Seg, 01
de Abril de 2013 10:43 por: cnbb
Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)
Arcebispo de Salvador (BA)
O livro dos “Atos dos Apóstolos”, escrito pelo
evangelista Lucas para narrar a vida das primeiras comunidades cristãs após a
morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo aos céus, tem seu ponto alto nos
discursos de Pedro e de Paulo. Tais discursos, chamados “querigmáticos”
(Aurélio: proclamação em alta voz, anúncio), apresentam o núcleo central e
essencial da mensagem cristã. Num deles, que ocorreu na cidade de Cesareia da
Palestina, o apóstolo Pedro foi particularmente ousado, ao afirmar: “Eles o
mataram, pregando-o na cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At
10,39-40). A preocupação principal de Pedro, de Paulo e dos demais apóstolos
não era a de anunciar que Jesus Cristo havia morrido, mas que ressuscitara e,
portanto, estava vivo! Eles estavam convictos de que essa era a verdade mais
importante que tinham para transmitir ao mundo.
Há documentos históricos que comprovam a existência
de Jesus de Nazaré na Palestina e sua crucifixão em Jerusalém. Mas em que nos
baseamos para afirmar que ele ressuscitou dos mortos? Em dados científicos?
Certamente, não! Por mais importante que seja a ciência, ela não serve para
comprovações no campo da fé. A fé é um dom e um mistério: nós a recebemos por
graça divina e a razão humana não é capaz de demonstrar ou explicar o conteúdo
do que nós acreditamos.
Quando se trata da ressurreição de Cristo, valem
para nós o testemunho e as afirmações dos apóstolos: eles viveram para
proclamar que Jesus ressuscitou, e morreram para testemunhar essa verdade.
Curioso, e ao mesmo tempo significativo, foi que eles não esperavam essa
ressurreição. Quando, ao terceiro dia após a morte, naquele domingo que ficaria
célebre e que daria sentido a todos os demais domingos da história, os apóstolos
e as santas mulheres foram ao sepulcro, tinham como objetivo cuidar do corpo de
uma pessoa que havia morrido. Se estivessem esperado encontrar-se com Jesus,
não teriam levado perfumes para embalsamar seu corpo. Ao verem o sepulcro
vazio, ficaram inicialmente chocados; ao ouvirem a mensagem que um jovem havia
transmitido às mulheres – “Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi
crucificado? Ele ressuscitou!” –, manifestaram surpresa. Surpresos ficaram nas
diversas vezes em que Jesus lhes apareceu, quando lhes perguntou se tinham
alguma coisa para comer e, particularmente, ao verem que ele próprio lhes havia
preparado um peixe assado.
Pode-se dizer que o coração dos apóstolos realmente
mudou quando eles passaram pela experiência de Pentecostes. Cheios do Espírito
Santo, perceberam a unidade que havia na pregação de Jesus, nos seus milagres e
nos vários momentos de sua vida. Antes, segundo o evangelista João, “eles ainda
não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos
mortos”. Tendo recebido o Espírito Santo, compreenderam que tudo o que fora
anunciado antes de Cristo chegara a seu ponto máximo em sua ressurreição. Ela é
que dava sentido ao que haviam visto e ouvido. Essa certeza, que mudou
radicalmente suas vidas, foi, portanto, fruto de um processo, de um crescimento
– um processo longo e difícil.
Para nós, que vivemos em 2013, o que significa crer
que Jesus ressuscitou? Crer em sua ressurreição significa ter consciência de
que participamos da fé dos apóstolos. Cremos em seu testemunho. Nossa fé nos
liga a Pedro, a João, a Tiago, a Bartolomeu... Somos herdeiros de suas
convicções e de seu entusiasmo.
Crer na ressurreição de Cristo significa ter a
convicção de que ele está vivo. Porque ele ressuscitou, nos dispomos a escutar
seus ensinamentos, a viver como ele viveu e a segui-lo, dia por dia. Numa vida
conduzida por essa certeza, o pecado perde cada vez mais seu espaço. Cresce,
então, a dedicação pelos outros, fortalece-se o espírito de justiça e
fortifica-se o desejo de construir um mundo fraterno.
“Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o
ressuscitou no terceiro dia”. Se essa verdade nortear nossa vida, não há mais
dúvidas: entendemos o sentido da Páscoa.
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