Entrada
de Jesus em Jerusalém
A
comemoração da entrada do Senhor em Jerusalém, com a bênção e a procissão dos
ramos, supõe a proclamação do Evangelho, que dá sentido ao ato litúrgico (Mt
21,1-11). O louvor público é o reconhecimento messiânico da pessoa de Jesus
(v.9), pela explicação bíblica, mais fácil, da relação do Messias com a
dinastia davídica. De fato, a saudação messiânica Hosana ao Filho de Davi
(v.9a), no ato de bendizer o que vem em nome do Senhor (v.9b), é a confirmação
do oráculo de Natã (2Sm 7,16), através do qual o povo espera e reconhece a
chegada daquele descendente privilegiado, cujo trono seria estável ou
permanente.
Entretanto,
Jesus parece preferir servir-se de outros textos escriturísticos para se deixar
reconhecer como Messias. Ao querer montar no jumento para entrar na cidade
(vv.2-3), assume a missão messiânica, descrita por Zacarias: Dizei à Filha de
Sião: eis que o teu rei vem a ti, manso e montado em um jumento, em um
jumentinho, filho de uma jumenta (v.5; cf. Zc 9,9-10).
Ao
contrário das expectativas normais de um rei poderoso e guerreiro, Jesus opta
por um messianismo anti-messiânico, por colocá-lo na via humilhante de
contradição: mansidão, pobreza, serviço. Escolhendo o jumento, não só relega o
simbolismo do cavalo, animal de porte e de guerra, expressão régia do poder, do
comando, da fortaleza, da nobreza e da beleza, mas também opta pelo seu
contrário, que é a manifestação da onipotência na fragilidade e da glória na
humilhação. Esta contradição, presente na entrada triunfal em Jerusalém, é a
própria maneira como, em obediência ao plano do Pai, exercerá nesta mesma
cidade da paz, a obra maior da libertação e da redenção dos homens, através do
caminho da cruz.
O
contraste da cena do Messias, aclamado pelo povo como descendente de Davi e
montado burlescamente no jumento, se evidencia no conjunto da própria Liturgia
de hoje, simultaneamente de Ramos e da Paixão. Com efeito, cessado o aspecto
triunfal da comemoração da entrada em Jerusalém, a Liturgia da Missa realça
apenas o caminho escolhido por Jesus para realizar sua messianidade: a entrega
à morte, e morte de cruz. O mesmo povo que o aclamara, aparece, então no
processo de sua condenação.
Este ato
contraditório se explica pelo messianismo anti-messiânico, ligado à pregação e
irrupção do Reino, que contraria os interesses dos poderosos. Rejeitando-se o
Messias, sua pessoa e sua mensagem, rejeita-se também o Reino que veio
instaurar através dos meios pobres, mas eficazes, que escolhera. A cruz e a
morte se colocam, então, no horizonte desta recusa do projeto messiânico: o
caminho do amor que se doa a Deus e aos homens, em prol da justiça e da paz,
através da mansidão e da humildade.
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