Frei Gilberto Siqueira Alves, OFMCap.©
A Bíblia é a “Carta” de amor por excelência que
Deus manifestou para a humanidade. Foi escrita por muitos autores que partiram
da mesma fé, ou seja, muitas experiências bem peculiares relatadas em cada
conjunto de livros: Pentateuco, Livros Históricos, Livros Sapienciais, Livros
Proféticos, Evangelhos, Atos dos Apóstolos, Cartas Paulinas, Epístolas
Católicas e o Livro do Apocalipse. Temos aí o conjunto do Primeiro e Segundo
Testamento.
São situações permeadas e registradas à luz do Espírito Santo. Ao
ser conservada a história do povo de Deus para nossos dias percebemos que
também nós somos chamados à superação de tantas dificuldades que enfrentamos em
nosso cotidiano. Mesmo que sejam muitas as provações Deus caminha conosco. Isso
é fato! A Revelação de Deus à humanidade foi transmitida e registrada na Bíblia
em dois estágios diferentes e complementares: Tradição oral e escrita. Tais
experiências salvíficas não eram para ficar em um único período da história.
Quando meditamos a Palavra de Deus nos transportamos para a situação vivida
pela comunidade e nos indagamos acerca da mensagem que anima e estimula as
pessoas. Rezar com a Bíblia é um dos presentes que devemos dar ao nosso
coração. Como já dizia Santo Agostinho: “Vós o incitais a que se deleite nos
vossos louvores, porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto,
enquanto não repousa em Vós”.[1]
É claro que esse processo de memória e escrita foi realizado na parceria de
Deus com a humanidade. Por isso que chamamos história da salvação, dirigida a
todos nós seus filhos e filhas, muitas vezes ingratos e insensíveis.
A prudente mediação divina nos orienta: quando
lemos algo devemos estabelecer critérios para um melhor desempenho e
assimilação do que nos é fornecido no texto e sua aplicação na nossa história.
No campo religioso é de bom tom atitudes de oração, ruminação e assimilação das
inquietações propostas no texto sagrado, sempre guardadas as devidas
proporções. A partir dessas perspectivas vemos que quando a Palavra de Deus vem
ao nosso encontro não cabe a nós guardá-la, mas socializar as benesses advindas
de tão providencial gesto amoroso de Deus que nos quer cônscios de sua vontade
e plenos de seu amor. Estamos situados em uma determinada comunidade de fé.
Para facilitar elencamos algumas modalidades de leituras a serem evitadas para
não tirarmos a originalidade do texto sagrado, com suas respectivas intuições
existenciais e pastorais para os dias de hoje.
1
Leitura Fundamentalista: o texto genuinamente como se apresenta, literal
§ Só na Bíblia existe a ação única
de Deus e pronto
§ Só nela existe o conjunto de verdades sobre Deus
§ De cunho
anti-histórico, ou seja, tomado ao pé da letra sem a situação atual do seu
contexto. Quando se fecha aos sinais de Deus no cotidiano. Se mostra
anti-ecumênica
· Atitudes: alimenta o autoritarismo, cria
clima sectário, fechamento e intolerância religiosa: Mt 12,46-50; Mt
13,53-58.
2
Leitura Doutrinarista: o texto usado para justificar normas religiosas
Ø Busca de
doutrinas religiosas que eu preciso saber para me salvar
Ø Imagem de
Deus racional, regulador, alguém impositivo
Ø Exacerbada
preocupação em saber o que é a doutrina
Ø Primeiramente
a “doutrina” e depois a vida humana
· Atitudes: a Bíblia se torna elemento de
salvação de um grupo apenas, zelo exagerado pelas normas religiosas, esse
tipo de mentalidade pode gerar hipocrisia e de certeza única: Lc 6,1-5; Jo
8,57-59; (Jo 10,22-39).
3
Leitura Moralista: o texto para fins de julgamentos externos
Visão reducionista da realidade:
boa ou má
A Bíblia como manual de conduta
religiosa que todos os cristãos devem observar para não se condenarem
· Atitudes: a imagem de Deus é como alguém:
rígido, castigador, fiscal. Condenar / salvar. Isso gera deturpação dos
valores: Lc 5,27-32; Mt 9,9-13; (Mc 3,1-5).
4 Leitura
Intimista: o texto exclusivamente à luz de minha experiência “mística”
v Prevalecimento
exagerado do sentimento pessoal
v Vontade
direcionada através do sentimentalismo sem senso de razoabilidade
· Atitudes: minha
imagem de Deus é triunfalista, light, sou o centro do amor de Deus, visão
única e pessoal de Deus. “Ele me revelou...” Mt 17,4.
5 Leitura
Academicista: Justificar conhecimento intelectual ou defender racionalmente um
ou vários pontos de vista que me agrada
·
A Bíblia
como fonte de conhecimento intelectual apenas
·
Racionalização
do religioso em detrimento do espiritual
·
Tirar
dúvidas e satisfazer curiosidade intelectual para justificar algo
· Atitudes: limites sérios para atualizar a
Palavra de Deus, Bíblia como elemento prático, objetivo, mentalidade subjetiva
ou conceitual da realidade: Mt 11,25-26.
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