Seg, 14
de Outubro de 2013 13:51 cnbb
Dom Murilo Krieger
Arcebispo da Bahia (BA)
Arcebispo da Bahia (BA)
Em março de 1549, com a expedição do primeiro
Governador Geral, Tomé de Souza, chegavam a Salvador os primeiros jesuítas. Em
1563, em Roma, o jesuíta belga Jean Leunis fundou a primeira Congregação
Mariana, para fomentar a devoção à Virgem Maria e incentivar seus membros a
buscar a proteção dela. Em 1583, as Congregações Marianas começavam no Brasil,
precisamente no Colégio dos Jesuítas da Bahia, em Salvador, sob a
responsabilidade do Bem-aventurado Pe. José de Anchieta. No ano seguinte, o
Papa Gregório XIII deu sua aprovação oficial a esse movimento eclesial, que
passou a contar com o apoio oficial da Igreja.
As Congregações Marianas nasceram num ambiente
caracterizado pela valorização do lugar de Maria na obra da salvação. A partir
do século XII, com a multiplicação dos estudos mariológicos, seu papel passou a
ter um lugar de destaque não só na espiritualidade cristã, mas, também, na
literatura e nas artes. Para os jesuítas, a devoção mariana era e é vista como
um caminho rápido e seguro para se chegar a Cristo; seu fundador, Inácio de
Loyola, atribuía à Virgem Maria a própria conversão.
As Congregações Marianas, escolas de piedade e vida
cristã, deram à Igreja, até o presente, pelo menos 62 santos canonizados e 46
bem-aventurados, 22 fundadores de Institutos Religiosos, inúmeros mártires e
missionários e uma multidão de leigos de vida cristã exemplar. De 1567 até
agora, entre os 31 Papas que ocuparam a Cátedra de São Pedro, 25 eram
congregados marianos, inclusive o Beato João Paulo II que, aos 14 anos, foi
membro-fundador de uma Congregação Mariana em sua cidade natal, e Bento XVI,
que pertenceu à Congregação de Regensburg. Interessante: em março deste ano,
quando as Congregações Marianas celebravam os 450 anos de sua fundação, foi
eleito Sumo Pontífice o congregado mariano e jesuíta Papa Francisco.
As Congregações Marianas buscam levar seus membros
a uma doação solene e irrevogável à Santíssima Virgem, reconhecendo-a como
senhora e soberana, oferecendo-lhe todos os momentos da vida. Procuram
aproximar-se dela para serem totalmente de Cristo. Afinal, ninguém como Maria
soube imitar e agradar tanto a Jesus. Essa ideia de oferecimento e dom total a
Maria pode levar algumas pessoas a se perguntarem: é lícito fazer isso? É
conveniente tal entrega a Maria?
Oferecer-se a Maria, na linha do que pretendem as
Congregações Marianas, é entregar-se totalmente a Deus, como ela o fez,
conforme sabemos de sua resposta ao anjo Gabriel: “Eis aqui a serva do Senhor.
Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38); é imitar o gesto do apóstolo e
evangelista João que, no Calvário, tendo ouvido as palavras de Jesus – “Mulher,
eis aí teu filho... Eis aí tua mãe” (Jo 19,26-27) – acolheu Maria em sua casa;
é acolher Maria na própria vida; é aceitá-la como dom de Jesus, dado num
momento muito especial, como foi o da Cruz; é reconhecer que somos seus filhos;
é refugiar-se sob a sua proteção, vivendo a experiência de Jesus em Belém, no
Egito, em Nazaré...; é renovar os votos batismais, respeitando, pois, a única
mediação de Cristo.
Aquele que coloca sua vida sob o manto de Maria
passa a conhecer melhor as características que marcaram seu jeito de ser: a
disponibilidade (“Eis aqui a serva... Faça-se...”); o serviço (“Foi às pressas
às montanhas, a uma cidade de Judá...”); a centralidade em Cristo (“Fazei o que
ele vos disser”); a unidade com o Filho (“Junto à cruz de Jesus estavam de pé a
sua mãe, a irmã...”); o apelo para trabalhar contra o pecado e suas causas, a
favor da vida e a serviço da esperança; o empenho em favor dos necessitados; o
trabalho para que cresça sempre mais o reino de Cristo, razão de ser da vida de
Maria.
Por isso, louvo e agradeço a Deus pela presença das
Congregações Marianas na Igreja e, particularmente, nesta Arquidiocese de São
Salvador da Bahia. E parabenizo a Câmara dos Vereadores de Salvador que, a partir
de uma iniciativa do Vereador Joceval Rodrigues, dedicou uma sessão especial a
essa humilde e importante escola mariana.
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