado tem uma forte relação com o primeiro dia da semana – o domingo. No AT, o tempo semanal traz a opressão por parte daqueles que o controlam, já o sétimo dia traz a experiência de libertação para aqueles que experimentam a presença de Deus que vence os dias de trabalho escravo. Nele há a celebração de antecipação, que rompe com o curso do trabalho semanal, indicando que o ser humano não é criado para se preocupar com as coisas do mundo, mas espera o dia de comunhão com todos em Deus, tempo de paz e de júbilo. Se o sábado era o último dia (que abria o tempo da ação divina na história), agora o domingo é o primeiro dia, ou seja, o dia do início – o início da nova criação. Neste dia acontece a nova criação por obra do sopro do Espírito.
Se o hálito de Deus plasmou a criação, agora o hálito do Cristo nos faz novas criaturas animadas pela graça do seu Espírito (=sopro). Quando a comunidade repousa e celebra no dia do Senhor, resgata o tempo original, o tempo da nova criação e da ressurreição - a eternidade, pois Cristo o alfa e o ômega. Celebra-se a vida nova no dia da ressurreição, lembrando que todos são criados para participar da vida em Deus e que as ocupações deste mundo são passageiras. O domingo prefigura o tempo eterno, o dia da ressurreição. O mundo moderno paganizou o domingo, considerado como dia de descanso para recobrar as forças para o trabalho semanal. O domingo não pode ser instrumentalizado pelo trabalho, pois é o dia que prefigura o descanso eterno que Deus preparou no seu amor.

Neste dia de graça, os discípulos estão de portas fechadas por medo dos judeus. Esta barreira não detém o Cristo, pois o Ressuscitado transpõe todas as barreiras. Deseja transpor nossos medos, dando-nos nova esperança. Por isso Ele nos concede o dom da paz: “A paz esteja convosco!” Lembrando que a paz no mundo hebraico é o shalom, ou seja, a alegria da plenitude dos tempos messiânicos, a plenitude de vida, de graça e salvação. É muito superior ao que entendemos por paz na língua portuguesa. Esta é a paz que o Senhor nos traz neste Tempo Pascal.

Outra graça, que Cristo oferece neste domingo é o perdão dos pecados. A Páscoa tem uma relação íntima com a reconciliação, pois viver a misericórdia e morrer para o pecado é viver vida nova em Cristo. Por isso, é o Ressuscitado que dá a comunidade o ministério da reconciliação. Os apóstolos podem perdoar os pecados ou retê-los, ou seja, podem dar um tempo para que haja uma verdadeira conversão. Não significa que os apóstolos possam instrumentalizar o perdão. O Cristo não daria uma ordem para que não houvesse nova chance para aquele que deseja de coração sincero a reconciliação com Deus. A Igreja é a mediadora da misericórdia pelo sacramento da reconciliação.

Por fim, temos a figura de Tomé, o símbolo da comunidade que não viu o Jesus histórico, nem o Cristo ressuscitado. Talvez houvesse disputas entre aqueles que foram testemunhas do Ressuscitado e aqueles que passaram a fazer parte da comunidade mais tardiamente. Há uma grande preocupação da pregação apostólica em mostrar que o que estava sendo anunciado não era um fato do passado, mas que o Cristo continua vivo e realizando sinais (primeira leitura) e que podemos fazer a mesma experiência dos apóstolos. Por isso a única bem aventurança do Evangelho de João: “Felizes os que acreditam sem terem visto!” Felizes os que são capazes de ver a presença do Ressuscitado na palavra que é proclamada, no Pão e Vinho consagrados, na comunidade reunida... Só se pode fazer a experiência do Ressuscitado estando na comunidade, longe dela não é possível.

Cada um de nós pode fazer a experiência do primeiro dia da semana, receber o Espírito, receber o perdão dos pecados, o shalom do Cristo, reunidos em comunidade para celebrar e alimentar a vida. Não sejamos incrédulos diante dos sinais que o Senhor continua nos dando.

Pe Roberto Nentwig

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