FONTE:
CNBB - Segunda, 14 Abril 2014 11:35
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)
Arcebispo de Palmas (TO)
A Semana Santa, para nós cristãos, é a semana mais
importante do ano. Como bem diz o nosso povo: “estamos vivendo os dias
grandes”. Esta Semana é grande porque nela celebramos o mistério da Paixão,
Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta Semana Deus manifestou
todo o seu amor pela humanidade e por cada um de nós. Com o apóstolo Paulo,
cada um de nós pode dizer: “Ele me amou e se entregou por mim” (cf. Gl
2,20).
A Semana Santa, que ora iniciamos, pode ser
considerada um manual de instruções para o cristão. Jesus pediu a seus
discípulos que preparassem, com todo esmero, a sua Páscoa e, com isso, nos
ensina hoje a fazer o mesmo. Vamos ler e meditar juntos o relato dos
preparativos da Páscoa de Jesus?
Assim descreve o evangelista Marcos:
“No
primeiro dia dos ázimos, quando se imolava a Páscoa, os seus discípulos lhe
disseram: ‘Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?’.
Enviou então dois dos seus discípulos e disse-lhes: ‘Ide à cidade. Um homem
levando uma bilha d’água virá ao vosso encontro. Segui-o. Onde ele entrar,
dizei ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a minha sala, em que comerei
a Páscoa com meus discípulos?’ E ele vos mostrará, no andar superior, uma
grande sala arrumada com almofadas. Preparai-a ali para nós”! (Mc 12b-15).
O apóstolo Paulo, por sua vez, lembra aos cristãos
da comunidade de Coríntios para não celebrarem a Páscoa com o fermento da
malícia e da perversidade (cf. 1 Cor 5,8). Não é esta uma orientação segura
também para nós hoje? É triste constatar que muitos cristãos hoje vivem a
Semana Santa com certa frieza e até na indiferença. A Semana Santa para nós, discípulos
de Jesus, não é uma espécie de “carpe diem” (um aproveitar o hoje). Não
é tempo para passear, pescar, se divertir, curtir a vida, relaxar, espairecer -
como se fosse um feriadão. Assim como os discípulos de Jesus, também nós hoje
devemos nos preparar bem para passar esses dias grandes na sua companhia. O
Papa Francisco se lamenta que “há cristãos que parecem ter escolhido viver uma
quaresma sem Páscoa" (EG 6). Contentam-se em celebrar uma Páscoa de
aparência, sem graça, sem vida e sem passagem da morte para a vida. O bom
cristão deve dizer com os cristãos de Abitine: “sem Eucaristia não podemos
viver”. Parafraseando, “sem Semana Santa não podemos viver”. Onde,
como e com quem vamos celebrar a Semana Santa deste ano de 2014?
Vejamos, então, os ensinamentos e as instruções que
a Santa Mãe Igreja nos proporciona na Semana Santa através de sua liturgia:
O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na
Semana Santa, a Semana em que Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência
terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser
pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre, atraindo a Si a
humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom da salvação. A
liturgia deste Domingo inicia-se com a bênção dos ramos e a procissão que
comemora a entrada triunfal de Jesus na Cidade Santa de Jerusalém, na qual é
acolhido como Rei. Na liturgia Eucarística, o Evangelho proclamado é a
narrativa da Paixão do Senhor. Somos convidados a entrar com Jesus no mistério
de sua paixão e aquecer o nosso coração com o amor que não tem fim, o amor de
Deus por nós. O ensinamento deste dia é que devemos acolher Jesus em nossa
vida, nos deixar atrair pela força do seu amor e trilhar o caminho alto que nos
conduz a Deus.
Na Quinta-Feira Santa inicia-se o Tríduo Pascal com
a solene celebração da Ceia do Senhor. O mistério Pascal é o mistério central
da vida cristã. Unidos a Jesus Cristo na sua Paixão, Morte e Ressurreição,
podemos também nós viver santamente nossa paixão, morte e ressurreição. Neste
dia Jesus instituiu o grande dom da Eucaristia e do sacerdócio ministerial.
Também neste dia Jesus lavou os pés de seus apóstolos e nos deixou o mandamento
do amor, nos ensinando, deste modo, a unir em nossas vidas, Eucaristia e
serviço em favor dos irmãos. Quem se senta à mesa da Eucaristia não tem o
direito de desprezar os pobres e marginalizados, nos quais Jesus se faz
particularmente presente (cf. (Mt 25,31-46).
A Sexta-Feira Santa é um dia inteiramente centrado
na cruz e na morte de Cristo. Não se celebra a Eucaristia neste dia. A
principal celebração deste dia é a celebração da Paixão que, é,
fundamentalmente, uma ampla celebração da Palavra que culmina com a adoração da
cruz e termina com a comunhão eucarística. Não é dia de luto pela morte de
Jesus. É a morte do Ressuscitado que celebramos, motivo pelo qual falar de luto
é inadequado. É também dia de jejum e abstinência. Somos convidados e
contemplar o mistério da morte de Jesus como mistério de amor infinito por nós.
Neste dia “o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se disse até
calar, nada retendo do que nos devia comunicar. Está sem palavra a Palavra do
Pai, que fez toda criatura que fala; sem vida estão os olhos apagados d’Aquele
a cuja palavra e aceno se move tudo o que tem vida” (Papa Emérito Bento
XVI, Verbun Domini, 13).
O Sábado Santo é considerado o dia do silêncio
litúrgico. A Igreja permanece em comunhão com o seu Senhor que repousa no
sepulcro. Por isso, neste dia não se celebra nenhum sacramento. O grande
símbolo deste dia é o Círio Pascal que entra solenemente no início da Vigília
Pascal, simbolizando Cristo, Luz do mundo, que dissipa as trevas do pecado. Na
liturgia da Palavra a Igreja proclama as maravilhas operadas por Deus na história
da salvação, começando pela criação do mundo e passando pela libertação da
escravidão do Egito. Maravilhas de todas as maravilhas é a Ressurreição de
Cristo. Esta é a noite da nova criação, do novo mundo recriado na luz da
ressurreição do Senhor. Esta Vigília se conclui com o “Aleluia”, canto, por
excelência, da ressurreição, e a Solene liturgia eucarística da Páscoa do
Senhor.
Domingo da Páscoa. A Páscoa é a festa da nova
criação. Jesus ressuscitou e nunca mais morre. A porta que dá acesso à nova
vida foi arrebentada. Na Páscoa, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Deus
disse novamente: “Faça-se a luz!” Antes tinham vindo a noite escura do Monte
das Oliveiras e da traição de Judas, o eclipse solar da paixão e morte de
Jesus, a noite do sepulcro e do silêncio. Mas, agora a criação recomeça
inteiramente nova. Jesus ressuscita do sepulcro. A vida é mais forte que a
morte. O bem é mais forte que o mal. O amor é mais forte que o ódio. A verdade
é mais forte que a mentira. O salmo desta liturgia canta: “Este é o dia que
o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”. A Ressurreição de
Cristo é o mistério fundante da fé cristã. Já bem dizia Santo Agostinho: “Crer
que Jesus morreu não é grande coisa. Isto até os pagãos professam. Grande coisa
é crer que Jesus ressuscitou. A fé cristã é a ressurreição de Cristo”. O
Ressuscitado vence toda forma de escuridão. Ele é o novo dia de Deus que dá
sentido pleno à nossa vida. Celebremos, portanto, nossa Páscoa na pureza e na
verdade. FELIZ PÁSCOA DE RESSURREIÇÃO!
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