Qui, 17
de Outubro de 2013 09:39 cnbb
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Bispo de Jales (SP)
Em pleno mês missionário, temos neste dia 20 o Domingo das Missões, junto com o Dia da Infância Missionária. Tudo para destacar a importância da dimensão missionária da Igreja.
O destaque deste ano é dado, de novo, por uma
insistência do Papa Francisco. Ele propõe inverter na prática as prioridades.
Olhando racionalmente, não haveria dúvida em constatar que, eclesialmente,
primeiro vem a comunhão, depois a missão. Primeiro o chamado, depois o envio.
Primeiro somos discípulos, depois nos tornamos missionários.
Mas se conferimos mais de perto a dinâmica da vida
cristã e eclesial, percebemos uma espécie de inversão operacional. A missão
desencadeia um dinamismo, que acaba incidindo sobre a própria Igreja. Ela passa
a se regular em vista da missão que ela tem a cumprir.
Daí a insistência do Papa. É a missão que vai
desencadear e sustentar o processo de renovação eclesial. É retomando a missão
que a Igreja vai reencontrar sua própria identidade.
É por este prisma que o Papa Francisco avalia o que
aconteceu na Conferência de Aparecida. Ela se diferencia das outras
Conferências já acontecidas, em Medellín, Puebla e Santo Domingo. As outras,
culminaram num texto, com sua riqueza de conteúdo, mas também com seu risco de
esquecimento. Ao passo que em Aparecida o desfecho foi outro. Ficou
relativizado o texto, tanto que havia a hipótese de nem redigir texto algum.
Mas ficou ressaltado o compromisso com a missão, como foco a ser conferido, de
maneira dinâmica e permanente. A Conferência de Aparecida, de fato, convergiu
para, no seu final, lançar o desafio da “missão continental”.
Não estava ainda claro o alcance e a fisionomia que
poderia ter a tal de “missão continental”. E ainda não está. Mas o fato é que
Aparecida indicou para a Igreja o caminho certo para a sua constante renovação:
é o caminho da missão.
Quando colocamos a missão como nossa motivação,
entramos na área de competência da graça de Deus. Se é “em nome do Senhor” que
nos propomos a agir, é porque nos sentimos a serviço da causa do Senhor. Em
consequência nos colocamos na dependência da eficácia de sua graça.
Na história houve, certamente, alguns equívocos
sérios em torno da Evangelização. Dá para fazer uma importante constatação:
quando a Igreja fez da evangelização uma “conquista”, impondo sobre os povos um
domínio cultural e político, ela confiou no seu poderio humano, e não na força
libertadora do Evangelho. Assim fazendo, ela não anunciou o Evangelho
livremente, como São Paulo. Mas cobrou uma pesada conta, nem tanto em
benefícios que ela recebeu, mas no prejuízo que ela provocou nos povos, a quem
ela anunciou um “evangelho” deformado pela submissão exigida dos povos
“conquistados”.
Quando a Igreja não se deixa converter pelo
Evangelho que ela prega, ela acaba se pervertendo a si mesma, e aos povos por
ela “submetidos” a um evangelho deturpado.
É diante da missão que a Igreja experimenta a
absoluta necessidade de continuar se convertendo. Assim, a missão, voltada para
fora da Igreja, acaba se voltando para a própria Igreja, que se torna, também
ela, destinatária do Evangelho de Cristo.
De tal modo que, na Igreja, o chamado vem sempre
ligado ao envio, a comunhão é sempre vinculada à missão. Assim a Igreja é sempre
estimulada a levar aos outros o que ela mesma vive. O Evangelho anunciado
precisa ser um Evangelho vivido.
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