Seg, 21
de Outubro de 2013 14:53 cnbb
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
No dia 8 de outubro, o papa Francisco anunciou a
realização de uma assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, de 5 a 19 de
outubro de 2014. Será a 3ª. assembleia extraordinária, desde que o Sínodo dos
Bispos foi criado por Paulo VI, no final do Concílio, em 1965. Já estava
prevista para outubro de 2015 a próxima assembleia ordinária do Sínodo, na
comemoração dos 50 anos da sua criação.
Aquela assembleia jubilar terá por tema
a pessoa humana e a família, já foi definido pelo papa Francisco: “Jesus Cristo
revela o mistério e a vocação da pessoa humana e da família”.
A assembleia extraordinária terá como tema: “os
desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Os temas são
semelhantes, mas o foco em 2014 serão os desafios pastorais para a
evangelização relacionados com a família, enquanto em 2015 estarão em pauta as
complexas questões antropológicas relacionadas com a pessoa e a família.
A escolha desse tema foi motivada pelos enormes
desafios pastorais que interpelam hoje a missão evangelizadora da Igreja no
campo da família; mas, sobretudo, porque a Igreja continua a colocar muito
valor na família, núcleo vital para a pessoa, a sociedade e a própria comunidade
eclesial. As crises que a família enfrenta têm consequências diretas na
transmissão da vida, da cultura e da fé.
Por isso, é mais que oportuno esse renovado esforço
para propor “evangelho da família” no contexto dos desafios que a família
enfrenta. A assembleia extraordinária do Sínodo terá o objetivo principal de
promover uma ampla tomada de consciência sobre as várias questões e situações
da família e que hoje interpelam a missão e a ação da Igreja.
Mesmo em ambientes cristãos, encontram-se cada vez
mais casamentos desfeitos e refeitos; uniões “de fato”, sem nenhum compromisso
formalmente assumido; há ainda as chamadas “famílias monoparentais”, de quem
vive a paternidade ou a maternidade sem casamento, nem convivência com o pai ou
a mãe dos seus filhos. Há ainda as situações dos filhos confiados aos avós, ou
das “mães de aluguel”; a poligamia continua a ser aceita em vários povos e
culturas; e há as uniões de pessoas do mesmo sexo, que pretendem ser
reconhecidas como casal e, muitas vezes, também adotam filhos...
Em muitos lugares propaga-se uma cultura
anti-casamento, anti-família e anti-natalidade, que diminuiu drasticamente;
enquanto isso, sobretudo no Ocidente, aumenta o número de idosos. Tudo isso
justifica bem que a Igreja volte uma renovada e especial atenção à família,
partindo da sua convicção de fé e da sua antropologia.
Internamente, a Igreja se vê diante da situação
dolorosa de muitos casais que, depois do fracasso do seu casamento, vivem uma
nova união mas, em consequência disso, não podem ter participação plena nos
sacramentos. Mas também se depara diante de casamentos celebrados sem fé e sem
a consciência do significado do casamento, nem do compromisso assumido... Há
ainda a necessidade de mais ampla assistência pastoral e jurídica para as
situações de nulidade matrimonial, de maneira que possam ser beneficiados os
casais diretamente interessados.
Ao mesmo tempo que a Igreja, a exemplo de Jesus
Cristo, precisa ter para com todos uma atitude de acolhida e de misericórdia,
ela não pode deixar de fazer um discernimento sobre o desígnio de Deus em
relação ao homem e à mulher e sobre o casamento e a família, para proclamar
esse desígnio salvador e chamar as pessoas a acolhê-lo como via justa para o
seu viver. As duas assembleias anunciadas do Sínodo dos Bispos terão muito
trabalho pela frente! E, assim queira Deus, trarão muitos frutos também.
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