Sáb, 30 de Março de 2013 20:13 por: CNBB/RADIO
VATICANO
O Papa Francisco presidiu na noite deste Sábado Santo,
na Basílica de São Pedro a Solene Vigília de Páscoa. O Rito teve início no
átrio da Basílica com a Benção do Fogo e a preparação do Círio Pascal. Durante
a procissão em direção do Altar com o Círio Pascal aceso cantou-se o Exultet;
em seguida a Liturgia da Palavara, a Liturgia Batismal – durante a qual o Papa
administrou os Sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Crisma e Primeira
Comunhão) a 4 neófitos, provenientes da Itália, Albânia, Rússia e Estados
Unidos.
Eis na íntegra a homilia proferida pelo
Papa Francisco em italiano:
Amados irmãos e irmãs!
1. No Evangelho desta noite luminosa da
Vigília Pascal, encontramos em primeiro lugar as mulheres que vão ao sepulcro
de Jesus levando perfumes para ungir o corpo d’Ele (cf. Lc 24, 1-3). Vão
cumprir um gesto de piedade, de afeto, de amor, um gesto tradicionalmente feito
a um ente querido falecido, como fazemos nós também.
Elas tinham seguido Jesus,
ouviram-No, sentiram-se compreendidas na sua dignidade e acompanharam-No até ao
fim no Calvário e ao momento da descida do seu corpo da cruz. Podemos imaginar os
sentimentos delas enquanto caminham para o túmulo: tanta tristeza, tanta pena
porque Jesus as deixara; morreu, a sua história terminou. Agora se tornava à
vida que levavam antes. Contudo, nas mulheres, continuava o amor, e foi o amor
por Jesus que as impelira a irem ao sepulcro. Mas, chegadas lá, verificam algo
totalmente inesperado, algo de novo que lhes transtorna o coração e os seus
programas e subverterá a sua vida: vêem a pedra removida do sepulcro,
aproximam-se e não encontram o corpo do Senhor. O caso deixa-as perplexas,
hesitantes, cheias de interrogações: «Que aconteceu?», «Que sentido tem tudo
isto?» (cf. Lc 24, 4). Porventura não se dá o mesmo também conosco, quando
acontece qualquer coisa de verdadeiramente novo na cadência diária das coisas? Paramos,
não entendemos, não sabemos como enfrentá-la. Frequentemente mete-nos medo a
novidade, incluindo a novidade que Deus nos traz, a novidade que Deus nos pede.
Fazemos como os apóstolos, no Evangelho: muitas vezes preferimos manter as
nossas seguranças, parar junto de um túmulo com o pensamento num defunto que,
no fim de contas, vive só na memória da história, como as grandes figuras do
passado. Tememos as surpresas de Deus; temos medo das surpresas de Deus! Ele
não cessa de nos surpreender! Irmãos e irmãs, não nos fechemos à novidade que Deus quer trazer à nossa vida! Muitas vezes sucede que nos sentimos cansados, desiludidos, tristes, sentimos o peso dos nossos pecados, pensamos que não conseguimos? Não nos fechemos em nós mesmos, não percamos a confiança, não nos demos jamais por vencidos: não há situações que Deus não possa mudar; não há pecado que não possa perdoar, se nos abrirmos a Ele.
2. Mas voltemos ao Evangelho, às
mulheres, para vermos mais um ponto. Elas encontram o túmulo vazio, o corpo de Jesus
não está lá… Algo de novo acontecera, mas ainda nada de claro resulta de tudo
aquilo: levanta questões, deixa perplexos, sem oferecer uma resposta. E eis que
aparecem dois homens em trajes resplandecentes, dizendo: «Porque buscais o
Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24, 5-6). E aquilo
que começara como um simples gesto, certamente cumprido por amor – ir ao
sepulcro –, transforma-se em acontecimento, e num acontecimento tal que muda
verdadeiramente a vida. Nada mais permanece como antes, e não só na vida
daquelas mulheres mas também na nossa vida e na história da humanidade. Jesus
não está morto, ressuscitou, é o Vivente! Não regressou simplesmente à vida,
mas é a própria vida, porque é o Filho de Deus, que é o Vivente (cf. Nm 14,
21-28; Dt 5, 26, Js 3, 10). Jesus já não está no passado, mas vive no presente
e lança-Se para o futuro: é o «hoje» eterno de Deus. Assim se apresenta a
novidade de Deus diante dos olhos das mulheres, dos discípulos, de todos nós: a
vitória sobre o pecado, sobre o mal, sobre a morte, sobre tudo o que oprime a
vida e lhe dá um rosto menos humano. E isto é uma mensagem dirigida a mim, a
ti, amada irmã e amado irmão. Quantas vezes precisamos que o Amor nos diga:
Porque buscais o Vivente entre os mortos? Os problemas, as preocupações de
todos os dias tendem a fechar-nos em nós mesmos, na tristeza, na amargura… e aí
está a morte. Não procuremos aí o Vivente! Aceita então que Jesus Ressuscitado
entre na tua vida, acolhe-O como amigo, com confiança: Ele é a vida! Se até
agora estiveste longe d’Ele, basta que faças um pequeno passo e Ele te acolherá
de braços abertos. Se és indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido.
Se te parece difícil segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar
seguro de que Ele está perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras
e a força para viver como Ele quer.
3. Há ainda um último elemento,
simples, que quero sublinhar no Evangelho desta luminosa Vigília Pascal. As
mulheres se encontram com a novidade de Deus: Jesus ressuscitou, é o Vivente!
Mas, à vista do túmulo vazio e dos dois homens em trajes resplandecentes, a
primeira reação que têm é de medo: «amedrontadas – observa Lucas –, voltaram o
rosto para o chão», não tinham a coragem sequer de olhar. Mas, quando ouvem o
anúncio da Ressurreição, acolhem-no com fé. E os dois homens em trajes
resplandecentes introduzem um verbo fundamental: «Lembrai-vos de como vos
falou, quando ainda estava na Galiléia (...) Recordaram-se então das suas
palavras» (Lc 24, 6.8). É o convite a fazer memória do encontro com Jesus, das
suas palavras, dos seus gestos, da sua vida; e é precisamente este recordar
amorosamente a experiência com o Mestre que faz as mulheres superarem todo o
medo e levarem o anúncio da Ressurreição aos Apóstolos e a todos os restantes
(cf. Lc 24, 9). Fazer memória daquilo que Deus fez e continua a fazer por mim,
por nós, fazer memória do caminho percorrido; e isto abre de par em par o
coração à esperança para o futuro. Aprendamos a fazer memória daquilo que Deus
fez na nossa vida.
Nesta Noite de luz, invocando a
intercessão da Virgem Maria, que guardava todos os acontecimentos no seu
coração (cf. Lc 2, 19.51), peçamos ao Senhor que nos torne participantes da sua
Ressurreição: que nos abra à sua novidade que transforma, às surpresas de Deus;
que nos torne homens e mulheres capazes de fazer memória daquilo que Ele opera
na nossa história pessoal e na do mundo; que nos torne capazes de O percebermos
como o Vivente, vivo e operante no meio de nós; que nos ensine cada dia a não
procurarmos entre os mortos Aquele que está vivo. Assim seja.
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