Escrito por CNBB
Publicado: 25 Dezembro 2015
Categoria: Internacional
Ao presidir a missa de Natal nesta quinta-feira, 24
de dezembro, o papa Francisco falou sobre a cultura da indiferença e pediu
um estilo de vida marcado pela piedade, compaixão, misericórdia. Leia, abaixo,
a íntegra da homilia de Francisco.
SANTA MISSA DA NOITE DE NATAL
NATAL DO SENHOR
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Quinta-feira, 24 de Dezembro de 2014
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Nesta noite, resplandece «uma grande luz» (Is 9,
1); sobre todos nós, brilha a luz do nascimento de Jesus. Como são verdadeiras
e atuais as palavras que ouvimos do profeta Isaías: «Multiplicaste a alegria,
aumentaste o júbilo» (9, 2)! O nosso coração já estava cheio de alegria
vislumbrando este momento;
mas, agora, aquele sentimento multiplica-se, porque
a promessa se cumpriu: finalmente realizou-se. Júbilo e alegria garantem-nos
que a mensagem contida no mistério desta noite provém verdadeiramente de Deus.
Não há lugar para a dúvida; deixemo-la aos céticos, que, por interrogarem
apenas a razão, nunca encontram a verdade. Não há espaço para a indiferença,
que domina no coração de quem é incapaz de amar, porque tem medo de perder
alguma coisa. Fica afugentada toda a tristeza, porque o Menino Jesus é o
verdadeiro consolador do coração.
Hoje, o Filho de Deus nasceu: tudo muda. O Salvador
do mundo vem para Se tornar participante da nossa natureza humana: já não
estamos sós e abandonados. A Virgem oferece-nos o seu Filho como princípio de
vida nova. A verdadeira luz vem iluminar a nossa existência, muitas vezes
encerrada na sombra do pecado. Hoje descobrimos de novo quem somos! Nesta
noite, torna-nos patente o caminho que temos de percorrer para alcançar a meta.
Agora, deve cessar todo o medo e pavor, porque a luz nos indica a estrada para
Belém. Não podemos permanecer inertes. Não nos é permitido ficar parados. Temos
de ir ver o nosso Salvador, deitado numa manjedoura. Eis o motivo do júbilo e
da alegria: este Menino «nasceu para nós», foi-nos «dado a nós», como anuncia
Isaías (cf. 9, 5). A um povo que, há dois mil anos, percorre todas as estradas
do mundo para tornar cada ser humano participante desta alegria, é confiada a
missão de dar a conhecer o «Príncipe da paz» e tornar-se um instrumento eficaz
d’Ele no meio das nações.
Por isso, quando ouvirmos falar do nascimento de
Cristo, permaneçamos em silêncio e deixemos que seja aquele Menino a falar;
gravemos no nosso coração as suas palavras, sem afastar o olhar do seu rosto.
Se O tomarmos nos nossos braços e nos deixarmos abraçar por Ele, dar-nos-á a
paz do coração que jamais terá fim. Este Menino ensina-nos aquilo que é
verdadeiramente essencial na nossa vida. Nasce na pobreza do mundo, porque,
para Ele e sua família, não há lugar na hospedaria. Encontra abrigo e proteção
num estábulo e é deitado numa manjedoura para animais. E todavia, a partir
deste nada, surge a luz da glória de Deus. A partir daqui, para os homens de
coração simples, começa o caminho da verdadeira libertação e do resgate perene.
Deste Menino, que, no seu rosto, traz gravados os traços da bondade, da
misericórdia e do amor de Deus Pai, brota – em todos nós, seus discípulos, como
ensina o apóstolo Paulo – a vontade de «renúncia à impiedade» e à riqueza do
mundo, para vivermos «com sobriedade, justiça e piedade» (Tt 2, 12).
Numa sociedade frequentemente embriagada de consumo
e prazer, de abundância e luxo, de aparência e narcisismo, Ele chama-nos a um
comportamento sóbrio, isto é, simples, equilibrado, linear, capaz de individuar
e viver o essencial. Num mundo que demasiadas vezes é duro com o pecador e
brando com o pecado, há necessidade de cultivar um forte sentido da justiça, de
buscar e pôr em prática a vontade de Deus. No seio de uma cultura da
indiferença, que não raramente acaba por ser cruel, o nosso estilo de vida
seja, pelo contrário, cheio de piedade, empatia, compaixão, misericórdia, extraídas
diariamente do poço de oração.
Como os pastores de Belém, possam também os nossos
olhos encher-se de espanto e maravilha, contemplando no Menino Jesus o Filho de
Deus. E, diante d’Ele, brote dos nossos corações a invocação: «Mostra-nos,
Senhor, a tua misericórdia, concede-nos a tua salvação» (Sal 85/84, 8).
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